Entrevista Armando Vernaglia Jr.
Conhecido dos leitores do site Fotografia DG, Armando Vernaglia Junior é um profissional completo. Além de fotografar, ele é autor de dois e-books sobre o tema, é palestrante, colunista, professor e músico. Íntimo das artes, entre suas influências estão nomes como Velásquez e Salvador Dalí até grandes diretores cinematográficos como Stanley Kubrick. Porém, a maior fonte de inspiração e referência é sua esposa, a artista plástica Cris Alencar, com quem divide opiniões, conceitos e o gosto pelo belo.
Como todo baterista a noção rítmica faz parte de sua essência e a música influencia sim na composição fotográfica. Para ele, a alternância de notas altas e baixas, de partes rápidas e lentas e assim por diante, sendo tudo ritmo, tudo se aplica ao momento de compor uma fotografia, e se aplica ainda mais na edição de vídeos, em seus enquadramentos e movimentos de câmera.
Fotografia DG: Como se deu seu interesse pela fotografia?
Vernaglia: Os primeiros contatos se deram enquanto eu era criança, mas nessa época não imaginava como profissão. Quando era garoto queria ser piloto de avião, depois queria projetar vídeo games, o que me levou a estudar processamento de dados e programação de computadores e, durante esse período, fui perdendo o interesse pela informática e ampliando pela fotografia. Não existiu um momento em que pensei “quero ser fotógrafo“, apenas foi acontecendo, fui estudando e comecei a trabalhar.
Fotografia DG: Você se especializou em arquitetura e produtos?
Vernaglia: Sempre tive mais interesse em fotografar objetos inanimados. Não tenho nada contra pessoas, mas talvez meu gosto por pintura e temas como naturezas mortas tenha me levado para esse caminho. Faço também muitos retratos, em geral são empresários, diretores de empresas, faço fotografia urbana com pessoas circulando em grandes cidades, mas acabei ficando mais conhecido pelo meu trabalho com arquitetura.
Fotografia DG: Existe alguma área da fotografia que ainda não se enveredou e que seria um desafio?
Vernaglia: Gostaria de fotografar esportes de velocidade, com motos e carros. São temas que gosto muito, que acompanho como fã de velocidade, mas que nunca tive a oportunidade de fotografar. Seria algo interessante, afinal, se sou mais conhecido por fotografar objetos inanimados, seria muito bom fotografar algo passando a 300Km/h na minha frente.
Fotografia DG: Sua formação é publicidade com especialização em Relações Publicas e Comunicação Organizacional, como estes cursos influenciam no seu trabalho?
Vernaglia: Esses cursos me ensinaram muito sobre o mercado, sobre o que os clientes fazem e o que querem, suas necessidades em termos de imagem, então acabam me direcionando um pouco profissionalmente. E, definitivamente, influenciaram positivamente na parte de vendas e marketing de meu trabalho. Além disso, eu gosto de comunicação, gosto de estudar comunicação, e defendo que a fotografia seja uma ferramenta de comunicação através da imagem, e não somente uma forma de arte, e sendo comunicação, pode ser estudada e aplicada nos universos de publicidade, jornalismo e relações públicas.
Fotografia DG: Dos seus trabalhos, qual considera o mais marcante e por quê?
Vernaglia: Não tem um específico, mas se tem algo que gosto de fazer e fico muito feliz quando acontece é fotografia aérea. Adoro voar, quando era garoto tinha sonho de ser piloto, então fotografia aérea tem um prazer todo especial para mim.
Fotografia DG: E sobre os contratempos da profissão?
Vernaglia: Existem várias histórias, em geral relacionadas aos contratempos da profissão, as mais tristes são as que se relacionam às burocracias para fotografar lugares públicos. Já fui barrado com meus alunos quando íamos fotografar em museus públicos mesmo tendo recebido autorização dos locais. Chegamos lá e o segurança não nos deixou entrar, pois quem autorizou não passou o papel adiante. Vivemos num país burocrático, ditatorial em muitos aspectos, até feudal, e muitos fotógrafos passam por esse tipo de problema todos os dias. Acho que o pior é não termos liberdade de exercer a prática de nossa arte, algo garantido por leis federais e ignorado por administradores de parques e museus. É uma história que precisa ser dita e repetida, para ver se as coisas mudam.
Fotografia DG: Quais são suas principais influências artísticas?
Vernaglia: Na fotografia gosto imensamente do trabalho de Philippe Halsman, Ernst Haas, George Hurrel, Man Ray, Doisneau e mais alguns clássicos. No cinema – minha maior influência na verdade – sou absolutamente viciado em filmes dirigidos por Stanley Kubrick. Gosto muito do trabalho de direção de fotografia dos diretores Roger Deakins, Christopher Doyle e o gênio Vittorio Storaro. Na pintura gosto muito de Vermeer, Canaletto, Claude Lorrain, Velásquez, Salvador Dali, Kandinsky. Tenho gostos variados, e sou influenciado por isso, então tenho referências na pintura, no cinema, e não só na fotografia. Profissional hoje, que admiro demais, é o diretor de fotografia de cinema Christopher Doyle, se um dia eu filmar ou fotografar com a mesma qualidade de luz que ele tem, serei muito feliz.
Fotografia DG: Como é a experiência de dar aulas?
Vernaglia: É verdadeiramente muito bom. Poder passar adiante algo que sei e aprender diariamente pelo convívio com os alunos é fantástico. Dar aulas me motiva a pesquisar e estudar mais, me ajuda a me manter atualizado.
