O lado ácido da fotografia: Não deixe fotógrafos lhe subestimarem só porque você é jovem
por Olivia Paige, via PetaPixel (texto original) e O fabuloso mundo das imagens (tradução)
Desde o primeiro momento em que fui para a Milford Photo buscando uma câmera profissional para comprar no inverno de 2011 fui exposta a constante julgamento de que eu seria uma rica, estúpida e mimada de 13 anos de idade que queria uma câmera cara para fazer fotos “artísticas” que eu não saberia como fazer.
Ao contrário das crenças da sociedade, eu não me encaixo nesse estereótipo, de nenhuma maneira, forma ou configuração. Infelizmente, sou associada a esse estereótipo porque este é a visão que a sociedade escolheu para observar e exagerar.
Aparentemente, hoje e nesta época, câmeras profissionais são usadas por “profissionais”, ou [como diz o dicionário] substantivo: pessoa contratada ou qualificada em uma profissão — neste caso, fotografia. Mas onde está a anotação de idade específica que diz que você não pode ser jovem?
Pois é, não há.
No entanto, hoje em dia a sociedade acredita que para você ser de fato um profissional precisa ser velho (ou no mínimo mais velho que 13 anos) e conhecer todas pequenas coisas que está fazendo e como fazê-las perfeitamente, enquanto, claro, possui todo o equipamento dos sonhos que supostamente representa seu nível de habilidade. Reciprocamente, que mais que definitivamente não é o caso.
Um cenário predominante é ir a uma loja de câmeras na esperança de comprar uma câmera.
Suponha que eu entre numa loja, com a idade de 15 agora, e peça para comprar uma pequena câmera point-and-shoot na minha cor rosa favorita. Vai ser dada a mim, e, provavelmente, a menos cara.
Agora suponha que eu vá a mesma loja, com a mesma idade, e peça pela oh-mas-que-cara Nikon D4, uma das mais profissionais câmeras no mercado atual — por suas características e e o nível de habilidade que ela pede para uso. Eu seria questionada sobre por que eu precisaria dela, se eu saberia usá-la, avisada do preço alarmante e provavelmente seria ofertada uma câmera menor, menos cara e fácil de usar.
Agora suponha que um alto executivo entre na mesma loja e faça o mesmo pedido.
Primeiro, com a point-and-shoot, ele seria questionado se aquilo seria mesmo o que queria, lhe seria mostrado um modelo mais caro e provavelmente lhe seria ofertada uma câmera mais profissional e avançada. Se ele perguntasse pela Nikon D4 ou a Canon topo de linha equivalente [nota: seria a Canon 1D X] ela seria posta em suas mãos sem dúvidas da parte dos vendedores.
Agora, vejamos do que nós dois precisávamos.
Eu estava buscando um upgrade para minha Nikon D3100, uma câmera de nível profissional, mas alguns degraus abaixo da D4. Sou uma fotógrafa de shows e esportes, usando minhas fotos para um site, um portfolio e para vendas para financiar minha câmera e lentes.
Venho utilizando câmeras profissionais há 2 anos, e foi dito por meus colegas, bem como experientes e bem informados fotógrafos mais velhos que eu superei minha câmera e a usei no ponto máximo em que minhas habilidades não poderiam mais desenvolver-se e serem mostradas, assim como elas estavam sendo limitadas pelo que a minha câmera era capaz de produzir.
E fui questionada pelos vendedores sobre por que eu precisava da D4 e se eu sabia usá-la?
Agora vejamos o executivo. Ele era um fotógrafo amador, clicando somente por passatempo paralelo à sua reputação em Wall Street. Ele precisava de uma pequena câmera point-and-shoot, com a qual ele pudesse andar pela cidade e em casa, capturando memórias de suas crianças e família. Ele não tinha razão de pegar a Nikon D4, todas suas necessidades era uma câmera para manter o ritmo de seu estilo de vida e seus filhotes enquanto eles viajavam pelo Disney World numa viagem de férias da familia. Alguma coisa que todos na família pudessem usar, que fosse fácil de entender e pudesse fazer as poucas coisas que ele necessitava que ela fizesse.
Então por que ele foi questionado sobre se queria ou não a câmera mais avançada do mercado e não apenas dada a pequena point-and-shoot que ele havia pedido? Teria sido porque ele estava num terno e com jeito de quem tinha dinheiro para gastar? Ou seria porque ele não sabia o que queria e aparentemente alguém com cara de profissional como ele necessitou de uma grande câmera dos sonhos?
