O preço mínimo desta fotógrafa é zero
Entrevista do PhotoShelter com a fotógrafa Natalie Brasington sobre preço zero e quando aplicá-lo
por Allen Murabayashi,
via Photoshelter Blog
Natalie Brasington é uma fotógrafa de publicidade e entretenimento baseada em Nova York que clica para uma variedade de clientes, incluindo Comedy Central, Pantene, DirecTV, Details e Rolling Stone. Ela conversou numa discussão em mesa-redonda com o PhotoShelter sobre precificação, e ficamos intrigados com sua abordagem e perspectiva.
Equipe PhotoShelter: Você é uma fotógrafa bem-sucedida com trabalhos que alcançam dezenas de milhares de dólares. Ainda mais, você disse que sua taxa mínima é zero, e daí falou sobre “saber qual sua finalidade”, e como uma sessão com taxa zero apoia ela. Pode elaborar?
É importante pra mim pensar em longo prazo. Tenho um senso de pra onde quero que minha carreira vá e que tipo de fotos eu gostaria de ser bem-paga para tirar. Eu tenho uma espécie de mindset “vista-se pro trabalho que você quer” quando estou decidindo quais trabalhos pegar.
Quero realçar rapidamente a diferença entre um trabalho de baixo orçamento e uma exploração. Se eu percebo uma situação de “rebaixamento” onde um cliente apenas choraminga apenas pra ver se consegue que alguém barateie, vou provavelmente correr, se não puder reformular a situação para algo em que eu gostaria de trabalhar.
Eu faço uma distinção mental entre “valor” e “preço”. Se um trabalho tem grande valor pra mim — se pretendo colaborar e lançar mão de uma direção criativa, se o modelo é alguém com quem desejo trabalhar, se a ideia combina com minha estética, se há outros grandes criativos envolvidos no projeto, então provavelmente serei mais flexível quanto ao preço.
Penso que todo trabalhador fotógrafo também pega trabalhos que “pagam as contas”, em todo nível do jogo. Mas os fotógrafos que admiro pegam os trabalhos que os ajudam a definir quem eles são e usam desse momentum para impulsionar suas carreiras numa direção que lhes interesse e seja lucrativa. Se for algo que querem clicar, o fazem. Por vezes abri mão de parte de minha taxa aplicando no orçamento da produção para fazer com que a sessão se encaixasse em meus padrões.
Minha esperança é que qualquer um que olhe meu site não consiga distinguir entre os trabalhos que foram bem fundamentados dos que implorei, pedi emprestado e roubei pra fazer acontecer. Eu sei o que quero a longo prazo e pergunto-me sempre que recebo uma oferta de trabalho: “Esse é um trabalho que vai me ajudar a chegar lá?” — quando a resposta é “sim” eu pego o job.
EPS: Pode nos dar alguns exemplos de risco calculado de pagamento zero pra você?
Meu primeiríssimo trabalho profissional foi trabalhando num programa da MySpace TV que a Amy Schumer apresentava. Tivemos sucesso nisso e ela pediu-me pra fotografar alguns pôsters pra companhia de teatro que ela é cofundadora, [chamada] The Collective. Nem falamos em dinheiro, eu não esperava ser paga, o que era perfeito uma vez que a companhia estava apenas começando e realmente não tinha muitos fundos o bastante por ora. Eu só queria trabalhar mais com essa mulher incrível, então aceitei sem pensar duas vezes. Alguns meses depois de nosso primeiro trabalho juntas Amy me pôs em contato com seu colega comediante Anthony Jeselnik que precisava de uma imagem de capa para seu Comedy Album. A sequência toda de eventos me levou ao Comedy Central e desde então tenho experiências maravilhosas trabalhando com vários comediantes que amo, muitos deles que foram imensamente generosos em posar pro meu projeto autoral em andamento Comedians in Public Bathrooms (Comediantes em Banheiros Públicos).
Tenho um certo natalismo: “Às vezes a melhor coisa a saber não melhora nada”. Esse foi um dos momentos. Eu não sabia o que esperar ou como tocar um negócio ainda e de um jeito irônico sou realmente grata por aquilo. Eu apenas sabia que fotos eu queria no meu livro.
Corri alguns riscos calculados, colei em artistas talentosos e estou feliz com o que fiz.
EPS: Você tem exemplos onde taxa zero/reduzida não funciona? Como você determina o risco?
Um par de verões atrás dirigi um clipe de música que provavelmente nunca vai ver a luz do dia. Contratei um grande diretor de produção e fui bastante franca e honesta quanto a meu nível de experiência. Usei cada dólar do orçamento na produção e então quando estouramos o tempo, tive que pagar gente da equipe do meu bolso pelas horas extras. Usei meu próprio dinheiro pra trabalhar de graça num projeto que provavelmente nunca será finalizado. O que aprendi foi que não posso servir sempre champanhe num orçamento pra cerveja e distinguir entre as vezes em que aquela participação pode ser descartada e quando não pode é imensamente importante. Aprendi que às vezes você precisa dizer pro seu cliente “Não, não podemos proporcionar isso… mas aqui está algo que podemos dentro desse orçamento.”
