O outro lado da Fotografia
Muitas pessoas praticam a fotografia como um hobby, uma maneira de aliviar o estresse, de trazer recordações de suas viagens e acompanhar o crescimento dos filhos entre outros. São inúmeras as razões para que alguém fotografe e que tenha o desejo de aprimorar sua técnica através de cursos e leituras.
Nesse processo, muitos se envolvem de tal maneira com a fotografia que pensam em abandonar seus empregos em áreas como engenharia, contabilidade, medicina e tantas outras em favor desta atividade de eternizar frações de tempo.
Adotar a fotografia como profissão tem aspectos positivos e muitos inicialmente citarão questões como o fato de trabalhar com algo que envolva a criatividade, de ter controle sobre seus horários sem ter a obrigação de “bater cartão” em uma empresa, de não ter que aguentar aquele chefe chato que não valoriza seu trabalho, enfim, fazer o que gosta e ainda ganhar dinheiro com isso.
Tudo o que foi dito no parágrafo anterior é verdade, o que faz lembrar uma publicidade famosa aqui no Brasil, de um jornal, que dizia ser possível contar um monte de mentiras falando apenas verdades.
Não quero desmotivar quem tenha o interesse de ser fotógrafo profissional, muito pelo contrário, mas considero que seja útil mostrar um lado que muitos desconhecem e por ignorar as questões que tratarei logo abaixo alguns acabam se desiludindo com a vida profissional da fotografia, daí a necessidade de retirar alguns mitos que cercam a atividade.
O primeiro mito é o de que sendo fotógrafo profissional você tem controle sobre seus horários, então se quiser ir a um cinema numa quarta feira a tarde você poderá, algo impensável para um funcionário com um emprego “comum”. Este deve ser o mais falso dos mitos fotográficos. Digo isso pois do momento em que você é um prestador de serviços, você deve estar disponível aos seus clientes nos horários em que eles irão precisar de seu trabalho, isso acaba condicionando seu dia-a-dia e fazendo com que você tenha exatamente os mesmos horários que qualquer pessoa.
Além do que foi dito no parágrafo anterior, nos horários livres o fotógrafo deve se dedicar a vender seu trabalho, buscar outros clientes, melhorar o portfolio com cursos, leituras e muito treino. Achar que sobrará tempo para um cinema numa tarde qualquer é ilusão. Inclusive é comum ver fotógrafos com expedientes de trabalho de doze ou até quatorze horas por dia, muito mais do que vemos em empregos comuns.
Vamos ao segundo grande mito, o de que você não precisará aturar o chefe chato que não o valoriza. Ao se tornar fotógrafo você perde um patrão mas ganha dezenas ou centenas deles pois todos os seus clientes são seus chefes. Alguns serão boas pessoas, simpáticas e interessantes, outros serão inconvenientes e mal educados que não darão qualquer valor para o que você faz, pedirão dezenas de alterações e ainda por cima atrasarão o pagamento ao ponto em que você será obrigado a contratar um advogado e processar o cliente.
Algo que considero um meio mito é a questão de trabalhar numa atividade que envolve a criatividade. Muitas vezes isso será verdadeiro, mas sempre acontecerão trabalhos nos quais você terá tantas barreiras para suas idéias que acabará executando um serviço de forma burocrática apenas para entregar o mais rápido possível aquilo que o cliente quer. Sua criatividade será cerceada ou ignorada, as vezes combatida mas o fotógrafo acaba tolerando isso pois precisa do dinheiro. Isso passa após alguns anos de carreira, quando o profissional se torna mais conhecido e reconhecido por seu talento, mas o início de carreira pode ser especialmente frustrante nesse aspecto.
Há um outro fator importante. Quando você é fotógrafo assumirá também tarefas como a gerência de seu negócio, o papel do vendedor e do administrador também, entre outros, assim é importante ter consciência de que fotografar é uma pequena parte do trabalho, pois gastará horas no computador fazendo orçamentos, respondendo e-mails, ao telefone vendendo seu trabalho e montando planilhas enormes para calcular custos e descobrir o quanto terá de trabalhar para pagar as contas.
Sobra o fato de que você trabalhará com algo que gosta, isso é verdade, mas afinal, quando você escolheu ser dentista, engenheiro, médico, arquiteto ou seja lá qual outra profissão, você não gostava dela?
Eu sou fotógrafo profissional e gosto deste trabalho, se você, depois de pesar todos estes fatores, resolver ser fotógrafo, estude, treine muito, respeite seus concorrentes, aprenda a cobrar o valor justo por seu trabalho e seja bem vindo ao clube.
Ilustro este artigo com uma foto que fiz no Memorial da América Latina, local projetado por Oscar Niemeyer e que rende belíssimas imagens graças a sua arquitetura diferenciada e aos amplos espaços abertos, gosto muito desta fotografia, espero que vocês gostem também.