Existe uma diferença entre idade e habilidade que representantes de vendas possam notar na pessoa que pergunta sobre a câmera? Não, não há.
No entanto, de alguma forma, em todo lugar que eu vou eu sou confrontada com os mesmos olhares de julgamento e pessoas pensando que eu não deveria estar lá ou que eu não deveria ter o equipamento fotográfico que eu tenho.
No dia 17 de abril de 2012 enfrentei esse estereótipo no mais límpido dia de sol possível. Eu obtive um passe para um grande show e estando para entrar no prédio com o passe fui questionada pela segurança e outros fotógrafos se eu pretendia realmente estar ali, como eu cheguei no local e daí meu nome para que eles pudessem verificar.
Depois que leram meu nome na lista mestre de fotógrafos comprovados, recebi olhares e questionamentos sobre como aquilo tinha acontecido. Os pensamentos eram claros naquela noite, como eu tenho olhares e rostos perplexos quando eu fiz o meu trabalho tirando fotos para o jornal da escola.
As expressões demonstravam olhares intrigados com, para começar, como eu obtive um passe de fotógrafa, seguidos da impressão de que minhas fotos na certa seriam absoluta m***a e que eu não tinha ideia do que eu estava fazendo com uma câmera profissional da Nikon.
Fiquei tensa com o ambiente ao redor, pensando que os outros fotógrafos e jornalistas tinham muito mais experiência e habilidade do que eu tinha, e fui intimidada quanto ao que pensei que era o poder e a perícia.
No dia seguinte, publiquei minhas fotos. Algumas horas depois, recebi uma solicitação de amizade de um fotojornalista top da cidade de Fairfield. Aceitei, sem saber o motivo de seu pedido, e naveguei por suas fotos da noite anterior.
O que vi foram rostos borrados, iluminação pobre, imagens fora de foco e superexpostas que eu nunca esperaria de um fotojornalista superior como ele. Continuei em busca de outro fotógrafo que estava lá e observei imagens similarmente problemáticas. Eu então comecei a receber comentários atrás de comentários do fotógrafo elogiando minhas imagens e perguntando-me como eu dei “cliques verdadeiramente surpreendentes e notáveis”.
A influência constante da sociedade levou-me a pensar da mesma maneira que os fotógrafos “profissionais” pensavam de mim. Eu pensava que eles eram fotógrafos de destaque que adquiriram a câmera dos desejos para ter o título.
Pareciam escritores oficiais dessas publicações grandes, e eu esperava resultados de cair o queixo. Mas eles não eram tudo isso. E eles pensaram que eu ia ter fotos terríveis, porque eu tinha 15 anos e fotografava para o jornal da minha escola. Pensaram que eu tinha a câmera para me amostrar, que eu não sabia como usá-la, e que eu não deveria estar lá. Em ambos os casos, o oposto era verdade.
A visão da sociedade sobre idade versus nível técnico e a lógica de produção das câmeras profissionais tem guiado a conclusões de discriminação alheia. Sim, ainda que tenhamos a mesma câmera e equipamentos não significa que que sou menos talentoso por conta da minha idade.
Experiência é tudo, e simplesmente ver uma pessoa com uma câmera não o torna capaz de fazer o que é produzido por ela.
Grandes fotógrafos surgem de trabalho duro, persistência e determinação para o sucesso e tentativas falhas pelo caminho, não apenas mágica ao estalar silencioso do obturador. Embora seja verdade que alguns adolescentes têm câmeras profissionais simplesmente porque podem, é importante dar uma olhada em sua experiência antes de referir-se a eles meramente como mimados e ignorantes.
E o mesmo vale para os adultos: só porque você tem o equipamento não significa que você automaticamente está em vantagem perante os outros.
Trabalhei duro para provar que o estereótipo da sociedade é falso, e no final das contas acredito que se um adolescente demonstra dedicação e perícia em sua arte e fotos, elas merecerão uma chance no por vezes desdenhoso mundo da fotografia e das câmeras profissionais.
Sobre a autora: Olivia Paige é uma foógrafa de 15 anos de idade que atualmente atende a The Taft School, em Connecticut. Você pode visitar seu site aqui e sua conta no flickr here.
Agradecimentos a Acauã Borges, por preciosa ajuda na tradução