Por que é importante a leitura de imagens fotográficas?
Em A Filosofia da Caixa Preta, Vilém Flusser compara o fotógrafo a um caçador em meio a tundra. A diferença é que, em vez da floresta, o fotógrafo se movimenta na “floresta densa da cultura”. Ao escolher, ou melhor, capturar com seu gesto o que deseja retratar, o fotógrafo está codificando tais condições culturais. Assim, para Flusser, não existe ingenuidade na fotografia, e, mesmo nas fotografias de crianças ou turistas, existe uma intenção. E é essa intenção que é conotada e forma a mensagem fotográfica.
Qual é a intenção do olhar que quer transcodificar para as fotografias? Além do domínio da técnica do aparelho fotográfico, o fotógrafo precisa, antes de tudo, conceber sua intenção estética, política, seja qual for o objetivo a ser perseguido pelo seu trabalho. A mensagem fotográfica está carregada de significações e mesmo que não haja um código comum para toda e qualquer fotografia, ela é passível de ser interpretada e lida. Então, é possível aprender a ler imagens e a fabricá-las também.
Quem sabe escrever, sabe ler, mas quem sabe fotografar e domina a técnica do aparelho fotográfico nem sempre sabe como fazer a leitura das fotografias produzidas por si mesmo. O aparelho fotográfico está sempre sedento por mais fotografias e exige de seu possuidor que aperte constantemente o gatilho. O fotógrafo não sabe mais olhar, a não ser de dentro de seu dispositivo e fotografa automaticamente.
Como observar a fotografia e fazer sua leitura
De modo resumido, a fotografia é apreendida por nós em três níveis: em primeiro lugar, toda a foto produz em nós algum tipo de sentimento. Em segundo lugar, vemos a foto, identificamos aquilo que foi retratado e o motivo pelo qual foi fotografado, e, em terceiro, fazer a leitura dos elementos que foram utilizados para a feitura daquela fotografia, como luzes, linhas, direções, sombras, volumes, etc. A técnica, junto ao objeto e tema escolhidos para serem retratados formam um conjunto, assim como em um arranjo musical.
Todo fotógrafo tem predileção por retratar determinados temas e situações. O conjunto de suas fotografias passa a ter uma marca estilística e com uma rápida visualização da foto é possível identificar sua autoria. Tomemos por exemplo Henri Cartier Bresson, o fotógrafo francês, ficou conhecido por retratar o instante decisivo na cena, o momento certo, no lugar certo. Sua marca autoral está presente em toda sua obra, como cenas de rua, retratos e coberturas históricas.
A linguagem fotográfica, este saber “ler e escrever” a fotografia, dá conta dos elementos técnicos, do domínio da aparelhagem e depende de uma boa sintaxe, ou seja, da estruturação de todos os componentes, além da sensibilidade do seu autor, que deve “recortar” o espaço e tempo buscando comunicar uma intenção ao seu receptor. Em um universo de imagens como o nosso onde tudo não passa de simulacro é fundamental que o fotógrafo, agente produtor de imagens, desenvolva um trabalho único e singular, carregado de sentido.