Tina Gomes e a fotografia como arma contra a depressão
A fotografia já nos mostrou ao longo dos anos várias histórias emocionantes e uma especialmente dolorosa veio à tona nos últimos meses personificada na imagem da fotógrafa Tina Gomes, que é moradora do bairro Cidade Tiradentes, na periferia da zona leste da cidade de São Paulo; semianalfabeta, autodidata, esquizofrênica, mãe de cinco filhos e em quadro de depressão que após perder (ainda no parto) a filha que sofria de anencefalia, agravou-se mas a luta travada pela grande fotógrafa (sim, ela é uma grande fotógrafa pelos seus feitos) é uma verdadeira lição para todos nós. Tina, a personagem principal desta história, nos ensina que é possível vencer a depressão ou, pelo menos, combatê-la e a saída que ela encontrou para isso foi impressionante: fotografar. Mesmo sem nenhum conhecimento teórico e equipamentos mirabolantes, ela foi capaz de criar um estilo próprio e encantar quem visse suas fotos. Essa é a arte em sua essência.
A ex-cobradora de ônibus começou a ganhar notoriedade quando foi descoberta por Coninck Junior, do Portal Photos, analisando trabalhos em grupos de fotografia no Facebook. A conversa que eles tiveram pode ser conferida na íntegra aqui, mas algumas fortes declarações de Tina Gomes precisam ser repetidas:
“Comecei a fotografar na minha primeira crise de depressão. Nessa época, eu trabalhava como cobradora de ônibus, às vezes de 12 a 16 horas, rodando pela capital paulista. Um dia, muito agoniada, vi as minhas sombras refletidas na parede, gostei muito e comecei a me fotografar.”
“No nono mês da minha gravidez, fiz um ultrassom e descobri que minha bebê que iria se chamar Luz Maria, sofria de anencefalia (doença caracterizada pela ausência total do encéfalo e da caixa craniana do feto). Quando nasceu, ao cortar o cordão umbilical, ela faleceu. Me fechei no meu mundo e continuo fechada até hoje, não tenho necessidade de sair da minha casa. Hoje, a fotografia é a maneira que encontrei de pedir socorro ao planeta.”
“Estou desempregada, meu convênio foi cortado pela prefeitura e a minha família depende de doações de alimentos para sobreviver. É triste, mas é a realidade. Não faço fotos para os outros se sentirem felizes, muito menos pra agradar a alguém, muito pelo contrário, faço estas imagens para me libertar de cada dor, cada sofrimento, cada noite de fome… Me liberto a cada dia e em cada retrato.”
A sua filha falecida no momento em que se cortou o cordão umbilical, que se chamaria Luz Maria, é homenageada em um ensaio que retrata toda a dor da mãe em que a própria Tina Gomes foi clicada pelo pai de sua filha, Rafael Armond: “Pedi ao Rafael que fotografasse a minha dor, pois eu não me conformava e não aceitava a morte da minha filha. Dirigi toda a cena, ajustei a máquina e ele fez os cliques”. Abaixo, algumas imagens deste ensaio e outras podem ser conferidas aqui:
E uma mostra de 12 fotografias de sua filha Sophia, de 12 anos, está em cartaz até o dia 10 de janeiro de 2015 no Conjunto Nacional, Avenida Pàulista 2073, São Paulo. A exposição chamada “Sonho de Sophia” está aberta de segunda a sábado, das 7 às 22h, e aos domingos, das 10 às 22h, com entrada gratuita. Outra exposição da fotógrafa de 39 anos está acontecendo na lojaaovivo.tv até 21 de dezembro, também com entrada gratuita.
Todas as imagens da matéria são de autoria da fotógrafa Tina Gomes
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