Edge lighting: a magia do still
A fotografia de still sempre foi estigmatizada como algo de menor valor e importância. Por um lado, pelo produto, que é a foto de um objeto inanimado e, por outro lado, pelo processo, que é considerado chato por muitos fotógrafos. O próprio nome, que em inglês significa “parado”, faz dela o patinho feio da fotografia. Tanto é assim que perdi a conta de colegas especializados que se recusavam a fazer still. Para tentar reparar esse equívoco, decidi escrever esta coluna.
As vantagens dos stills
Para muitos, a fotografia remete à ideia de ação, novidade, glamur, choque, embate, comoção e conflito, parecendo assim uma arte exclusiva para os extrovertidos. Como o still sugere algo inerte e estático, aparece como uma sub-área sem interesse, do ativo e vibrante campo geral da fotografia. No entanto, apesar de ser uma área muito produtiva são justamente os profissionais introvertidos, que tendem ao trabalho paciente, calmo, solitário e reflexivo.
Mas ao fotógrafo de still ainda há outras vantagens. Por comparação, o fotógrafo de moda se caracteriza pela habilidade de dirigir seus modelos e coordenar uma grande equipe de produção; o trabalho em equipe rende um resultado a ser compartilhado entre todos. Os paparazzi precisam de audácia e agilidade para flagrar a vida privada de pessoas públicas; como o interesse nesse tipo de trabalho pende muito mais à celebridade do que à qualidade da imagem, fatores como iluminação e composição contam muito menos do que momento e clareza, e o trabalho do fotógrafo acaba sendo obscurecido pelo impacto do flagra. O fotógrafo de celebridades, por sua vez, depende de sua capacidade de se sociabilizar com pessoas famosas e se inserir em seus meios, mas sua autoria tende a ficar obscurecida pela notoriedade de seu assunto. Já ao fotojornalista servem muito mais o destemor, a prontidão e o reflexo para apertar o gatilho na hora certa e captar a imagem precisa, mas é justamente ela, acompanhada do impacto da notícia, que pode ofuscar seu trabalho. Até o portraitista, que se vale de um trabalho mais primoroso, distinto e técnico — de luz, composição e psicologia — acaba por dividir seu crédito com o retratado.
E o fotógrafo de still?
Como ele não tem diante de sua lente nem uma cena, nem um assunto que por si agreguem interesse à sua foto, ele precisa construir sua cena do zero. E é pelo trabalho detalhista e de refinamento que ele pode ter sucesso em revelar as sutilezas de um objeto inanimado. Para superar esse desafio, ele precisa ter, além da paixão, mais conhecimento técnico e estético do que se imagina. Muito antes de apertar o obturador, ele constrói sua imagem, de modo que na realidade, ele não “tira”, ele “faz” a fotografia. E é por isso que, diferentemente dos outros especialistas a que o comparamos, o fotógrafo de still depende exclusivamente de si próprio, com direito a 100% do crédito autoral.
Claro, não é o crédito autoral o que mais conta, mas a perspectiva de ganhar, com cada nova solução e em cada novo desafio, um conhecimento prático cada vez mais rebuscado, acumulando recursos técnicos preciosos para futuros trabalhos. Uma gratificante experiência.
Quer saber mais sobre o poder dos introvertidos e por que eles preferem trabalhar a sós e em tarefas mais criativas?
Leia: Susan Cain – Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking
Copyright (c) 2012 Susan Cain – Crown Publishers, USA.
Ou ainda, acesse o link: http://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts.html
Nosso vídeo desta vez mostra como fotografar um still de uma garrafa junto a um copo de vinho, criando um clima condizente com o produto, por meio de uma técnica chamada de edge ligthing, conforme a foto abaixo ilustra. Aproveitamos a oportunidade para reparar na prática ainda outro equívoco comumente relacionado à fotografia de still: de que há necessidade de muita potência nas fontes de luz e que todas se dirigem ao assunto. Neste caso, temos exatamente o contrário. Modificando-se a qualidade da luz com um refletor branco e filtrando a luz direta com um gobo, é possível obter um efeito surpreendente.
Para alcançarmos esse efeito, utilizamos uma única fonte de luz contínua: uma Dedolight com uma lâmpada de 100w. É um equipamento muito moderno, cujo foco pode ser regulado por meio de um sofisticado sistema de refletor e lentes, que permite ao fotógrafo ou cinematógrafo recursos inimagináveis antes do lançamento de sua primeira versão, há cerca de 18 anos. O nome do equipamento vem do nome de seu inventor, Dedo Weigert, cuja invenção lhe granjeou dois Oscars, pelas inovações e pelas soluções criativas que possibilitou em grandes produções cinematográficas. Weigert esteve em São Paulo há cerca de dois meses, apresentando sua atual linha de produtos, altamente diversificada, mas mantendo sua sofisticação essencial.