Entrevista ao professor Enio Leite – Fotografia e Literatura Didática
Nessa entrevista, o professor Enio Leite fala um pouco sobre a sua experiência didática acumulada nos últimos 50 anos, sobre o seu livro “Aprendendo a Fotografar com Qualidade”, sucesso de vendas na 4. Edição, as dificuldades em publicar livros didáticos no Brasil e o seu ineditismo de manter canal aberto com o público leitor da Fotografia-DG.
Fotografia e Literatura Didática
FOTOGRAFIA-DG – Você poderia nos explicar melhor como surgiu a ideia de fazer um livro didático sobre fotografia?
Enio Leite – A ideia é muito antiga. Quando comecei a fotografar, isso há mais de 50 anos, a grande dificuldade era encontrar livros de fotografia em português. Tínhamos que procurar em outros idiomas, normalmente em biblioteca públicas, cujas obras já estavam desatualizadas, sebos e emprestadas de amigos. Ou então pedir para quem viajasse para o exterior para trazer alguma coisa.
FOTOGRAFIA-DG No começo não foi nada fácil…
Enio Leite – Não foi nada fácil mesmo. As câmeras eram muito caras, filmes, papeis e reveladores, idem. O preço das lentes eram proibitivos, tudo era complicado! Chegamos a consultar livros em Russo e em Japonês, que por meio das fotos e ilustrações, tentávamos entender as técnicas ali expostas. Ler livros com dicionários na mão era uma grande epopeia!
FOTOGRAFIA-DG – Sim entendo, mas quando você começou realmente a escrever?
Enio Leite – Quando comecei as minhas primeiras aulas no Sesc e no Senac. em 1967. Ainda não havia livros e quando aparecia alguma publicação da Editora Íris, o preço era proibitivo e o conteúdo muito superficial. Passei então a preparar apostilas e a imprimi-las por meio de mimeógrafo.
FOTOGRAFIA-DG – E essas apostilas já eram o suficiente?
Enio Leite – Para as minhas aulas sim! Ainda tínhamos suporte com áudio visual. Eu mesmo selecionava as imagens, fotograva e preparava tudo! Mas a cada novo curso que iniciava, eu preparava novas apostilas, novos slides, com base na experiência dos cursos anteriores, Ficava muito atento nas dificuldades que cada aluno apresentava e procurava supri-las sempre com novo material.
FOTOGRAFIA-DG – Mas por que você já não lançou um livro logo de cara?
Enio Leite – A produção de um livro ilustrado na época demandava em alto custo, no preparo de clichês e matrizes para impressão. O papel e as tintas ainda eram importados. As matrizes de impressão também. As editoras da época não se interessavam pois a procura desse tipo de material era restrita a uma minoria. Os livros utilizados em Universidades naquela época, também eram todos importados. As ilustrações das apostilas ficava por conta dos áudios-visuais. Para baratear o custo, eu mesmo revelava os slides.
FOTOGRAFIA-DG – Situação difícil né?
Enio Leite – Sim e muito! E todos me cobravam isso. Ninguém entendia como um jovem professor naquela época, não poderia dar a virada inicial e lançar seu próprio livro? O trabalho continuou limitado ao mimeógrafo, complementado com projeção de slides.
FOTOGRAFIA-DG – E quando você passou a utilizar novas técnicas de impressão?
Enio Leite – Foi com o advento do Off-Set, na década de 70. A impressão de fotos e ilustrações ainda não erma perfeitas, mas ajudava muito os alunos na leitura e compreensão das novas apostilas. Nessa década houve uma nova revolução, apareceram novas técnicas, novas câmeras, novos filmes, lentes e a popularização da fotografia colorida. O mercado fotográfico se aquecia! E tudo isso começou a ser incluído nessas apostilas.
FOTOGRAFIA-DG – Mas e o livro?
Enio Leite – Bem, o livro propriamente dito, já demorou um pouco mais. Tive que esperar que o parque gráfico brasileiro evoluísse. Já tinha visto livros com excelentes impressões na Europa e Estados Unidos. Mas no Brasil tudo andava a passo de tartaruga. Nosso público sempre teve aversão a leitura.
FOTOGRAFIA-DG – É infelizmente, isso sempre foi uma realidade, mas quando seu sonho começou?
Enio Leite – A ideia inicial estava preparada para a última década do século XX , nos anos 90. Mas com o início da fotografia digital e sua posterior popularização tive que esperar um pouco mais. E ao mesmo tempo começar a se familiarizar com essa nova tecnologia, fando cursos no exteriot. Assim a primeira edição saiu finalmente em 2011.
FOTOGRAFIA-DG – Demorou bastante, né?
Enio Leite – Não quis lançar uma espécie de versão Beta, um material tipo teste, mas um livro que realmente agregasse valor para aqueles que realmente queiram estudar fotografia. Por outro lado, o preço do exemplar deveria ser acessível. Até hoje os livros de fotografia, mesmo os nacionais continuam muito caros!
FOTOGRAFIA-DG – Daí para frente, a coisa foi mais fácil, né?
Enio Leite – Para quem olha de fora a impressão é essa. Mas, na realidade o processo tem sido muito diferente. Ouço muito meus professores, meus alunos e leitores do meu livro. A cada edição, o livro é praticamente reescrito. Sai capítulos velhos, entram novos capítulos, muda-se a redação de outros capítulos, novas ilustrações, novas explanações. Tudo isso para se chegar em um único objetivo. Ensinar fotografia com prazer, rapidez e de fácil entendimento.
FOTOGRAFIA-DG – Soubemos que você promove uma proposta inédita no Fotografia-DG. Os leitores que comprarem o livro no site, tem suporte técnico contigo, gratuitamente, durante 30 dias. É isso mesmo? Não temos notícias de outros autores fazendo isso, em nenhum lugar do mundo! Alguns acreditam ser uma loucura sua…
Enio Leite – Para mim é muito importante saber onde o livro chegou, quem está lendo e quais são as dificuldades que estão encontrando. Esse suporte nada mais é do que a base para entender o público leitor, suas necessidades e a partir disso produzir novas edições.
FOTOGRAFIA-DG – E essa estratégia tem funcionando?
Enio Leite – E muito! Tenho leitores do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e até Macau! A experiência é muito gratificante! Não há palavras para descrever.
FOTOGRAFIA-DG – Quais são seus novos projetos?
Enio Leite – Escrever novos livros, novos títulos. Mas vou ter esperar um pouco. Com aulas na Focus, nas Universidades e com o trabalho do meu estúdio, meu tempo acaba senso escasso… Mas o importante é acompanhar o leitor. Fazer com que ele sinta que estou do lado dele nesses primeiros 30 dias de leitura. A fotografia sempre foi minha paixão e o meu desejo continuar querendo compartilhá-la com todos!
FOTOGRAFIA-DG – Vamos ter também versão e-book?
Enio Leite – Sim, faz parte dos futuros projetos, mas por enquanto o público leitor ainda prefere o livro físico. Para ler, sublinhar, rabiscar, fazer anotações e comentarios nas páginas previamente indicadas, como se fosse um caderno. O preço baixo do exemplar propicia essa possibilidade ao leitor.
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