Drago e a selva urbana
A selva da cidade também tem cores e muito movimento — Drago é testemunha
Andar pelas ruas de uma grande cidade como São Paulo é, quase por via de regra, deparar-se com fortes contrastes, sejam econômicos, sejam sociais ou — já que estamos falando de fotografia — de luzes. Victor Dragonetti, também conhecido por apenas Drago, é um dos fotógrafos integrantes do grupo SelvaSP, dedicado a registrar a vida nas ruas. O apelido, evidentemente, veio de seu sobrenome incomum (ao menos em terras brasileiras) e lhe foi dado ainda na infância, perdurando desde então até os dias hoje, como codinome para assinar seus trabalhos.
Drago começou a curtir fotografia com uma velha Zenit encostada de sua mãe, que havia comprado a câmera para ter imagens do nascimento de seu filho. E assim começou a surgir no horizonte o revés daquele que, segundo contou Drago à revista Vice Brasil, era um péssimo aluno nas escolas que frequentou. Não apenas ruim: era considerado quase incorrigível, parando certa vez em uma turma de alunos especiais. Mais tarde, tornou-se exemplo de que, assim como na humanidade não existe um igual a outro, as escolas não devem considerar todos alunos igualmente, nem tentar ‘formatá-los’. Das sombras de um futuro obscuro de quem provavelmente não conseguiria facilmente um bom emprego (por sua formação acadêmica não muito aprimorada), Drago seguiu aos poucos, através de felizes acasos, rumo à luz de um reconhecido talento fotográfico.
Sua foto mais conhecida, de um policial que sangrava apontando sua arma para os manifestantes que o olhavam, foi tirada no calor dos protestos de junho de 2013 em São Paulo. Ela é uma interessante amostra do estilo de Drago: sombras acentuadas e cores quase sempre fortes (quando presentes), lembrando em seu conjunto o estilo do australiano Trent Parke. As fotos de Drago, porém, ainda possuem uma ligeira ‘imperfeição’, seja no enquadramento na agilidade, mas sempre com um resultado final com aquele feeling muito bacana de foto que tiramos casualmente, sem nos preocuparmos demais com composição e etc, e mesmo assim gostamos bastante do que foi captado. Afinal, Drago e a SelvaSP são amadores (o fotógrafo ressalta), e mostram com seu amor pela fotografia e pelas ruas, além do talento, que ser amador não é ser ruim. Você pode terminar fazendo fotos muito interessantes, se não esquecer-se de praticar — mesmo que comece clicando com uma velha Zenit com filme de 36 poses perambulando pela cidade com sua mãe.
fotos via tumblr e flickr do fotógrafo, Vice Brasil