
Expectativa e frustração nos ensaios fotográficos
Quando estamos iniciando em algo novo, seja um trabalho, um projeto, ficamos demasiadamente empolgados e consequentemente com altas expectativas, esperando que dê “tudo certo”. O que é bom, pois faz com que nos engajemos, mas também pode nos trazer grandes decepções se o resultado for diferente do esperado.
O caminho do fotógrafo é solitário, pois somos os nossos maiores críticos e procrastinadores. Na busca por aquilo que definimos como ideal, vamos tentando transferi-lo para cada ensaio que fazemos, sempre no limite: expectativa X frustração. É preciso maturidade para identificar as necessidades de melhoria e humildade para pedir ajuda.
Pessoas são enigmas e fotógrafos intérpretes
Com certeza já passou pela sua cabeça: “quem é o responsável pelo sucesso de um ensaio?”. Já ouvi muitas pessoas dando mil desculpas (e inclusive eu!) para explicar o resultado “negativo” de um ensaio, a luz não estava boa o suficiente, o lugar não era bonito, o fotografado não entendia meus comandos, e tantas outras, observe que “a culpa” é sempre do “outro”. É natural no ser humano tentar achar um culpado para tudo que acontece.
Num ensaio, o fotógrafo é (ou deveria ser) aquele que conduz, que assume a responsabilidade, o resultado depende da atuação efetiva deste profissional. E como se faz isso? Entendendo as pessoas, sabendo falar com elas, extraindo o que há de melhor delas. Entregar-se a esse momento pede uma carga emocional grande, onde o único objetivo é dar o seu melhor para obter o melhor resultado possível.
Decifrar o enigma que é cada pessoa que fotografamos não é uma tarefa simples, requer autoconhecimento, treino do olhar, respeito pelos próprios limites e também do outro.
Poderia ter ficado muito melhor, se…
Ao analisarmos o resultado do nosso trabalho, sempre fica a sensação que poderia, deveria, ter ficado melhor, “de repente se eu tivesse virado para o outro lado; tivesse explorado mais isso ou aquilo…”. A insatisfação faz parte quando buscamos a excelência de algo, de algum trabalho.
Ao observar as ruas, os comportamentos e também vitrines (por que não!?) me deparei com uma camiseta que dizia mais treino e menos desculpa, aquela mensagem me atingiu em cheio. Às vezes o que nos falta é treino, enquanto perdemos tempo tentando nos justifcar, procurando culpados para o nosso relativo fracasso, deveríamos estar treinando! Isso mesmo treinando!!! Treinando nossa mente para pensar diferente, treinando nosso raciocínio para ser capaz de captar mensagens implícitas em nossos fotografados.
Já tive um gerente que admirava muito, pois sempre aprendia alguma coisa com ele nas mais simples conversas, ele sempre me fazia pensar. Era uma figura que chamava atenção pela astúcia e também por ter um hábito incomum: a forma como usava seu relógio de pulso. Costumava usar o relógio de cabeça para baixo, dizia pra nunca me esquecer de ver as coisas de um ponto de vista diferente. Não precisamos fazer isso, mas é importante saírmos da zona de conforto e experimentar novos ângulos.
Acertando o passo
Analisar nosso trabalho sempre na perspectiva de melhorá-lo tendo como medida aquilo que colocamos como ideal, compreendendo que a frustração vai ocorrer, faz com que fiquemos mais tranquilos e também pacientes, mas não estagnados.
Ter paixão pelo que fazemos é imprescindível, mas se ela nos cegar será extremamente nociva para nosso crescimento enquanto fotógrafos de pessoas! E quanto mais cedo nos dermos conta disso, mais fácil encontraremos as respostas.