A fotografia analógica hoje
Comecemos por criar uma breve polêmica: o correto é chamarmos a fotografia feita com filmes de “analógica” o que abrange tudo o que não é digital, ou seria mais correto chamarmos de “fotografia química“, pois todo o seu processo desde o filme até a revelação tinha (e tem) por base o processo químico em contraponto à “fotografia eletrônica” que é a digital?
Semânticas à parte eu creio que o importante seja sabermos que as objetivas, mesmo com todos os avanços, continuam sendo construídas de vidros e cristais e seguem princípios físicos, assim como a impressão da luz sobre o filme, hoje é feita sobre um sensor de fotodiodos.
Alguns dirão: “A fotografia analógica era muito mais romântica do que a digital?” Posso até concordar, mesmo porque o que plantou em mim a semente da paixão pela fotografia foi assistir e participar aos 8 anos de idade de algumas sessões de revelação e ampliação em preto e branco no laboratório de meu tio. Aqueles momentos de ver a mágica ocorrendo sob meus olhos, e o papel em branco começar a ganhar tons, imagens e contrastes ficaram gravados para sempre. Mais tarde, já trabalhando com fotografia, passar noites em claro ouvindo um rádio enquanto fazia minhas ampliações também trazem boas recordações. Mas perder diversas fotos porque um filme foi mal revelado por mim ou por terceiros (que sempre tinham uma desculpa) ou passar horas respirando produtos químicos em um pequeno laboratório, isso certamente não traz boas lembranças, e sempre dei boas vindas ao digital, principalmente hoje em dia que acredito a fotografia digital já tenha alcançado sua maturidade.
Mas, como tudo que é bom retorna, ou melhor, nunca morre, eis que surgiu há poucos anos um modismo chamado Lomografia, que tem como seu resultado final uma fotografia realizada e impressa seguindo os meios químicos tradicionais resultando em uma criação que em nada se aproxima de outro meio de produção artística a não ser a fotografia. Na verdade, o modismo da lomografia não criou nada que já não estivesse presente no mundo da fotografia, no entanto a lomografia trouxe para uma geração mais nova o conhecimento da fotografia analógica que consequentemente já trouxe novos resultados artísticos.
Esta nova geração de lomógrafos conviveu e convive com o prazer de fazer as fotos e aguardar algum tempo pela revelação e ampliação, para aí sim ver o resultado obtido. Alguns, mais avançados, revelam os seus próprios filmes P&B. Mas vejam que curioso, em um breve período de tempo, alguns desses jovens entusiastas da lomografia perceberam que poderiam ter fotos de maior qualidade se adquirissem antigas câmeras de filme, sejam elas uma câmera compacta com lentes de qualidade, uma reflex ou até mesmo uma câmera de objetiva dupla com filme de 120 mm.
Esses novos entusiastas da fotografia química se uniram aos antigos que se sentem saudosos dos tempos da fotografia realizada com filmes e de sua granulosidade que para muitos é muito mais bela do que o ruído dos pixels. Alguns até fazem um paralelo entre a musica gravada em um disco de vinil e a musica gravada por meios digitais.
Surgem então novos consumidores de filmes que ainda podem ser encontrados a venda em algumas lojas especializadas em fotografia para profissionais ou na internet. Surgem também novos laboratoristas e “ressuscitam-se” antigos. E isso tudo só vem a somar em favor da fotografia.
Em meu entender, a fotografia precisa ser olhada em seu todo e sempre estará acima das inovações tecnológicas. As invenções, descobertas e aperfeiçoamentos na fotografia não são uma característica exclusiva da era digital. Alguns fotógrafos antigos temem o novo, alguns dos jovens fotógrafos acreditam que são os grandes inventores e utilizadores das novidades. Mas na verdade o que acontece é a mais pura evolução da captura e manipulação das imagens, certamente com mais qualidade na imitação da realidade, rapidez no resultado final e novos resultados que poderão surpreender. Mas afinal, não é isso o que sempre se buscou?
O ato de fotografar há muito deixou de ser apenas uma representação da realidade, como afirmou Henri Cartier-Bresson, “fotografar é reconhecer, ao mesmo tempo e numa fração de segundo, um evento e a organização rigorosa das formas percebidas visualmente e que expressam esse evento. É reunir, no mesmo ponto de vista, a cabeça, o olhar e o coração”.
Com todo o exposto acima posso afirmar que a “fronteira final da fotografia” ainda não foi atingida e a boa imagem fotográfica, independentemente da ferramenta ou mídia utilizada, ainda demanda luz, sensibilidade, conhecimento e criatividade do fotógrafo. Qual será o próximo passo técnico-cientifico na jornada fotográfica?