Em fotografia infantil: quanto menos melhor
Para assim tentar entender sobre a lei da causalidade ou o acaso na fotografia, tomo como base elementos da psicanálise, e da associação livre, criada por Freud para analisar seus pacientes, sendo que deita-se no divã e fala o que vier a cabeça sem uma ordenação tão lógica, ou seja, sem um direcionamento, o paciente fala o que quer, no sentido de se descobrir, e o psicanalista faz as intervenções necessárias. O método ainda continua sendo utilizado.
Levando este pensamento para a fotografia, tomo como base o não direcionamento rígido do fotógrafo por parte de seus fotografados, dar suporte, sim, direcionar rigidamente não. Proporcionar dicas para a pessoa fotografada se portar é algo, tratá-la como um boneco pedindo poses antiquadas é totalmente diferente, isso pode se enquadrar numa relação de poder.
Infelizmente é de se perceber que em grande parte das fotografias direcionadas ao público infantil há o estigma de poses forçadas e uma incansável repetição de clichês, acontece também das crianças serem tratadas como mini adultos. Lembrando que pedir pose para um bebê é impossível, resta deixá-lo tranquilo, alegre e seguro.
A fotografia infantil é a área que mais me atrai, pois fotografar crianças/bebês nem sempre é uma certeza, é uma tentativa, fotografar adultos é uma tentativa, mas pode ser uma certeza.
Várias crianças já dizem: Não quero tirar foto! A um nível mais profundo ela não diz bem isso, mas sim: Não fui com a sua cara ainda, não estou a vontade para que tire fotos de mim! Resta o fotógrafo intervir, forçar uma relação amigável, bem diferente da relação de chantagista, mas sim de amigo, de uma pessoa que ouve, esteja aberta, respeite e dê sorrisos. A criança merece proteção e entre outros fatores.
Na fotografia deve haver uma troca, sou fotógrafo, você é o fotografado, existe uma diferença, ela não é para mais e nem para menos, não há dominador e nem dominado, mas sim pessoas, sujeitos de sua própria existência.
Voltando aos elementos psicanalíticos, para uma breve comparação, o psicanalista em seu consultório fica a cargo da intimidade privada, e o fotógrafo no “estúdio” fica a cargo da intimidade compartilhada. Lembrando que existem elementos semelhantes e opostos.