Dos Photoshopers(+) Photographers(-)
Olá leitores do Fotografia DG, sou flavioapu, assim conhecido na web, e venho dar a minha pequena colaboração para esse belo blog e também, claro, para a fotografia e para os fotógrafos. Sou relativamente jovem, tenho apenas 22 anos e o assunto que eu quero tratar não é novidade para muitos e é um pouco perturbador, principalmente por não ser muito discutido nas conversas dos jovens fotógrafos dessa nova geração – vamos simplesmente chamar assim.
Recentemente eu despertei grande interesse em Fotografia Infravermelha. Entrei em contato com algumas pessoas para me informar sobre preços e pontos de venda de filtros, coisa que pouquíssimas pessoas tinham noção, mas o que me chamou atenção foi a forma de pensamento da maioria. “Pra que um filtro infravermelho? Faz isso no Photoshop, muito mais fácil”. A grosso modo é de se pensar: pode ser mais fácil, porém não é original e, além disso, somos fotógrafos, não editores. Na era digital, o Photoshop e o Lightroom assumiram o posto do antigo laboratório de revelação. Além disso, são ferramentas que todos nós devemos saber como operar, chega a ser uma exigência. Não da pra calcular as possibilidades do que pode ser feito no Photoshop, porque é algo que está de acordo com a imaginação de cada pessoa, mas até que ponto vale a pena trocar a fotografia pura pela edição?
Fotografia de Ansel Adams – Mountains
Guardemos isso. Mudando um pouco a direção, mas ainda dentro da mesma linha de pensamento, temos outro exemplo. No dia 22 de maio, deste ano, aconteceu um passeio fotográfico em Ouro Preto, MG. Durante todo o passeio eu registrei exatas 77 fotografias. Após levá-las ao laboratório de revelação (no meu caso, Lightroom), escolhi as que mais me agradaram, num total de 11 fotografias, pra colocar de enfeite na minha casa (Flickr). Quando a turma do passeio fotográfico me visitou e viu que eu já tinha revelado as fotos, vieram comentários do tipo: “Nossa, você foi rápido com as fotos, hein!? Só de lembrar que eu tenho mais ou menos 700 fotos pra tratar, me desanima”. Poxa, estávamos fotografando uma cidade histórica, é um tipo de fotografia que é possível parar pra pensar antes de clicar, não há necessidade de entrar em desespero com medo de perder uma cena. Tudo bem que uma cena ou outra acontecerá espontaneamente e esse desespero será necessário. Mas com a fotografia digital, não tem necessidade de levar tantas fotos pra casa, é possível visualizar o resultado na hora e conseguir uma foto impecável. Entretanto, o que se nota é que há o comodismo de alguns de compor uma fotografia e se ela estiver em condições razoáveis, o restante é feito no Photoshop. “Ah, ficou um pouquinho escuro, mas eu arrumo no Photoshop.” Isso quando as pessoas não simplesmente “zeram o fotômetro” ou ficam tentando acertar a exposição correta, como se estivessem jogando na loteria. Comparando com a época do filme, simplesmente não da pra imaginar como seria esse tipo de comportamento. Além do fato de que antigamente, num filme de 36 exposições a turma aproveitava pelo menos 10 fotos, já a turma de hoje faz 700 exposições e não conseguem aproveitar 50 fotos.
Tive a oportunidade de assistir o curso de iluminação de estúdio do creativeLIVE com Zack Arias, onde Zack disse algo que eu tenho certeza que muitos fotógrafos se identificam com isso. Foi algo mais ou menos assim: “Se durante uma sessão de fotos eu mostrar ao meu cliente a fotografia que eu acabei de fazer, é porque eu quero que ele me veja como um ótimo fotógrafo. Eu quero que a pessoa olhe ao redor e diga: ‘Está de tarde! O que você fez que parece que está de madrugada? Como que você fez isso com uma câmera, sem o Photoshop?”. É isso que os fotógrafos fazem – ao menos deveriam –, eles registram boas imagens na câmera fotográfica. Se antigamente, com menos recursos isso era possível, por que não agora? Temos toda a tecnologia a nosso dispor, blogs com várias dicas para iniciantes, temos o privilégio de ver o resultado de uma fotografia instantes após ela ter sido registrada, podemos ter mais controle de exposição, cor, contraste e ainda tem gente que se acomoda com os “milagres do Photoshop”. Me pergunto se isso é característica da nova geração. Será que por essa geração ter “tudo mais fácil” a maioria das pessoas se acomoda e se entrega aos confortos dessa época?
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