Fotos em alta resolução, entregar ou não?
Me deparei recentemente com uma situação bastante polêmica em um dos grupos de fotógrafos que participo o Facebook: entregar ou não entregar um dvd com as fotos em alta resolução? Essa questão é uma das mais polêmicas entre os fotógrafos sociais (casamentos, 15 anos, formaturas) e não é para menos, já que esta relacionado diretamente com a forma que se vende e o quanto se ganha em cada evento.
Assim como em outras áreas (a industria fonográfica é um belo exemplo), a digitalização dos processos trouxe novos desafio e é necessário uma adaptação a esta nova realidade. Não é minha intenção criticar quem não entrega todas as suas fotos em alta resolução (sei que a esta altura muitos fotógrafos já estão me criticando), mas quero apontar alguns motivos que, ao meu ver, tornam esta prática cada vez menos popular.
A fotografia analógica
O primeiro ponto a ser observado é a forma como os fotógrafos negociavam seus pacotes até o início dos anos 2000, notem bem, apenas a 13 anos atrás. Devido ao alto custo dos filmes e dos processos de revelação, o fotógrafo cobrava um cachê para ir até o evento e fotografar. Após o evento, os filmes eram revelados, os negativos ampliados em forma de um index (copião, folha de provas) e este era apresentado ao cliente que escolhia as imagens que seriam ampliadas e utilizadas na confecção do álbum. Desta forma, além do cliente pagar o cachê do fotógrafo (que gastou com filmes, assistente, gasolina, revelação, etc) ele pagava posteriormente para adquirir cada uma das imagens que ele gostaria de ter ampliado.
A fotografia digital
Com o advento da fotografia digital o fluxo de trabalho mudou drasticamente e os custos se reduziram. O fotógrafo vai até o evento, fotografa, baixa os arquivos, faz backup e edita o material (deleta as imagens ruins, corrige cor, contraste, balanço de branco, etc). Neste ponto, para quem usa o Lightroom, basta um simples comando para que as imagens sejam exportadas em alta ou baixa resolução.
Alguns irão me dizer que não editam todas as fotos antes de passar as provas. Você pode até não diminuir o tamanho do nariz daquela noiva em todas as imagens ou tirar aquela espinha do rosto da debutante, mas editar os parâmetros básicos de cada imagem é fundamental, principalmente para quem clica em raw. É claro que manipulações devem sim ser cobradas a parte pois são minuciosas e levam tempo para serem feitas.
A venda de álbuns e outros produtos
O argumento mais forte que os fotógrafos utilizam para não entregarem todas as fotos em alta resolução juntamente com o serviço de cobertura fotográfica é que eles forçam o cliente a confeccionar álbuns, quadros, ampliações, com mesmo profissional que fotografou o evento.
Tempo é dinheiro e um ponto negativo desta prática é o tempo que se perde no processo de escolhas das imagens. Cada vez mais as pessoas pedem por serviços rápidos e a entrega ágil das fotos é essencial. Mesmo em vendas diretas em parceria com laboratório há uma perda de tempo grande e mais uma rotina administrativa e financera para ser administrada.
Outro ponto negativo desta prática é que este tipo de venda pode ser caracterizado como venda casada, prática que é expressamente proibida, no Brasil, pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 39, I), constituindo infração da ordem econômica (art. 36º, §3º, XVIII, da Lei n.º 12.529/2011).
E o lucro oriundo dos produtos? Cabe a cada fotógrafo investir em um bom atendimento, tecnicas de vendas, marketing e principalmente em produtos diferenciados que despertarão no cliente o desejo de adquirir produtos que carregam qualidades como exclusividade, personalização e requinte, agregando valor a venda do serviço de cobertura fotográfica.
Forçar a venda de álbuns, fotos ampliadas ou qualquer outro produto, é transformar um fotógrafo em um vendedor de foto lembranças ao invés de alguém que oferece como atividade fim um olhar diferenciado sobre o evento e/ou ensaio fotográfico do seu cliente.
Em nosso escritório, a maioria dos clientes adquirem álbuns ou algum outro produto que não seja especificamente a cobertura fotográfica, sem que eu precise recorrer ao fato de que se não comprarem comigo nunca terão as fotos em alta resolução. Isto é tão verdade que até clientes que não adquiriram o álbum em um primeiro momento, após o evento e satisfeito com as imagens que receberam, voltaram e fecharam a confecção do álbum.
As telas full-hd e 4K
Outro ponto importante que faz com que cada vez mais os fotógrafos entreguem imagens em alta resolução é o avanço da tecnologia. Se obervarmos a evolução dos devices veremos que as telas full-hd (resolução de 1920x1080px) estão se tornado padrão, e já existem telas a venda com resolução de 3840 × 2160px. Existe também uma mudança de comportamento no uso da tv, que passa a ser muito mais interativa e utilizada para outros fins além da transmissão que estamos acostumados. Se você entrega uma foto em baixa resolução para o cliente e ele exibe estas imagens em sua tv de 50” de ultima geração, com toda certeza o fotógrafo terá seu trabalho prejudicado.
O que esperar
Existe uma demanda crescente por pacotes digitais com imagens em alta resolução e vejo isso como um caminho sem volta. Acredito que agregar isto ao preço do serviço torna o fluxo de trabalho mais eficiente, desde a negociação até a entrega dos materiais.
Cobrem MUITO BEM pelo que mais importa, o olhar. A fotografia social, em especial a de casamento, alcançou o status de arte, abrindo novas possibilidades criativas, novos nichos de mercado e novas formas de lucro. Ser criativo na fotografia, investir em técnicas de vendas, marketing e produtos diferenciados rendem ótimos resultados e agregam valor na hora da venda. Estudem e atualizem-se para serem fotógrafos diferenciados e não bons vendedores de foto lembranças. Boas fotos!
Tag:alta resolução, dvd, entregar fotos