Por que você não deveria se preocupar com equipamento
A Síndrome da Aquisição de Equipamento não é exclusiva dos fotógrafos. Mas é sempre fácil cair nela.
via Marcos Olegário – Fototekne
Há uma tendência certa na fotografia hoje em dia: a gente se preocupa demais com o equipamento. Demais, mesmo! E para o quê? O quê há a ganhar? Por quê é que, verdadeiramente, não nos deveríamos preocupar tanto com o equipamento?
Escravos técnicos?
Os escravos técnicos é uma novela do norte-americano Peter Kapra. Não é uma grande novela, certamente, mas seu título teve o efeito de me ter deixado intrigado já no começo da minha adolescência e transcrever, de uma forma resumida, uma das minhas principais preocupações como fotógrafo. É que os fotógrafos hoje nos estamos tornando escravos técnicos? Escravos da técnica, mesmo — assumindo que a técnica seja, para já, a tecnologia?
Repare nisso: há até uma enfermidade relacionada com isso! A síndrome de aquisição de equipamento, que o Cid Costa Neto, do magnífico Resumo Fotográfico explica assim: “O termo não é muito comum no Brasil, mas ficou popular nos Estados Unidos após artigo escrito por Walter Becker para a revista Guitar Player em 1996 como ‘Guitar Acquisition Syndrome’ (Síndrome de Aquisição de Guitarra). O termo passou a ser usado frequentemente por guitarristas e se espalhou a outras profissões com tendências similares como no caso da fotografia. Como deixou de se referir apenas a guitarristas, a palavra ‘Guitar’ deu lugar a ‘Gear’”.
Com efeito, há quem sofra dessa síndrome, que leva compulsivamente a adquirir novo equipamento, nem se sabe muito bem com que intenção verdadeira. Me pergunto, por isso, se no caso que nos ocupa, a fotografia, não será que essa síndrome está relacionada com uma patologia não diagnosticada, e que tem mais a ver com uma concepção errada do que é fotografar.
Segundo essa ideia, a fotografia — todo o que ela seja— estará dependendo dos equipamentos, de possuir a última inovação tecnológica, a última e mais potente câmera, a mais rápida e luminosa lente… Uma teoria da fotografia que deixa as pessoas lá no fundo do acidental, exatamente igual que aparecem na publicidade dos fabricantes. O que é isso? Estão nos dizendo: é essa câmera que faz a foto!
Fotógrafos vs. equipamento
E, todavia, me recuso a crer que o equipamento faça o fotógrafo. Não! O equipamento não faz o fotógrafo como o computador não faz o escritor. Houve escritores antes do que computadores. Ainda mais: houve escritores antes do que máquinas de escrever. E, enfim, houve fotógrafos antes de haver teleobjetivas, câmeras GoPro, cartões wifi, fotômetros e megapixels. Antes disso todo havia fotógrafos. Grandes fotógrafos! Havia grandes pessoas que viam na frente de seus olhos uma cena, uma iluminação, um motivo, e sabiam como disparar, o quanto abrir o diafragma, o quanto deixar o obturador aberto. Para não falar da sensibilidade necessária para esperar o momento justo em lugar de ficarem disparando em modo contínuo, à toa, como já quase todos terminamos fazendo…
Um dia um amigo me disse: não se preocupe com o equipamento. Você tem uma câmera, as fotos virão. Meu amigo não é fotógrafo e por isso, no primeiro, eu não dei qualquer importância a seu conselho. Mas, sabem?, meu amigo é baterista. E ele bate em qualquer coisa acompanhando música. Fazendo música! Mesmo que nem haja uma bateria em quilômetros, ele faz sua arte. E nós, fotógrafos, é que necessitamos a última maravilha tecnológica? Ou é que necessitamos equipamentos tão polêmicos como a Hasselblad Lunar, só para poder dizer que os possuímos? Como intuía Cortázar, eu me pergunto: quem possui quem?
É certo. Neste blogue [o Fototekne] estamos também mostrando como comprar uma câmera. Até estamos elaborando um Guia de Sobrevivência relativamente a isso, porque em muitos casos é mesmo uma questão fulcral. Ainda, no futuro, certamente iremos tratar também algumas dicas para comprar objetivas e outros acessórios fotográficos. Não ficar colados exclusivamente ao tecnológico de nossa profissão não significa nos retirar para uma montanha como os eremitas doutras épocas. Mas onde está o equilíbrio?
E também me pergunto, será que estou ficando derrotista demais? Será isso? O que vocês acham?
agradecimentos a Alex Barbosa Nóbrega,
por compartilhar o texto