A todos os fotógrafos cegos desse mundo: toques sobre a cegueira por equipamentos
Dariana Araújo discute a cegueira por equipamentos, em detrimento da fotografia com sentimento.
Ler escutando (repetidamente): “Movin On Up” (Primal Scream)Há quem se irrite em ver alguém relacionando uma boa foto a um equipamento.
E essa mesma pessoa ainda compra uma câmera nova, achando que as fotos vão melhorar por isso. Fotógrafos assim nascem todos os dias, colocam seus nomes no facebook e compram, trocam, vendem para comprar de novo, com a esperança de que ‘agora não vai ter pra ninguém’’… Tolo.
É fácil fazer uma bela foto. Com a composição, iluminação e direção certa. Difícil é fotografar o que não se vê. O amor não está escondido na sua nova 85mm f1.2. Um instante não foi parar na sua 70-200mm f2.0, e eu tenho certeza que essa 35mm f2.0 não é a responsável pelos 4 segundos de respiração suspensa.
Já é surrada a frase de que bolso de fotógrafo não se ocupa, e talvez essa seja a razão principal dessa baixa de qualidade dos últimos tempos.
É amigo, é duro ter que ouvir, mas eu tenho vinis empoeirados que te ensinarão bem mais que aquela objetiva de R$ 6.500,00. Conheço uma vitrola descascada que poderia te cantar conselhos antigos bem mais valiosos que a sua 6D. Posso te apresentar pessoas que fazem versos em rimas baratas e vão abir a sua perspectiva em uma distância real bem maior que o seu sensor full frame.
O que faz a qualidade daquela fotografia que te enche os olhos, o coração e os pulmões?
Todos os eventos são realizados para celebrar algum sentimento. Casamento fala de amor, aniversário festeja a vida, uma gestante registra o seu momento de renovação, esperança, vida nova.
Antes de se tornar um fotógrafo bom, saiba que o amor pela fotografia é o que menos te ajuda.
Ame a vida, antes de tudo. Os dias, as horas, e os momentos escondidos nos segundos. Ame as pessoas, o vizinho, o padeiro. Saia de casa para olhar o céu, leia um livro que fale de amor e outro que ensine receitas, porque não? Dê bom dia com um sorriso, cumprimento quem não conhece você, vá ao cinema, ao tetro, a pracinha, a esquina, ande de bicicleta, de patins, de skate, de um pé só. Faça um desenho, olhe no rosto de quem está ao seu lado e descubra um detalhe que você nunca viu, descubra um talento novo, e se não houver, invente um. Beije, soe, faça sexo na escada, aprenda uma música em outra língua, tenha amigos e até use filtro solar (como conselha sabiamente o Pedro Bial).
Faça algo que te inspire, e que expire algum sentimento, seja ele qual for, como for e quando for. A qualidade da obra depende da sensibilidade do artista. Invista mais na vida, e entenda que no amor e na fotografia, sempre há o que se aprender.
Tag:cego, cegueira, critica, emoção, equipamentite, equipamento, síndrome, sentimento