As 100+ da Time: Nascer da Terra
Uma janelinha, uma câmera na mão e uma visão privilegiada — e inédita. Lá no espaço Bill Anders deu o clique.
Nunca é fácil identificar o momento em que a História faz uma curva. Quando trata-se da primeira compreensão real humana da beleza, fragilidade e solidão da humanidade em nosso mundo, entretanto, sabemos o instante preciso. Foi em 24 de dezembro de 1968, exatamente 75 horas, 48 minutos e 41 segundos após o lançamento da espaçonave Apollo 8 no Cabo Canaveral em rota para tornar-se a primeira missão tripulada a orbitar a Lua. Os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e Bill Anders entraram na órbita lunar no feriado de Natal do que foi nos EUA um ano sangrento, rasgado pela guerra.
Ao início da quarta de dez órbitas a espaçonave emergia do lado mais distante da Lua quando uma visão do planeta azul e branco preencheu uma das janelas de escotilha. “Oh meu Deus! Olha pra essa foto ali! Aí vem a Terra surgindo. Uau, isso é lindo!”, Anders exclamou. Ele clicou uma foto — em peto e branco. Lovell mexeu-se para encontrar uma lata colorida. “Bem, acho que perdemos”, disse Anders. Lovell olhou pelas janelas 03 e 04. “Ei, achei ela bem aqui!”, exclamou. Um Anders sem peso lançou-se para onde Lovell flutuava e disparou sua Hasselblad. “Conseguiu?”, perguntou Lovell. “Sim”, Anders respondeu. A imagem — nossa primeira visão em cores de nosso planeta a partir de fora dele — ajudou a deslanchar o movimento ecológico. E, igualmente importante, ajudou seres humanos a reconhecerem que num cosmo frio e punitivo ficamos muito bem.