Fotografia: evolução ou bagunça conceitual?
As câmeras estão mais populares do que nunca: de celulares a robustas máquinas, é bem possível que haja pelo menos uma em todo canto. Todos estão viciados em registrar o momento, e o elo virtual reforça esse hábito, as mídias sociais fazem querermos cada vez mais estender a rotina ao visual, ao mundo, instantaneamente.
No passado dia 19 de agosto comemoramos o Dia Mundial da Fotografia, de uma área em constante crescimento, mas será que é um desenvolvimento saudável?
Superficialmente, não há regras para se tornar um fotógrafo, basta ter uma câmera e sair fotografando. Dentro dessa conduta, em qual parte se encaixa a ética tanto para os amadores quanto para os profissionais? E a técnica?
Levantando esses questionamentos muitas outras dúvidas surgem para atribuir parâmetros morais e éticos para o mundo fotográfico. Qual conteúdo relaciona as atribuições legais para exercer essa função e qual deve ser o comportamento do profissional, tal qual seus limites ainda é um fator muito discutido e pouco linear nesse universo de imagens.
Diferenciar ética e moral é o primeiro passo, para depois vincularmos a fotografia. Ética é o conjunto de regras de conduta, estuda os fundamentos da moral e cria parâmetros específicos. Moral está relacionada aos costumes, são os princípios e valores “sociais”, é o tratado do “bem” e do “mal”.
A ética é baseada nas regras gerais estabelecidas pela moral. No caso da fotografia é a adaptação socialmente aceita. Os fotógrafos possuem deveres, responsabilidades perante a sociedade, como em qualquer outra área.
Fotografar, intervir, ignorar…
Só de observar já estamos inclusos nas intervenções de qualquer contexto, mas até qual ponto podemos explorar o assunto?
Muito se debate sobre ética no fotojornalismo, Kevin Carter é um dos muitos nomes famosos na lista. A foto da criança e o abutre e o posterior suicídio do fotógrafo acompanhado por uma carta ressaltam o impacto de uma imagem e sua repercussão, tanto para os espectadores quanto para o autor.
O incalculável poder da fotografia está vinculado a uma interpretação baseada em raízes culturais e intelectuais, sensibilidade e tantos outros fatores capazes de aprovar ou reprovar qualquer registro.
A interpretação ética pessoal cria a lacuna na qual alguns acham inadequado fotografar pessoas em locais públicos, por exemplo, enquanto outras protegem o direito de escolha e autorização de qualquer um antes ou após o clique, sem torná-las meros objetos. Tacitamente infringimos algum aspecto ético em qualquer uma das situações: seja ao interferir na cena, a ocultamente registrar, ou fazer isso antecipadamente, sem aprovação.
Além disso, as técnicas de edição aprimoradas nos envolvem em dúvidas agudas sobre o que ainda é real na imagem, e qual a dose aceitável de alterações.
Como lazer ou profissão, há muito debate para se chegar a um ponto pelo menos sensato. O intuito do texto, como observado, não é expor a essência da ética fotográfica, mas induzir a uma reflexão profunda e definição pessoal, embasada em experiências e até mesmo em referências: autores, obras, histórias, casos etc.
Finalizo com uma frase de Wallace Stevens (1879-1955) que se encontra muito bem com o tema: “A maioria dos reprodutores modernos da vida, incluindo a câmera, na verdade a repudiam. Engolimos o mal, engasgamos com o bem”.
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