
Entrevista com Susi Godoy
Entrevistada por Yasmine Farias, a fotógrafa Susi Godoy fala sobre método, preconceito, referências e dá uma dica aos nosso leitores
Normalmente a Susi é quem entrevista aqui no DG, não a entrevistada, mas dessa vez ela ficou do outro lado do gravador. Eis o resultado:
Susi Godoy é uma fotógrafa paulista, que busca o nu artístico na sua essência. Seu foco é inserir algum tipo de carga emocional em cada foto, focando em expressão corporal para que as imagens não fiquem vazias ou falem apenas de beleza. Tem uma linguagem simples e sem apelo. Conversamos com ela para saber um pouco mais do seu trabalho e para falar de direção de modelos, produção e relação fotógrafo x modelo:
Yasmine Farias (DG): Como e quando você começou no nu artístico?
Susi Godoy: Eu sempre gostei de fotografia, mas o retrato, especificamente, surgiu na minha vida há uns 3 anos, quando comecei a me dedicar mais a esse estilo, e o nu foi algo que foi acontecendo naturalmente. Inicialmente eu sentia a necessidade de criar retratos atemporais, por isso sempre gostava de usar figurinos neutros que não falassem muito de moda atual ou de personalidade, e então comecei a usar o nu como forma de explorar expressão corporal.
DG: Susi, quais referências artísticas você utiliza para dirigir suas modelos?
Susi: Eu me inspiro muito na personalidade das modelos, nos jeitos e trejeitos de cada uma, procuro me interessar em conhecê-las e com isso crio um canal de comunicação com elas e uma parceria de muita confiança. Inspiro-me também em livros, cinema, músicas, luz e sombras, locações, acredito que tudo pode somar e virar alguma inspiração.
DG: O que deve ser feito para conduzir uma retratada em um ensaio nu para que ela aja com naturalidade?
Susi: Eu acredito que as pessoas sejam muito visuais, por isso a nossa expressão corporal também influencia muito nos ensaios. Eu mantenho uma postura que passe confiança e tranqüilidade, sempre aposto no dialogo, em explicar tudo que será feito, e sempre provoco as reações para se ter cenas que convençam em que a modelo esteja confortável e agindo com naturalidade. Eu quero sempre extrair olhares, sorrisos e movimentos que são delas, que qualquer um ao ver possa reconhecê-las, e pra isso é preciso muita conversa e cumplicidade.
DG: Quais são as cinco dicas para quem quer se dar bem na direção do nu?
Susi: O que funciona muito comigo são:
– fugir do obvio
– cuidar dos detalhes, ver se as modelos estão confortáveis nas poses
– provocar movimentos, pra que aja naturalidade nas fotos
– explorar ângulos diferentes para valorizar cada tipo de corpo
-utilizar luz e sombras a meu favor, seja pra esconder imperfeições ou ressaltar o que elas têm de melhor
DG: O que você não curte em retratos nu?
Susi: Eu, particularmente, não gosto de fotos muito posadas ou com nu muito explicito. Eu gosto de coisas mais leves, com mistério, que façam mais perguntas e ofereçam menos respostas.
DG: Qual caminho você percorreu para alcançar esse jeito de dirigir suas modelos?
Susi: Eu sempre trabalhei dessa forma. Sempre considerei uma parceria, onde meu trabalho vai ser somado a personalidade da pessoa e o que ela espera em ser retratada. Compreendendo isso, e mais que isso, me interessando por isso, por conhecer mais a pessoa que vou retratar, as coisas fluem naturalmente. Criamos um canal de comunicação, e a partir disso vou conduzindo o ensaio. Eu trabalho muito com movimento, pra extrair naturalidade e gestos sinceros.
DG: Por que as pessoas têm uma visão preconceituosa do nu artístico?
Susi: Gostaria muito de saber responder essa pergunta. Pra mim é um enigma. Ainda mais no Brasil, que culturalmente temos a “objetificação” feminina, culto ao corpo, ao sensual com conotação sexual, mas o nu ainda é encarado como tabu, sendo que muitas vezes tem muito menos apelo que algumas roupas.
DG: Como é a produção das sessões? Onde é feito e como a modelo se prepara?
Susi: Isso é muito pessoal, depende de cada cliente. Mas tudo isso é decidido no nosso primeiro contato, onde escolhemos a linha do ensaio, em que lugar faremos e como faremos. Algumas vezes costuma ser na casa das retratadas, ou em hotéis, e outras em externas.
DG: Tem muito improviso?
Susi: É tudo muito conversado, sobre a forma que vai ser conduzido o ensaio. Muitas vezes conto com o improviso caso a cliente queira fazer algo fora do que combinamos, tenho que estar preparada pra isso porque as vezes surgem. Mas a maioria das vezes é tudo estudado antes e planejado pra que na hora a gente se divirta muito.
DG: Nos seus nus, você fotografa apenas mulheres, isso pode mudar um dia?
Susi Godoy: Por enquanto meu foco é no feminino. Isso por escolha minha, eu prefiro ir desenvolvendo minha linguagem dentro desse estilo, estudando as formas do corpo feminino a fim de extrair o melhor de cada mulher. Mas pretendo sim fotografar homens também, é só questão de tempo.
DG: Qual é o recado que você daria para quem quer seguir a linha de nu e é leitor do Fotografia DG?
Susi: Acho que o maior conselho que eu poderia dar pra alguém é investir em conhecimento. Alimentar a tua inspiração em outras artes, lendo, vendo filmes, ouvindo musicas, participando de cursos e praticando muito.
Mais fotos clicadas por Susi Godoy:
[divider]
Para acompanhar o trabalho da Susi Godoy, sigam seu Facebook.
Os leitores que desejarem ler mais entrevistas aqui no DG podem acessar nossa seção dedicada a conversas com fotógrafos e fotógrafas!Tag:artístico, arte, entrevista, foto, fotografa, Fotografia, mulher, nu, nudez, preconceito, susi godoy