Quer uma câmera/objetiva melhor? Compre uma pior.
Bateu uma Síndrome de Equipamentite Aguda imparável? Há uma boa alternativa à compra de um novo equipamento fabuloso
Um dos conselhos dados a quem está passando pela famosa Síndrome de Equipamentite Aguda (GAS, na sigla em inglês) é repensar sua compra para simplesmente evitar fazê-la. Quando a tarefa é demais árdua e você já fez o teste para saber se realmente precisa de câmera, objetiva ou acessório novo, e viu que não precisa, MAS tá se coçando pra comprar uma câmera diferente, a recomendação é: compre uma pior do que a que você já tem. Existem alguns motivos práticos para isso, e vou tentar explicá-los a seguir.
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Você vai perder menos dinheiro
Vamos supor que na região em que você vive a redução de preço por um equipamento ser vendido usado — mesmo que por pouco tempo — seja de pelo menos 10%. Obviamente essa redução irá variar de acordo com o quanto já foi utilizada, seu estado de conservação, o quanto aquele equipamento é almejado por seus colegas e mais um ou dois fatores, mas consideremos um décimo do valor. Se você não faltou às aulas de matemática básica, sabe que para obter um décimo de um valor basta deslocar a vírgula para a esquerda. Ou seja, no caso de um equipamento de R$ 3 mil, seriam R$ 300.
Agora imaginemos que uma outra câmera de especificações mais modestas e/ou já ultrapassadas pelas novidades tecnológicas mais recentes, mas ainda perfeitamente utilizável pra você, custe a metade do preço da nova em folha que pensa em comprar sem necessidade. Os 10%, como pode logo perceber, seriam R$ 150. No que se traduz isso tudo? Que você, ao precisar ou decidir revender, perderia menos dinheiro tanto na sua compra quanto ao repassar adiante. Se você está comprando sem estar realmente necessitado, qualquer economia pode ser bastante benéfica, embora a compra em si nem tanto.
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Vai confirmar que não precisa dos megapixels, ou ISO/processador/etc dos sonhos
Lembra quando sua câmera foi lançada e os anúncios mostravam ela como um belo produto? Você foi pesquisar as especificações, resenhas, gostou do que viu e, após fazer as contas, decidiu comprá-la? Bom, ela não deixou magicamente de ser boa só porque saiu uma outra mais recentemente com um processador mais novo e etc. Você conseguiu fotos que lhe deixaram bastante satisfeito até, mesmo que após algum empurrãozinho na pós-produção — e não há pecado nisso! —, e pode continuar produzindo belas fotos.
A ‘necessidade’ ou ‘vantagem’ em ter mais megapixels ou resolução (são coisas distintas, vale lembrar) muitas vezes é simplesmente imaginária. Quando não existe de fato para quem está com ela em mente, é no mínimo mal-explicada. Em outras palavras, proporcionalmente poucos fotógrafos tanto sabem direito o que é resolução e o que tem a ver com megapixels (e qual a diferença) quanto vão tirar proveito de um ganho nesses fatores.
Se você comprou essa câmera, essa objetiva, e talvez também um determinado flash, mas não conseguiu belas fotos, ou sente que as conseguiu por pura sorte… Bom, talvez seja o caso de aprender a explorar melhor os recursos que têm em mãos. Mas nunca arrepender-se precocemente de ter comprado a escolhida. O que nos leva ao próximo ponto/lembrete…
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Não tinha dinheiro para o equipo ‘certo’? Aprenderá a fazer mais com menos
Pense: quantas fotos consideradas históricas você já viu? E quantas delas foram tiradas com equipamentos que são hoje, neste instante, topo de linha? Eu sei que você pode ainda responder “Ah, mas várias dessas fotos foram feitas com câmeras que na época eram um dos últimos lançamentos!”. É verdade. Mas, tirando eventuais passagens aéreas para locais muito específicos, quanto custaria fazer uma dessas fotos hoje com uma analógica como a Canon AE-1 e uma boa objetiva, a exemplo de uma Canon FD f/1.4? Certamente bem menos que uma combinação para exigentes nos dias atuais.
Em suma, hoje em dia a fotografia tanto é mais acessível — e nem estou citando os celulares! — como é tecnicamente muito mais avançada, de forma que muitas vezes uma câmera que hoje se considere um tanto básica ainda será bem mais avançada que os modelos utilizados para imagens icônicas. Dê graças a essa evolução e explore ao máximo os recursos que estão no manual e descubra os que não estão.
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Vai lembrar que tirando a parte técnica, fotografar ainda é divertido
Se você já teve a gostosa sensação de pegar uma câmera analógica daquelas chamadas plec-plec deve ter percebido como, mesmo com uma lente ruim, um visor estreito com paralaxe evidente, a falta de um parasol, um ISO que só se altera ao trocar o filme e outras desvantagens técnicas, ainda é possível ter o fascínio em ter uma câmera diferente à mão. Isso porque a essência da fotografia ainda está lá: a luz, as sombras, a composição de um quadro, a espera pelo momento, o ruído característico de cada disparo, as tentativas, os acertos.
Brincar de fotografar deve lhe fazer recordar os porquês que lhe levaram a querer iniciar-se neste arte. Além do quê, lhe dá uma chance de clicar sem pensar demais em detalhes técnicos, o que pode lhe render uma ‘limpeza’ mental bastante benéfica, além de restaurar um prazer perdido.
E aí, ainda quer aquela câmera topíssima?
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