
Elementos da direção assertiva
Superadas as dificuldades técnicas do manejo da câmera fotográfica, os fotógrafos iniciantes se deparam com a dificuldade em dirigir pessoas que não são modelos. Pensando nisso resolvi compartilhar as ideias que funcionam pra mim!
Percorri um longo caminho para chegar no que hoje chamo de direção assertiva, recorri a livros que explicassem como a natureza humana funciona, suas relações e emoções; mergulhei fundo tentando compreender o que se passa na cabeça do outro, para assim estabelecer uma conexão genuína; pesquisei sobre relações interpessoais, inteligência emocional, conversei com as pessoas, observei seus comportamentos, suas expressões.
Não há uma forma melhor de se aprender sobre como dirigir pessoas sem se debruçar sobre o conhecimento do outro em toda sua complexidade.
Porém, antes de começar, preciso fazer algumas advertências:
- A coneção não rola com todo mundo! Sim, isso é verdade, não será sempre que conseguiremos nos conectar com o outro e isso é natural.
- A direção assertiva requer treino e reflexão, a cada novo ensaio aprenderemos mais um pouco (sobre nós e sobre o outro).
- Existe uma diferença entre o que você idealiza para um ensaio e o que acontece de fato, e você precisa ter consciência disso para não se sentir frustrado. As pessoas tem seus próprios limites e possibilidades, não temos o direito de exigir aquilo que o outro não tem condições de nos dar!
Elementos da direção assertiva:
São elementos que fui construindo ao longo de minha vivência como fotógrafa, não são uma receita pronta e acabada, são apontamentos em constante revisão! Espero que lhe tragam algumas pistas para que possa construir o seu próprio processo de direção de pessoas!
- Autoconhecimento: o primeiro passo é se conhecer, saber quem você é de fato e ter claro o que quer da fotografia. Isso é fundamental para conseguirmos nos conectar com o outro, estabelecer empatia. Só conseguimos despertar no outro sentimentos e emoções que conhecemos, que já vivenciamos.
- Conhecimento de linguagem corporal: não é novidade que o corpo fala, cabe a nos saber ouvir! Entender as mensagens passadas pelos gestos, olhares e mãos daquele que está à nossa frente, facilita na hora de dirigi-lo. Respeitar o espaço íntimo é fundamental! Tem pessoas que não gostam que estranhos coloquem a mão no seu corpo, cometer este erro, pode comprometer todo o ensaio. Portanto, fique atento aos sinais.
- Comunicação: ter uma comunicação clara, coerente, torna tudo mais fluido. O tom da voz dita o ritmo do ensaio. Use também gestos simples e caso ache necessário, utilize a técnica do espelhamento (você faz determinado gesto e pede para o fotografado repetir). O diálogo é o fio condutor de todo o ensaio, portanto mantenha-se na mesma frequência do fotografado.
- Provocar (e não pedir!): provocar é falar com o lado inconsciente do cérebro, e assim, conseguir expressões verdadeiras. Toda naturalidade de um ensaio, deriva das reações inesperadas, dos sorrisos escrachados, dos gestos sutis. Para alcançar esse resultado é preciso deixar o fotografado o mais a vontade possível e ficar atento. O uso dos sentidos no ensaio auxilia para que expressões espontâneas apareçam, trazem à tona memórias afetivas e lindas imagens podem aparecer! Evoque bastante os sentidos durante os ensaios!!!
- Demonstrar interesse verdadeiro pelo fotografado: cada ser humano é um mistério a ser desvendado, e todos tem sua beleza, sua história, demonstrar interesse é identificar essa individualidade e valorizá-la, é querer transformar o ensaio em uma lembrança única. Anos depois o que vai ficar na memória serão as emoções (boas ou ruins) evocadas no ensaio, o que reflete diretamente no significado que as fotos terão.
Dicas sobre o que evitar:
- Expressões sem sentido: faz cara de felicidade, olhar penetrante, agora…. Aquele sorrisão. Se o que você busca é naturalidade, em nada dizer essas expressões vai ajudá-lo.
- Poses estáticas: o uso da pose não é proibido, desde que ela seja uma ponte para se chegar em algum lugar. A pose start pode ser usada, pois a partir dela você vai conduzindo até que a pessoa relaxe. A fluidez e o movimento devem estar associados sempre a pose start.
- Resolver conflitos no momento do ensaio: tudo deve ser acertado antes do ensaio, para que todas as energias estejam canalizadas no ensaio!
- Períodos de silêncio prolongado: a conexão se estabelece também através do diálogo, é preciso manter o fotografado conectado o máximo possível. E não vale ficar conferindo toda hora a imagem no lcd!!!!!!!! Se você ainda tem dificuldade para manejar a câmera, treine, treine e treine, para que na hora do ensaio você só consiga pensar nas emoções que deseja retratar.
- Ficar andando pra lá e pra cá na locação, arrastando o fotografado, sem objetivo: é típico de quem não sabe o que fazer, o fotografado fica cansado de tanto ficar zanzando; se for uma distância considerável, vá sozinho pra ver se vai dar certo, não faça ninguém andar à toa.
E para finalizar, espero sinceramente, que este artigo tenha propiciado a reflexão sobre a sua fotografia e como dica final eu digo: acredite e o seu fotografado também acreditará!
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