Fotografia DG: Em quais escolas e de que cursos dá aulas?
Vernaglia: Dou aulas em três escolas. São duas em São Paulo, a Riguardare e o Instituto Internacional de Fotografia – IIF, e uma em Recife, no Instituto Candela. Ensino desde cursos mais voltados à técnica, como o já tradicional workshop Fotometria+Flash, que já teve 20 turmas realizadas na Riguardare, até cursos mais voltados para a arte, como o Curso de Fotografia Autoral e o Curso de História do Cinema com Ênfase na Fotografia, ambos na Riguardare, passando por cursos que mesclam técnica e criatividade artística, como o de Fotografia de Arquitetura, no IIF e no Instituto Candela.
Fotografia DG: Além de fotografo e professor, você também é palestrante, como é esta experiência?
Vernaglia: Dar palestras é similar a dar aulas em alguns aspectos, mas diferencia-se pelo contato menor com o público. Em um curso você passa vários dias com os alunos, troca experiências e tem um contato bem mais próximo. Já a palestra é mais distante, você está lá para falar, expor, tem menos troca de informação do que acontece num curso, o público é maior. Essas são as diferenças mais significativas. É interessante do mesmo jeito, mas é uma experiência diferente.
Fotografia DG: Você também é autor de e-books, certo?
Vernaglia: São dois e-books na verdade, um é o Fotometria+Flash que já passou a marca de 12.000 downloads, o outro é o Ganhar Dinheiro na Fotografia, um livro digital sobre marketing, vendas e posicionamento de mercado para fotógrafos e cinegrafistas, este, mais recente, já teve mais de 7.500 downloads.
Fotografia DG: Já realizou trabalhos com direção de fotografia cinematográfica?
Vernaglia: Este ano é, após muito estudo e preparação, meu início na área de cinema. Estou dando consultoria técnica sobre algumas questões de iluminação e de uso de lentes para alguns curtas metragens. Dirigirei a fotografia de pelo menos um curta. Porém, todos estão ainda na fase de pré produção então ainda não posso comentar muito.
Fotografia DG: Uma boa parte do sucesso da fotografia se dá pela luz. Qual a melhor luz para o seu trabalho?
Vernaglia: Acho que toda luz é boa e interessante, se há luz, com certeza há algo de bom que se possa fazer em fotografia e vídeo, mas se eu puder escolher uma luz, eu escolheria a enorme clarabóia do Pantheon de Roma. Aquela é uma luz sobrenatural que eu gostaria de ter à disposição em minhas fotos e vídeos sempre.
Fotografia DG: Quais equipamentos utiliza e qual a vantagem destes equipamentos?
Vernaglia: Uso a Canon EOS7D, diversas objetivas fixas e zooms da Canon, flashes speedlite Canon, tripés Manfrotto e bolsas LowePro. Ao longo do tempo me decidi pela Canon (antes usei Pentax e Minolta). Na época, a decisão se deu pois a Canon era a única que tinha um sistema de flashes sem fio e isso me interessava pela praticidade e portabilidade. Com o tempo todos os fabricantes alcançaram esse tipo de tecnologia, então hoje eu diria que tanto faz um fotógrafo usar Canon, Nikon ou Sony, são bastante equivalentes, com pequenas diferenças entre as marcas. Continuo com a Canon pois estou acostumado com a ergonomia do equipamento e tenho muitas lentes da marca, o que torna desnecessário cogitar qualquer mudança, visto que a marca continua me atendendo bem. Já os tripés Manfrotto fazem diferença, duram a vida toda, são muito práticos, muito bem elaborados em termos de recursos, ergonomia e estabilidade, por fim as bolsas da Lowepro são como os tripés Manfrotto, parece que são feitas para durar uma vida.
Fotografia DG: Além de todas as experiências comentadas acima, você também é colunista do site Fotografia DG, como é para você compartilhar experiências, conhecimentos e opiniões?
Vernaglia: Acredito que escrever artigos tem um parentesco com dar aulas e palestras, é uma forma de dividir conhecimentos e trocar experiências e idéias com as outras pessoas. O Fotografia-DG é sensacional, o site tem um público bem grande e nele tenho total liberdade sobre o que escrevo, é uma parceria fantástica, que inclusive permitiu o lançamento de meus dois e-books. Além do Fotografia DG, escrevo para a revista Digital Photographer Brasil, uma publicação incrível feita com muito carinho e competência pelo amigo Mario Amaya.
Fotografia DG: Com uma bagagem tão completa, qual a dica do Armando Vernaglia para quem está iniciando?
Vernaglia: Estudar e treinar, por pelo menos umas três horas por dia, todos os dias. Ir ao cinema não para ver o filme, mas para ver luz, enquadramento, foco. Ver pinturas para ver como pintores imaginam luzes, contrastes, cores, ler um livro pensando nas cenas descritas, e assim por diante. É importante não ficar preso à fotografia, tem que ler, literatura é fundamental, pois instiga a curiosidade, a imaginação, enfim, tem que ver e estudar arte, e praticar muito. Quem acha que fotografar de vez em quando, aos finais de semana, sem se dedicar muito, vai trazer resultados, está enganado. Por fim, não acredite que a câmera, por pior ou melhor que seja, vai te fazer um melhor fotógrafo, pois é o conhecimento em artes e em iluminação que diferencia um fotógrafo.