Meus pais são fotógrafos, meus pais são artistas
“…todo aquele que cuida de uma criança deve conhecê-la e trabalhar com base numa relação viva e pessoal com o objeto de seus cuidados, e não aplicando mecanicamente um conhecimento teórico”. – D.W. Winnicott
Antes de qualquer coisa, sintam-se avisados que ao me referir à fotografia estou falando da fotografia artística, em todo o artigo.
Pelo que venho estudando sobre a criança e praticando fotografia, percebo que existe um meio bastante genuíno da criança existir, sim, é na fotografia, sem ocultamentos ou burocracias, na fotografia a criança é o que ela quer ser, o ideal de quem fotografa, e o ideal de quem se identifica com a imagem. A criança na fotografia não é aquele objeto científico de estudo, muito menos uma estatística, não é algo manipulado e submisso pela religião, a criança na fotografia é um objeto de arte, ela tem nome, ela existe, dá de perceber suas invisíveis asinhas bem vivas pulsando.
Recorro-me aqui a frase de Márcio Scavone, que todo retrato é um autorretrato, podemos ampliar isso, toda obra de arte é um autorretrato do artista que a produz. Roland Barthes afirma que a fotografia é uma prova real que naquele exato momento de tempo algo aconteceu.
As fotos escolhidas não seguem uma ordem hierárquica, não tomem a seleção como algo definitivo e absoluto, pois as fotos selecionadas falam de mim. As fotografias são de meus amigos no Flickr, que acompanho há algum tempo, consequentemente pais das crianças fotografadas.
Não pretendo dar respostas para a questão da criança, mas sim abrir questões a serem analisadas, sendo que existem infâncias e infâncias, e tentar adentrar nas fotografias com uma análise mais profunda, sendo que as imagens tem tom de utopia, de um ideal de infância, mas o ideal pode sim existir, precisamos dele para sobreviver, é necessário sonhar.
As imagens neste caso vão muito além da neurótica preocupação com técnica, pois a fotografia para os pais fotógrafos pode se remeter a busca de algo perdido, o retorno a sua infância, e que o genitor encaixe como um meio simbólico de representação de uma continuidade de vida, além do fator biológico, transformando também em uma obra de arte, algo para ser visto e publicado, além disso, significa amor, liberdade e imortalidade, e dentre outros elementos.
O extremo da dor seria o impedimento dos pais de fotografarem seus filhos, algo pior que a morte. O direito de fotografar ainda não foi nos tomado, felizmente!