João Guedes – Dono de uma sensibilidade única
João Guedes, fotógrafo do Paraná, dono de uma sensibilidade única, criador do projeto Diários, que retrata mulheres em sua intimidade. Conversamos com ele para saber um pouco mais do seu trabalho:
Quem é João Guedes?
Sou fotógrafo, tenho 36 anos e no momento vivo em Londrina-PR. Além da fotografia, a música e o cinema são minhas duas outras grandes paixões. Também curto muito viajar e não consigo ficar muito tempo no mesmo lugar, estou sempre me mudando. Adoro trocar idéias… e falo muito mesmo, sobre tudo, o tempo todo, rs.
Como e quando começou a fotografar? E por que escolheu essa área?
Comecei a fotografar em 1998 um pouco antes de entrar no curso de marketing e propaganda na universidade. Sempre gostei muito de fotografia, especialmente por causa da minha paixão por cinema. Mas diferente do cinema, a fotografia me atraía por sua capacidade incrível de capturar momentos únicos e de contar grandes histórias uma imagem. Em 2006 comecei a trabalhar profissionalmente como fotógrafo publicitário e nos últimos dois anos passei a me dedicar mais à fotografia de retratos.
Se pudesse definir o projeto Diários em uma só palavra, qual seria?
Acho que seria Intimidade.
Algo presente e muito forte no projeto Diários é o clima de intimidade e ao mesmo tempo naturalidade. Como se dá o processo pra extrair isso?
A beleza feminina é naturalmente sensual, e está presente não somente nas suas formas, mas em gestos simples como mexer no cabelo, na forma como se senta, ou como arruma a lingerie. Não acredito que seja necessário transforma-la, basta apenas permiti-la mostrar-se como realmente é. Acredito que a forma como planejo o ensaio, desde as reuniões à escolha de locação e figurino, colabore com o clima íntimo das imagens. Isso não só gera a expectativa correta na modelo, como também me permite conhecê-la melhor para que a direção seja feita de forma natural.
Durante o ensaio gosto de fotografar à uma certa distância, como se estivesse entrando na sua intimidade sem ser percebido. As locações também tem um papel muito importante. Gosto de ambientes reais, vivos e que possuam boa iluminação natural que possa ser controlada e usada de forma mais pontual. Dessa maneira consigo valorizar a beleza nas formas com simplicidade.
Falando nesse primeiro contato, como ele é feito? Você acha importante e possível encontrar a modelo pessoalmente antes ou apenas uma conversa virtual já é o suficiente? E até que ponto esse processo de antes do ensaio influencia no durante?
Para mim esse processo é essencial pois me ajuda a definir a direção artística do ensaio. A escolha da locação, do figurino, da maquiagem, e até o teor sensual do ensaio é definido à partir desse primeiro contato. Normalmente, se possível, marcamos uma reunião, pois prefiro conhecer a modelo pessoalmente para saber quais são suas expectativas, o que ele fica confortável em expor e também para falar um pouco da forma como trabalho, como é minha direção e quais são as minhas expectativas.
Se você tivesse que escolher um estilo somente de foto pra fazer o restante da vida, qual seria e por que?
Não sei se poderia escolher um estilo de fotografia específico para fotografar o resto da vida. Posso dizer que gostaria de fazer retratos enquanto for possível. Gosto muito de retratos femininos, mas também me sinto atraído pela espontaneidade da fotografia de lifestyle e pela profundidade na narrativa da fotografia documental. Ainda não tive a chance de experimentar em muitas áreas da fotografia, mas me sinto muito realizado em fotografar os ensaios do Diários e com certeza me vejo fotografando pelo resto da minha vida.
O que mais te inspira?
Me inspiro em tudo, nos lugares onde vivi, nas pessoas que conheci, nas músicas que ouvi minha vida inteira, nos filmes que assisto, nos fotógrafos com quem já trabalhei, em galerias do Instagram, em grandes fotógrafos e em fotógrafos não tão famosos.
Nas tuas fotos, há mais de você ou das pessoas que retrata?
Com certeza há muito dos dois. Tento sempre retratar a essência verdadeira da pessoa que fotografo. Esse é o ponto de partida de todo ensaio. Por outro lado há muito de mim, ou melhor, do meu olhar, da forma que eu enxergo a pessoa retratada.
Qual seria seu maior sonho dentro da fotografia?
Fotografar o que gosto e poder viver disso o resto da minha vida.
Se tivesse um patrocínio para o projeto Diários, onde usaria esse apoio?
Usaria em primeiro lugar para pagar os custos de produção dos ensaios, em especial as pessoas envolvidas diretamente com o projeto, como modelo, produtora, maquiadora e assistente. Em segundo lugar gostaria de ter recursos para poder viajar, fazer o “scouting” das locações e fotografar em diferentes cidades e países. Usaria esses recursos também para produção de material como exposições e possivelmente um livro sobre o projeto.
Quais são suas maiores referências visuais dentro da fotografia?
Acho que como todos, me inspiro nos trabalhos de grandes fotógrafos como Yousuf Karsh, Mary Ellen Park, Patrick Demarchelier, Annie Leibovitz, Alex Webb, mas também me inspiro em fotógrafos da minha geração como Hannes Caspar, Asher Moss e Fer Juaristi.
E por fim, qual recado que queria deixar para os leitores do Fotografia-DG. Dicas para quem se identifica com teu estilo, ou somente algumas considerações finais.
Eu diria para que se descubram como fotógrafos, fotografem aquilo que realmente amem fotografar – esse processo às vezes leva tempo e muitos erros e acertos – e não façam primeiramente pelo retorno financeiro ou pelo reconhecimento, pois eles serão naturalmente o resultado do esforço da fotografia feita genuinamente.
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