Sean Lotman e os seus habitantes solares…
Aqui em terras nipônicas, quando penso em comprar equipamento fotográfico digital novo (i.e. modelos recentes) eu sempre volto os meu olhos para o trabalho de um grande fotógrafo “analógico”e amigo: Sean Lotman.
Para produzir suas obras, Sean se baseia no trinômio filme/cores vibrantes/intensidade, elementos que produzem um universo surreal e metafórico do país que o acolheu: o Japão. O próprio fotógrafo define a sua maneira de enxergar o mundo e representá-lo como “Humanismo Psicodélico” e faz todo o sentido (!) quando nos deparamos com a estética do seu trabalho que dificilmente os pixels conseguiriam transmitir, verdadeira obra de um artesão da imagem.
Natural de Nova Iorque (1975), crescido em Los Angeles, Sean mudou-se para o Japão em 2003, morou em Tóquio e atualmente vive na “antiga capital” japonesa, a fotogênica Quioto, fotografando e escrevendo, além de passar o tempo com a sua jovem família. Produzindo sua obra a partir de câmeras analógicas (Nikon Fe, Contax T3 e Diana F+) e filmes em cores, como por exemplo o clássico e saudoso Kodachrome, o fotógrafo tem como foco, além do Japão, outros países como Índia, Vietnan, Egito, Guatemala entre outros, ou seja, um viajante nato.
Nesta coluna gostaria de fazer uma breve análise da sua primeira monografia fotográfica entitulada Sunlanders (Bemojake, 2016) e que tenho aqui em mãos. Inicialmente, ao traduzir o título do inglês, preferi pela versão em português “Habitantes solares”, penso que ela define muito bem a estética das imagens no livro. O título é perfeito, pois representa o universo da terra do sol nascente a partir do olhar (e das mãos) do autor-fotógrafo de forma diacrônica, impactante e intuitiva. Desde a seleção das imagens produzidas no Japão até construção de uma narrativa cujo os sunlanders nipônicos são o leitmotiv, a obra apresenta, além das cores vívidas tecnicamente muito bem trabalhadas (assinatura do autor), uma densidade que vai além da fotografia de rua ou candid, as imagens nos transportam a um universo que para mim – morando a mais de seis anos no Japão – parece familiar e ao mesmo tempo distante. Os azuis intensos do Kodachrome aliados aos amarelos, ora pungentes, ora “delinquentes”, saturam nosso olhar de forma bela, onírica. A presença de espaços negativos (em japonês: 間, Ma) em tons claros iluminando os recantos de algumas imagens nos dão a sensação de tranquilidade quase passiva, construindo um universo próprio que nos remete a um outro planeta ou seria um dos vários “Japões”??
Não há banalidades nas fotografias produzidas por Sean, as sobreposições, os reflexos, a profusão de tonalidades, as faces nipônicas par excellence seduzem o nosso olhar, a sensação tátil reforça o poder criativo do autor-fotógrafo. Penso que os exemplos postados nesta coluna dão uma ideia do que tento descrever. O “Japão” de Sean não se encaixa na minha ideia de “Japão” (de forma alguma!) e aí, para mim, está um dos pontos altos da obra. A sensação de estranhamento/fascinação cada vez que vejo estas imagens, seja separadamente ou em conjunto na obra, elas me induzem a questionar o universo nipônico em que vivo e tento traduzir em imagens, verdadeiro desafio na arte da “F”otografia analógica.
Tomo a liberdade de fazer uma harmonização músico-fotográfica aqui: cai bem folhear calmamente o livro ao som das trilhas sonoras Solaris Theme (Edward Artemiev – 1972) e Waltz (Toru Takemitsu – 1966). Trilhas que amplificam as imagens no que elas tem de essencial: uma psicodelia evanescente.
Um livro de um artesão da imagem para os amantes da fotografia analógica (ainda) produzida de forma dedicada e artesanal nos dias de hoje. Indispensável! Esqueça por um momento os pixels, os Photoshops/Lightrooms e Apps da vida e apenas delicie-se com o universo analógico-surreal dos Sunlanders…
Obs. Todas as imagens postadas aqui são de autoria e propriedade intelectual de Sean Lotman© 2016
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