Porque fazer fotos de graça? E porque não fazer?
Vamos refletir um pouco agora sobre a questão do trabalho gratuito, da foto grátis. Vamos levantar algumas questões e entender os dois lados da moeda a fim de elucidar um pouco o pensamento de quem está começando ou já começou, mas ainda atua nesta prática da gratuidade para conseguir alguma coisa na fotografia.
Primeiro, antes de tudo, gostaria de deixar bem claro que meu pensamento sobre a gratuidade do serviço ou produto oferecido não cabe nem ao fotógrafo amador e muito menos, óbvio, ao profissional. Posso ter acabado de comprar minha câmera, mas se alguém me solicita fazer fotos de alguma coisa só porque eu tenho a câmera então já é um serviço. Não entrarei na questão da qualidade e que isso pode ser um tiro no pé também, mas se por força maior você se meter nesta encrenca, cobre! Veja, não sou entregador, mas se eu comprar uma moto e alguém me pedir pra entregar uma pizza eu digo que sim, que entrego, e que custa x. Se eu for questionado por ter acabado de comprar a moto e não ser um entregador eu respondo, com educação, claro: Sim, não sou um entregador, então vai lá e entrega você mesmo.
Hoje em dia todo mundo tem uma câmera fotográfica e se você não sabe usar a sua, apele pro “verdinho” (modo automático). Isso é humilhante no mundo da fotografia, mas é menos humilhante que fazer um serviço de graça. Veja, não é da qualidade do seu equipamento que estou falando, muito menos das suas fotos caso você esteja iniciando na fotografia agora. Estou falando de um serviço! Ficar lá, no evento, fazendo foto para os outros. Ir até uma praça e fazer fotos de uma garota. A turma do skate. O bebê da vizinha. Não importa. Você está TRABALHANDO! Mesmo que seja um serviço porco, o qual quero enfatizar aqui que não é o motivo do texto, portanto, estou considerando a hipótese de você trabalhar porcamente sem questionamento algum.
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Está começando então? Não tem ninguém pra fotografar? Acha que a primeira pessoa que te pedir uma foto será sua única chance fazer um teste? Ansiedade mata viu gente! Calma! Muita calma nessa hora. Existem sim oportunidades que simplesmente aparecem e você deve aproveitá-las com responsabilidade, ou seja, se for capaz, faça, senão, não faça e ponto final. Porque existem também as oportunidades criadas (as quais eu utilizo 99% das vezes) e estas são inesgotáveis, pois é de inteira responsabilidade sua criá-las e pode criar quantas você quiser.
Vamos analisar alguns pensamentos sobre o assunto e ver os prós e os contras.
Fazer fotos dos amigos, vizinhos e familiares de graça poder ser interessante para mostrar meu trabalho.
Esta é super fácil. Qual trabalho? Que eu saiba todo trabalho é remunerado a não ser trabalho escravo o qual você só é mantido vivo e se comparar ao fazer fotos de graça, este último é pior, pois em poucos dias você vai morrer de fome e ninguém te pagará nada para sobreviver. O máximo que pode acontecer é esse pessoal te chamar sempre para as festinhas dos filhos, batismo ou reuniões de natal, ter você como “melhor amigo”, mas sempre, quando receber o convite, escutará algo do tipo: Adoraríamos que você viesse ou participasse deste evento, traga sua câmera para fazer ótimas fotos! E só. Nada de dinheiro.
Dizem que o boca a boca é o melhor marketing que existe. Se eu fizer alguns trabalhos de graça eles vão espalhar a notícia e terei muito clientes.
Certamente que sim. O boca a boca é uma das melhores ferramentas de marketing de todos os tempos… o problema aqui é a informação que será transmitida, pois no boca a boca você não tem controle sobre a informação e as pessoas podem resumir, aumentar, distorcer, etc. Agora imagine o boca a boca de um serviço gratuito: “Nossa, conheço um fotógrafo amigo meu que faz fotos de graça”. Em pouco tempo terá uma fila de pessoas te pedindo fotos de graça e o que era sonho passou a ser pesadelo.
Antigamente a gente gastava com filme, revelação, provinhas, hoje não, é tudo digital e não custa nada fazer uma foto.
Tem certeza que não custa nada? Minhas câmeras custaram um monte de notas. Minhas lentes também. E meus acessórios! E meus livros! Será que o curso de fotografia entra aqui? Os congressos que participei? E o simples fato de eu estar lá, trabalhando, não vale nada? Um segurança, que fica parado no mesmo lugar durante a festa toda cobra! Não se trata do arquivo, da possibilidade de transmiti-lo via wi-fi gratuitamente logo após ter feito a foto ou se vai enviar por e-mail. Se trata de como consegui chegar ao ponto de fotografar e ter o produto que o seu cliente deseja em mãos e a oportunidade de efetuar sua primeira venda e, do nada, puft, você joga tudo pro alto fazendo o serviço de graça. Isso chega a ser incompreensível! É quase um suicídio fotográfico!
