Um projeto documental diferencia-se de uma mera imagem
Gênero antigo e cheio de possibilidades, a fotografia documental é um instrumento importante no registro do homem e sua passagem pelo tempo. Com forte caráter de comprovante da existência de um fato, costuma ter, como seu próprio nome indica, o principal objetivo de documentar uma época ou realidade.
Mas, diferentemente do fotojornalismo, cujo viés de apreensão da realidade mantém seu interesse na notícia e sua essência na informação dos fatos como finalidade primária, a fotografia documental abrange uma grande variedade de propostas, desvinculadas do senso de urgência e instantaneidade do gênero jornalístico.
De cunho cultural, artístico, histórico ou social, sua abordagem propõe-se a seguir um tema ou história ao longo do tempo, destacando narrativas através de uma sequência de imagens e permitindo um aprofundamento muito maior do que uma única fotografia destinada a sintetizar um assunto.
Martin Parr, “The Last Resort”. 1983-85. Martin Parr, “The Last Resort”. 1983-85. Martin Parr, “The Last Resort”. 1983-85. Martin Parr, “The Last Resort”. 1983-85.Um projeto documental diferencia-se de uma mera imagem ou de um conjunto de fotografias interessantes justamente porque se compromete a discutir uma situação. E é aí que encontra, também, sua classificação como um material de características próprias, elevando-se em relação à interpretação de que toda e qualquer foto é um documento e uma representação da realidade de determinado tempo. Pois a fotografia documental não se resume à produção de imagens, mas sim, à geração de reflexões a respeito do homem, seus espaços e sua condição na sociedade.
Essa prática, que teve seu modelo consolidado por volta dos anos 1930, quando os pioneiros do documentarismo John Thomson, Jacob Riis, Margaret Sanger e Heinrich Zille uniram sua paixão pela fotografia com o desejo de trazer à tona cenas do cotidiano e problemas sociais, ganhou notoriedade com a criação, em 1947, da agência de maior prestígio do mundo fotográfico, a Magnum Photos.
Fundada por Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, George Rodger e David “Chim” Seymor, muito marcados pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial, a Magnum nasceu para permitir que eles e os grandes fotógrafos que se seguiriam pudessem trabalhar fora das fórmulas de jornalismo de revista. Contribuindo de forma indiscutível para documentar visualmente a história do mundo na segunda metade do século XX, a Magnum anuncia-se como uma cooperativa fotográfica de grande diversidade e distinção, de propriedade de seus fotógrafos-membros, que, com uma visão individual poderosa, narram o mundo e interpretam os seus povos, eventos, questões e personalidades.
Henri Cartier-Bresson, China. 1958. Cornell Capa, California. 1960.Para colocar em foco realidades muitas vezes ignoradas e amplificar uma diversidade de perspectivas, o fotógrafo documentarista precisa se envolver com os assuntos que registra, entendendo suas nuances e enxergando além de generalizações e estereótipos, tornando-se mais sensível aos contextos culturais, sociais e políticos nos quais está inserido. Um dos maiores desafios da fotografia documental recai, por exemplo, na abordagem das pessoas fotografadas, e na sua representação ética, completa e fundamentada.
A fotografia documental, em sua vasta gama propostas, alia o registro documental à estética para fazer uma mediação entre homem e o seu entorno. Traz à tona faces desconhecidas para problematizar a realidade social. Narra histórias até então ignoradas para aprofundar nossa compreensão e conexão emocional com a realidade que nos cerca. Faz, de pernas inquietas e olhos atentos um grande instrumento nas mãos de um fotógrafo e seu recorte particular.