ESP: Você teve celebridades lhe pedindo uso gratuito de suas imagens para relações públicos, e você deu a volta pedindo-lhes para promover suas causas não-lucrativas. Pode falar sobre essa abordagem de “permutação” e a dor de cabeça de acompanhar o uso pra algo como isso (isto é, isso não vale $400)?
Tem vezes que sei o que alguém é capaz e deseja pagar por meu trabalho e aquele número está desvalorizado, então procuro trabalhar na situação de forma que nos faça sentirmos todos valorizados. Em um caso perguntei sobre o uso de imagens pra RP de uma sessão e no lugar de enviar um instrumento de taxa de licenciamento, pedi à celebridade pra ajudar a promover o Art Start Portrait Project nas redes sociais. Eu dei também com alegria imagens para comediantes usarem em autopromoção e em troca pedi pra eles posarem no meu projeto pessoal, em vez de fazer permuta com seus agentes de uma maneira desconfortável.
EPS: Quando alguém chega até você com um pedido de avaliação para algo que você nunca fez antes (exemplo, uso em série como propaganda em elevadores), como você faz pra determinar o preço?
Falo com meus maravilhosos agentes, Mat Coogan e Darren Jordan da Anyway Reps. Eles trabalham com grandes fotógrafos e clientes e possuem uma rica experiência em precificar todo tipo de trabalho.
EPS: Qual o valor dos projetos pessoais?
Inestimável. Essenciais. Encorajo todos a trabalharem em projetos pessoais. De que outra maneira seus clientes vão saber o que está em seu coração e sua alma e que tipo de imagens você de fato quer produzir? m trabalho pessoal me guiou para alguns jobs realmente maravilhosos. Acho que é importante estar constantemente produzindo um novo trabalho, daí você terá sempre algo pra mostrar aos seus clientes que eles não viram ainda, e assim podem pensar sobre você e sua gama de habilidades de novas formas.
EPS: Qual foi a gênese do Art Start?
Na primavera de 1991 um punhado de artistas juntou-se a crianças sem-teto para fazer arte na cidade de Nova York. Pelos últimos 25 anos o Art Start aproximou artistas profissionais a jovens em abrigos de sem-teto, trabalhando em alternativa aos programas de carceragem, ou quem esteja de alguma forma desassistido. Meu marido, parceiro fotógrafo David Johnson, e eu conhecemos o Art Start quando fizemos um trabalho/espaço de sessão vizinho ao estúdio deles lá em 2008. Começamos nos voluntariando pra eles tirando fotos de jovens em vários programas e fazendo mentoria no Art Start Youth através do programa E.A.R.. Em 2013 Johanna de los Santos e Hannah Immerman, as diretoras executivas, chegaram até nós para nos voluntariarmos fazendo alguns retratos de família em um abrigo elas estavam conduzindo workshops. Ambos aceitamos e eu fui pra lançar um esforço advocatício em escala total, o que tornou-se o Art Start Portrait Project. O projeto emparelha fotógrafos profissionais com artistas de maquiagem e cabelo com jovens do Art Start e famílias para produzir imagens que mostram como como eles querem ser vistos.
EPS: Como você valora seu trabalho sem lucros?
Também é invalorável. Eu tenho uma pequeníssima esfera de influência neste mundo e trabalhar com o Art Start é uma forma que consegui de viver meus valores. Espero que depois de muitos anos de trabalho duro eu possa ser considerada uma voz prolífica no mundo da fotografia. Eu também sou apaixonada por diversificar a indústria. Precisamos de mais mulheres e pessoas de cor tomando decisões e produzindo imagens. E, honestamente, todos os homens brancos que conheço e que trabalham em fotografia concordam comigo. É totalmente nossa responsabilidade exercitar nossa influência e viver nossos valores. Falar é fácil. Aja.
Fui enganada na primeira vez que botei o pé num set de fotografia profissional. Não podia acreditar que esse mundo existia e que eu poderia ser parte dele. Sou grata pela oportunidade de expor jovens artistas para esse mundo que amo tanto e deixar que soubessem que estava ali pra eles pegarem, eles pertenciam ao assento de diretor tanto quanto os outros. Aqueles que estejam lendo isso e concordem comigo: eu te encorajo a agir. Dê uma chegada em [projetos] não-lucrativos (como o Art Start em art-start.org) e veja como estender oportunidades aos jovens aos quais eles servem. Pergunte aos diretores do programa quais barreiras seus jovens sofrem e crie um plano de ação para quebrá-las. Coisas simples como fornecer um cartão de metrô para um interno pode abrir portas que de outras maneiras ficariam fechadas. Nós no Art Start acreditamos que a arte salva vidas. Se você acredita, aja. Se não estiver em uma posição de ser mentor, pode fazer com que programas como esse sejam possíveis contribuindo na campanha doação mensal do Art Start. O Art Start pode planejar mais programações robustas para a juventude sabendo que terão suporte contínuo.
Para quem quiser conhecer mais do trabalho de Natalie Brasington, pode acessar seu site.
A entrevista foi condensada e editada pelo PhotoShelter.