Faça um checklist no seu equipamento mais importante: VOCÊ!
Antes de qualquer trabalho, um fotógrafo profissional organizado sempre gasta um bom (e valioso) tempo revisando todo o seu equipamento. Para a maioria de nós isso se chama checklist, e é quando descobrimos a falta de pilhas para o flash, as baterias descarregadas, um rolo de fita crepe quase no final e outras tantas coisas que podem causar um transtorno perfeitamente evitável na hora do trabalho.
Contudo, sempre falta revisar o principal equipamento. Quem nunca, em meio a um trabalho corriqueiro, se viu cansado, sem criatividade, desinteressado pelo resultado ou mesmo sem a mínima vontade de abrir o computador e fazer uma simples edição de imagens. Diante de uma sociedade que se move em velocidade acelerada, de um mercado que dá voltas a si mesmo e de clientes que buscam um grande retorno com baixo investimento, nossa saúde – tanto física quanto mental – tende a ser o primeiro equipamento a dar problema.
E tanto as causas quanto às consequências deste problema podem ser variadas. Diante de diversos trabalhos fisicamente e emocionalmente desgastantes, um fotógrafo pode desenvolver uma estafa passageira, um sério estado de burnout ou mesmo a temida, e infelizmente recorrente, depressão.
Antes de prosseguir, vamos fazer um checklist nas possíveis causas desses estados alterados:
– Excesso de trabalho: cada profissional sabe o seu limite, conhece o quanto seu corpo e sua mente podem aguentar diante de consecutivas jornadas de trabalho extenuantes. Só não sabe quando os sintomas do esgotamento começam a surgir, até porque, quando o fotógrafo reconhece seus problemas, é porque a situação demanda atenção especial e imediata.
– Relacionamento com clientes: nosso trabalho reúne uma série bastante diversa de pessoas: assistentes, fornecedores, produtores, modelos e – principalmente – clientes. Essa última categoria de público de relacionamento é, por motivos óbvios, a que mais dispensa cuidados, muitas vezes por promover situações desgastantes e que causam insegurança e desgaste no trabalho.
– Agenda de trabalho e prazos irreais: para quem trabalha, principalmente, com o mercado publicitário, o ritmo de trabalho pode não ser o mais tranquilo possível. Isso porque estamos no final da cadeia de trabalho (cliente > agência > fornecedores), e os prazos tendem a ser menores para todos aqueles que estiverem no final desta fila. É claro, existem também os imprevistos, as mudanças de prazo de última hora que obrigam o profissional a refazer sua agenda, negociar novos prazos com diversos clientes e gastar seu tempo pessoal em tarefas profissionais. Raramente alguém consegue ter um dia proveitoso depois de uma noite de trabalho em claro.
– A insegurança do mercado: para quem nasceu, e trabalhou, nos tempos da hiperinflação e da economia extremamente volátil dos anos 1980, pode até achar que hoje em dia as coisas andam mais amenas. Contudo, vivemos em um país onde a economia se comporta diferente a cada dia, gerando desafios econômicos e fiscais para qualquer profissional liberal. Não é raro ver orçamentos serem reduzidos drasticamente por falta de verba, ou mesmo empresas desistirem de um trabalho por motivos financeiros. E, em situações assim, o aviso nem sempre vem em boa hora ou a tempo de planejar uma reação e não perder o trabalho. Eventualmente, nossos clientes mudam os prazos, mas nossas contas são extremamente pontuais.
– Equipamento: máquinas fotográficas são caras e, por serem fabricadas no exterior, seu valor acompanha a variação do dólar. Na hora de fazer um upgrade no equipamento fotográfico, ou mesmo mandar um flash para o conserto, os valores que desembolsamos nunca são baixos.
É evidente que existem outros fatores que, isoladamente ou em conjunto, são causadores de problemas físico-mentais. Também é claro que cada profissional encara o problema de um jeito diferente, mas nem todos conseguem lidar com os desafios (ou abusos, conforme o caso) da melhor maneira possível. Portanto, abaixo segue uma lista de possíveis paliativos ou soluções para evitar crises ou problemas de maior grau.
– Qual é o gatilho?: identificar a causa do problema talvez seja o primeiro e o mais importante a se fazer quando descobrimos que não estamos bem. Reunião fora de hora? Cliente sem a menor educação? Telefone que não para de tocar? Internet que não funciona direito? Orçamento que vai e volta toda hora? A partir do momento em que a resposta for encontrada – e isso é um exercício pessoal para cada um de nós –, podemos alterar a nossa rotina de trabalho, evitar episódios desgastantes ou mesmo manter uma distância saudável dos problemas mais comuns.
– Pratique exercícios: neste exato momento você fez uma careta e pensou “e quando eu tenho tempo e dinheiro para isso?” A provável resposta estará no tópico seguinte, mas agora é bom deixar claro que uma atividade física, regular e acompanhada por um profissional da área, ajuda a diminuir os efeitos de um dia a dia de trabalho desgastante. Seja yoga ou musculação, caratê ou caminhada no parque, o importante é que haja um tempo para que seu corpo se movimente de forma saudável e reparadora.
– Arrume tempo para você: se a sua vida pessoal foi inundada pelo trabalho é hora de rever o seu planejamento de trabalho. Ter uma rotina é importante, e mais importante ainda é controlar os eventuais atropelos de agenda para não comprometer o seu tempo com a família, amigos e atividades que dão prazer. É claro que contratempos acontecerão, e sem qualquer aviso prévio, mas este é o momento em que uma agenda organizada e um fluxo de trabalho funcional fazem uma enorme diferença.
– Clientes tóxicos: existem apenas dois tipos de clientes – os bons e os maus. Um cliente que paga bem, mas causa uma série de problemas para o seu trabalho, só está dando os recursos para você gastar com seu plano de saúde. Quando o assunto é bem estar, negociar com o cliente é fundamental para que você tenha paz de espírito suficiente para realizar um bom trabalho. Caso contrário, esse cliente é uma fonte de renda e de malefícios. Dê prioridade aos relacionamentos saudáveis e deixe a toxicidade de algumas pessoas longe da lente da sua câmera.
– Tenha uma válvula de escape: ler, ouvir música, passear, jogar videogame, sair com os amigos, namorar, ir ao cinema, fica em casa sem fazer nada… seja lá qual for a sua fonte de maior prazer pessoal, invista nela e aproveite esses momentos para relaxar. É justamente nestes momentos que nosso corpo e mente realizam os reparos necessários do dia a dia, além de facilitar a criatividade que usaremos nos trabalhos.
E aqui vale lembrar a recomendação mais importante de todas: se você estiver desconfortável com a situação e apresentar problemas físicos e mentais recorrentes, não pense duas vezes em procurar um profissional de saúde. Quanto mais cedo você identificar a causa – ou as causas – do seu problema, melhor será o seu tratamento e mais cedo você estará de volta ao seu trabalho. E, quem sabe, os boletos não darão um merecido descanso para você?