Ah é que fotografar esta modelo será uma ótima oportunidade para que eu possa testar e praticar minha luz e minhas habilidades.
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Sinto em te informar, mas é meu dever fazer isso. Você nunca vai aprender tudo sobre a fotografia. Cada lugar, cada pessoa, cada objeto ou situação tem sua particularidade, sua própria fotografia, e você terá que reinventar técnicas, descobrir possibilidades, resolver conflitos técnicos, práticos, pessoais e profissionais. Portanto, não ter familiaridade com uma técnica, um tipo de iluminação ou um cenário, não é justificativa para não cobrar. Nós aprendemos, inclusive, muito mais quando estamos trabalhando pelo peso que a responsabilidade exerce sobre nós, nos fazendo superar limites e descobrir soluções que nunca imaginamos ser capazes de realizar. Teste sua luz sim! Teste tudo! Mas cobre! Por isso a importância de se investir em um bom curso de fotografia antes de sair por ai aceitando serviços. E ainda há a questão de que, se você aceita um serviço, seja ele pago ou gratuito, ainda é um serviço e deve ser realizado com profissionalismo, pois o cliente passa a ter direito de reclamar sobre seu serviço a partir do momento que você diz: Sim, eu faço! E não a partir do momento em que ambos assinam um contrato. Orçamento, que não é contrato, já dá problema, imagina dizer que faz. Nossa! É sair do espeto e cair na brasa.
É que eu ainda estou estudando e não tenho um portfólio. Assim que eu acabar o curso e tiver o portfólio, ai sim eu começo a cobrar.
Hummm… isso tá me cheirando a desculpa. Veja, você teve tempo suficiente para construir um portfólio básico durante seus estudos. Se não o fez, das duas uma: Ou você não estava interessado em fotografar, portanto, não entendo porque está insistindo, ou você não fez um bom curso e neste momento deve ter lembrado com raiva daquele curso baratinho virtual que você pagou para… nada. O portfólio de um fotógrafo é sempre renovado, pois como já disse nós nunca sabemos tudo e aprendemos em cada trabalho uma coisa diferente, fazemos fotos melhores a cada dia que passa. Não ter uma foto parecida com a de um fotógrafo famoso e renomado não te faz um incapaz de vender o seu serviço, mas te dá parâmetros para você focar seus estudos e traça um caminho para sua caminhada rumo ao sucesso. Já vi gente vendendo seu primeiro ensaio via mímica: Seu álbum vai ser deste tamanho oh, vai abrir assim e o pôster vai ser maior, deste tamanho aqui oh (tudo gesticulado).
Agora, a parte dolorida, onde separa muito bem as coisas e coloca tudo no seu devido lugar. Se você é um fotógrafo amador e está pensando: Mas eu não quero ser profissional, não quero trabalhar com fotografia. Ótimo! Se você tem outra renda e consegue adquirir seus equipamentos com facilidade, perfeito! Só não se esqueça de duas coisas: Primeiro – Se é amador e não está realizando um serviço, não está trabalhando pra ninguém, então as fotos são suas, somente suas e não devem ser entregues para os outros, pois o “entregar o produto” caracteriza, automaticamente, um trabalho, um comércio, uma relação profissional, mesmo que não haja valores envolvidos. E você pode ter problemas até quando faz de graça, pois o fato de se gratuito não justifica a má qualidade de um produto e repercute mal entre seus clientes em potencial. Segundo – Pense duas vezes antes de aceitar realizar um serviço de graça, pois você pode estar interferindo no trabalho de outro fotógrafo, um profissional, que vive da fotografia, que necessita daquela grana do serviço para poder alimentar-se e à sua família, para repor seus equipamentos que são absurdamente caros e uma infinidade de coisas que uma pessoa comum necessita para viver. O respeito é uma das características primordiais neste meio, pois todos estão te vendo (até porque você mesmo vai querer aparecer para o mundo em busca de clientes) e quando você mais precisar vai encontrar várias portas fechadas, pois eles lembrarão de você, o cara que fez o aniversário do fulaninho, o casamento da ciclana e o batismo do beltrano de graça, aquele pessoal que estava fazendo um orçamento comigo e me dispensou porque ele ofereceu o serviço gratuitamente. Nós precisamos de ajuda o tempo todo! É difícil ter tudo que precisamos, até porque tem coisas que precisamos muito pouco, mas precisamos, uma lente específica, um par de flashes a mais para um determinado ensaio, acessórios diversos… é comum contarmos com a ajuda de outros fotógrafos, um empréstimo daqui, outro auxílio dali, um freelancer acolá, e é assim que a coisa funciona. Portanto, nada de sair por ai trocando os pés pelas mãos, iniciando sua carreira de forma completamente errada e o pior, armando a armadilha para você mesmo cair nela.
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É difícil sim, como qualquer outra profissão. É caro, leva tempo e precisa de muita determinação. Não aumente as dificuldades gratuitamente, você já terá muitas para superar pagando caro. Minimizar as dificuldades é o que vai te dar espaço para tomar mais decisões certas e trará os resultados que você tanto espera na fotografia.