Respire um instante antes de subir uma foto
Fazer o upload de uma ou mais fotos hoje em dia parece sempre urgente. No fundo sabemos que não é.
por Julius Motal, via The Phoblographer
Com a natureza instantânea do mundo hiperconectado de hoje em dia, parece que as imagens só têm importância se estiverem online. O Instagram vê uploads na ordem das dezenas de milhões numa taxa básica diária. Quando consideramos qualquer outra plataforma de compartilhamento de imagens, esse número é consideravelmente mais alto.
Pela maior parte do tempo, subir uma foto logo após tirá-la era quase reflexivo para mim. Era uma pressa para jogá-la no VSCO, exportá-la, dilapidar a legenda perfeita e subi-la, e daí a fotografia obtinha minha atenção pelo tempo que prosseguisse recebendo amor.
Uma vez que isso acabava, seguia-se para a próxima. Agora é mais frequente o caso de brigar com o upload de uma imagem. Ocasionalmente estarei no auge, quando meu melhor julgamento é acertado, e eu fecho o aplicativo relegando a foto a uma vida nas sombras, ao menos por ora.
Com todas imagens que cogito colocar online, me questiono se vale a pena e a longevidade. A foto é boa exatamente agora apenas porque eu a fiz, ou ainda será boa mais adiante? Garry Winogrand disse certa vez: “Fotógrafos confundem a emoção que sentem quando estão clicando uma foto com o julgamento de the a fotografia é boa.” Claro, há sempre uma satisfação imensa quando eu vejo que consegui o que vi no momento, ou algo próximo disso. Essa satisfação misturada com sabe-se lá o quê estava em minha cabeça no momento frequente em que pensei que precisava jogar a foto online, que era boa e precisava ser vista.
Tive fotos que não eram boas assim o bastante, mas o impulso de jogá-las online foi por ter tido o sentimento de que as teria feito bem. Fotos pelas quais sinto-me realmente bem, mais frequentemente do que não obtendo bastante retorno como as que tenho sentimento morno, e que por isso fico tentado a subir aquelas que não são boas o bastante. É uma injeção de dopamina vinda de uma gratificação vazia que logo perde-se de vista, e terei meu polegar pronto para dar por confirmada a finalização do upload no Instagram ao perceber que a imagem é melhor sem ser vista à luz do dia.
Essa é uma confusão fotográfica que me deixa com um pé atrás. Há um ano eu fechei minha conta no Flickr, ato sobre o qual eu escrevi previamente, e a principal razão pela qual fiz isso foi porque tinha coisa demais lá. Tinha tudo desde que peguei pela primeira vez uma câmera. Estava fazendo mais mal do que bem, mas lidava realmente apenas com as imagens que eu já havia jogado lá. A retrospectiva, como eles dizem, é 20/20, e é fácil olhar para trás e dizer “Todas essas são terríveis, preciso me livrar delas.” É bem mais difícil no momento estar a um toque de distância do upload de algo e dizer “Na verdade, é melhor não subir isso.”
Há muito ruído ali, e não quero fazer parte dele. Tirar um minuto para pensar sem interrupções porque exatamente estou subindo algo é um longo caminho para fortalecer minha convicção para seguir com isso até o fim ou ajudar-me a perceber que é melhor que aquilo durma num disco rígido. Claro, não é uma regra rígida e rápida na qual eu esteja me prendendo. Vou subir imagens divertidas e peculiares de, digamos, uma festa para compartilhar um pedaço daquela experiência, e não ocorrerá qualquer relutância existencial. Fora isso, cada upload será considerado com tal cautela.
Parte do que é isso é também sobre estar no controle do que subo, que pretendo que minhas sensibilidades fotográficas me guiem quanto ao que disponibilizarei online, e não a atenção que obterei com aquilo. Uma foto guiada e criada para reconhecimento não possui vida por si mesma. É frequente dizer-se que você precisa clicar para si mesmo, e percebo agora, também, que é melhor fazer uploads para si próprio, independentemente se terá uma ou mil curtidas.
Se você não está completamente convencido quanto à próxima foto que planeja subir, considere deixá-la offline.
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