Identidade. A sua fotografia tem?
Photoshop. Lightroom. Aperture. Três principais softwares de edição de imagens. Qual usar, realmente não importa. Entraríamos no velho mérito da discussão Canon x Nikon. Não importa com qual máquina você fotografa ou com qual software você edita suas imagens. O importante é o resultado obtido com o equipamento e conhecimento que você tem. Se o Photoshop é melhor ou não, também não quero entrar no mérito.
Quando escrevi o título desse artigo não me referi à identidade como estilo fotográfico. Isso cada fotógrafo tem o seu. Me refiro aqui à identidade como trabalho fotográfico editado. Um ensaio propriamente dito.
Quando vamos fazer um ensaio, ou qualquer outro tipo de trabalho que tenha um início, meio e fim, é preciso que ele tenha uma identidade. É preciso definir uma linguagem específica para o trabalho.
Se é um ensaio vintage, mantenha a edição com estilo vintage do início ao fim. Se vai criar ou usar uma Action no Photoshop, use uma única para um determinado ensaio. Ao invés de usar os presets do Lightroom sem qualquer critério, crie ou adote um como linguagem daquele trabalho. Não passe o mouse por cima dos presets até chegar em um que agrade naquela determinada foto para então depois sair procurando outro preset para a próxima foto. Se feito isso, o resultado que se tem é um carnaval, no verdadeiro sentido da palavra. Logo que o Lightroom 1 foi lançado eu o instalei e fiz exatamente isso. Era surreal a facilidade como o programa fazia tudo muito rápido. Mas o que eu obtive foi um trabalho sem identidade alguma. Cuidado!
Ver um ensaio sem identidade é como estar dirigindo em uma estrada num dia ensolarado e de repente tudo mudar para um dia nublado. É ir do outono para a primavera. É como estar num mundo e de repente pular para outro, sem ao menos ser avisado. Não tem nexo. Nós fotógrafos somos contadores de histórias. E uma história é narrada também da forma como você a edita. Você define a dramaticidade que quer dar ao trabalho.
O filme de Fernando Meirelles, Ensaio sobre a cegueira, baseado no romance do escritor português José Saramago, tem uma identidade visual muito forte. Criada pelo diretor de fotografia César Charlone, o filme é caracterizado por tons dessaturados, branco estourado e a predominância de cores frias. Já imaginou mudar essa identidade visual no meio do filme? Seria no mínimo estranho. É como ser desconectado do filme no instante em que essa identidade é alterada.
Eu poderia citar diversos fotógrafos que tem um excelente trabalho como referência. Mas eu vou citar uma referência que serve perfeitamente para esse exemplo. O Coletivo Cia de Foto. Cito eles porque além de fazerem um trabalho fantástico, é um caso onde existe mais de um fotógrafo e mesmo assim o trabalho final de um ensaio sai com uma única identidade. Uma das integrantes do Cia de Foto é quem faz o tratamento de todas as fotos do ensaio realizado. Ela cria a identidade e essa é seguida do início ao fim. Se um coletivo consegue, um fotógrafo que edita o seu próprio trabalho também pode e deve conseguir.
Há dois anos fiz um workshop com o antigo editor de fotografia da Time magazine, Jay Colton. Jay era um verdadeiro “rato” em saber como montar rapidamente um ensaio. Analisando um dos meus ensaios, ele perguntou por que eu havia feito uma determinada foto em PB. Eu achava aquela foto em PB maravilhosa. Foi quando ele me explicou em manter uma identidade visual no ensaio. Quer PB, faça do início ao fim. Um balde de água fria.
Na minha opinião não vejo problema em alternar na edição de um casamento fotos coloridas e PB, desde que ambas tenham uma identidade. Em meus trabalhos autorais tenho adotado identidades únicas do início ao fim, somente em cores ou somente em PB. Depende como vejo o trabalho, como me envolvo com a história e como me sinto no dia. Tudo isso reflete na edição e como vejo na hora de fotografar. Já fotografo pensando em PB ou em um determinado tom de cores. Quando em PB ou em cores, sempre com a mesma identidade visual, os mesmos tons, o mesmo contraste, e por aí vai.
Se você é um fotógrafo de casamento e administra outros fotógrafos e equipes, tenha um editor trabalhando com as fotos de forma homogênea. O casamento deve ser um trabalho coeso, independente de quem tenha fotografado. Assim como um ensaio de noivos, a cobertura da festa do seu filho, ou em qualquer outro trabalho que você tenha escolhido fazer, é preciso ter uma identidade única. Afinal, ninguém tem dois RGs.
Grande abraço!