
O lado ácido da fotografia: Smash the cake? Desperdício não é fofo
Smash the cake: a moda que não deveria ter sequer começado
Que a fotografia tenha fases nas quais determinados estilos sejam adotados, especialmente ao lançarem-se novas tecnologias e/ou métodos, é compreensível. O que parece-me incompreensível — e até insensato — é que hoje em dia uma moda seja desperdiçar comida para provocar “fofura”.
Sim, eu sei que bebês são fofos e os bolos/tortas das fotos nas sessões de smash the cake são muito bonitos (ou pelo menos costumam ser, antes do estrago). Aliás, aos novatos nessa história ou no inglês, a expressão smash the cake traduz-se por “esmague o bolo” e consiste em ter um bebê… esmagando um bolo (duh!). Não precisa explicar mais o conceito e as decorrências, de tão ululante e dolorosa que é a obviedade aqui. E é óbvio que esta modinha fotográfica não deveria sequer ter começado, pois envolve algo muito sério, e não falo de ter que dar banho no bebê após a melequeira toda (isto também demanda gasto de água, mas é inevitável para um ser que não tem ainda muito controle de suas funções fisiológicas, convenhamos). Falo, isso sim, do bolo esmagado e, obviamente estragado. Um bolo como esse da foto abaixo, você comeria? É o que digo: comida perdida, jogada fora.
Fala-se muito das fotos em revistas de moda, beleza e afins com apologias à magreza e por vezes um estímulo a dietas insanas para atingir corpos irreais moldados no Photoshop. No entanto, quando o problema não é o uso indiscriminado de Photoshop e afins, e sim fotos que envolvem bebês fazendo “bebezices” — mesmo que seja estragando comida — parece ocorrer uma imensa vista grossa em nome da “fofura” das imagens (fofas na opinião lá de quem gosta e pede tais fotos). No final das contas, pratica-se uma lógica semelhante à da magreza extrema e dos espartilhos: caminhos errados para fins grosseiros.
Chega a ser curioso que, em tempos de ações cada vez mais sustentáveis, seja cada vez mais popular justo uma modalidade fotográfica baseada em algo que, convenhamos, não passa de desperdício de algo crucial para a humanidade. Em outras palavras, só posso dizer aos novos pais que interessarem-se por esta modinha tão “interessante” quanto funk ostentação: seus bebês são lindos, mas deixem essa ideia pra lá, que é muito feia, OK? que procurem saber se o/a fotógrafo(a) procura não desperdiçar, ao invés de focar apenas nas fotografias, porque, afinal, ser fotógrafo não é apenas ajeitar umas luzes e apertar um botão, concordam?
Post-scriptum 08/12/14, 7:30h
Tendo em vista os comentários recebidos aqui e em outros lugares, esclareço alguns pontos rapidamente:
- Fiquei feliz em ver que há profissionais que tratam de não desperdiçar em tais sessões. Adoraria receber mais depoimentos positivos nesse sentido.
- Da mesma forma, um dos comentários recebidos aqui, da Nina, expõe certas vantagens à criança de uma brincadeira como a do smash the cake. Não dispensam certas responsabilidades, mas são muito legais.
- O desperdício que falo, como é possível perceber numa leitura atenta, é de comida, não de dinheiro.
- Ética, moral e/ou respeito ao meio ambiente independem de ganhos financeiros nesta ou em qualquer área.
- Gosto de crianças, sim. Mas não acho que uma sessão de smash the cake seja a única forma de produzir fotografias infantis alegres.