Dicas sobre stills e alta velocidade – splashes
Se até pouco tempo atrás a fotografia era uma arte secreta, dominada por poucos, e se o motivo disso era o raro acesso ao conhecimento, é com grande satisfação que inauguro com este artigo uma nova coluna aqui no Fotografia DG. Estamos no meio da chamada era da informação, em que as fontes do saber são abundantes e as pessoas chegam a se comunicar até mesmo sem o uso de palavras, simplesmente através de imagens. Sendo assim, só posso ter orgulho de integrar um time que tem entre seus objetivos justamente difundir o conhecimento da fotografia a um público amplo.
Quando comecei a me interessar seriamente por fotografia, na década de 60, os livros sobre fotografia eram raros. Não havia professores, muito menos escolas. Equipamentos eram precários e escassos. Um fotógrafo aspirante tinha que aprender técnicas complicadas, incluindo a revelação de seus próprios filmes. Era um conhecimento a ser aprendido empiricamente, revestido de uma magia secreta.
Havia no entanto a revista Life, da qual eu não perdia uma edição. Meu primeiro aprendizado prático foi resultado de uma negociação. Fiquei sabendo que o Schmidt, como o chamávamos, um fotógrafo alemão que estava começando a se profissionalizar na cidade onde eu vivia, Belo Horizonte, pôs à venda um ampliador P&B. Fechei com ele sem barganhar, somente com a condição de que ele me iniciasse no laboratório. Foi um grande impulso, mas que enfraqueceu no tumultuado ano de 1964, quando eu percebi que se ficasse no Brasil nunca seria um fotógrafo realizado. Como eu já me virava bem com francês e inglês, tentei primeiro um visto para os Estados Unidos, mas acabei indo para a Alemanha, meu segundo país de referência na fotografia, então. Lá, terminei por me envolver com show business e segui em um tour de quatro anos por 71 cidades em 23 países da Europa; sem recursos para fotografar, mas cuidando de cenários e iluminação do espetáculo no gelo Holiday on Ice.
Em 1969 veio a oportunidade de ir para Nova Iorque para, enfim, realizar meu sonho de estudar fotografia. E foi fantástico. Ali, na década de 70, a fotografia vivia em estado de efervescência. Galerias surgiam a todo momento. Cursos eram ministrados por grandes fotógrafos, da então finada revista Life. Ainda hoje me recordo vividamente de como fiquei extasiado quando Philippe Halsman, fotógrafo de mais de cem capas da Life, um dos meus ídolos ainda dos tempos de Brasil, me aceitou como aluno de seu primeiro curso, Psychological Portraiture. Paralelamente, conheci Cornell Capa, irmão do Robert Capa, que ainda na New York University, com os cursos do ICP (Internacional Concerned Photographer) fundava o atual ICP (International Center of Photography). Lá tive a sorte de estudar e conhecer pessoalmente vários fotógrafos da Life: Ralph Morse, Yale Joel e Alfred Eisenstaedt , além de Ansel Adams, Roy DeCarava, Lee Friedlander, Eddie Adams e muitos outros.
Agora que me apresentei, posso dizer a que vim: meu propósito nesta coluna é oferecer algumas dicas selecionadas sobre as técnicas profissionais de estúdio, aos aficionados da fotografia controlada, principalmente acerca de stills e alta velocidade na área em que me especializei: os splashes.
Splash é o nome específico que se dá para o registro instantâneo de líquidos na fotografia de alta velocidade. Nessa acepção, a palavra splash é em inglês uma onomatopeia do impacto de um objeto em um líquido, como o som provocado por uma pedra lançada num lago tranquilo. O que me fascina nessa técnica é que cada splash é único: por mais que se tenha controle e disciplina em fotografá-los, eles não se repetem. Para o fotógrafo, a ideia é de que seu trabalho é singular, que nem mesmo ele próprio poderá reproduzi-lo, quem dirá imita-lo!
Aos poucos, veremos que capturar um splash esteticamente atraente é menos uma questão de técnica fotográfica e mais do entendimento dos múltiplos fatores físicos envolvidos no processo de provocá-lo.
Especialmente para esta coluna preparamos um vídeo mostrando como foi feita a foto abaixo, um splash de baixo impacto sem uso de equipamentos especiais, apenas selecionando e montando os objetos de forma a ocasionar o fluxo do líquido usado, em nosso caso, água pura — além de dicas práticas de como controlar o excesso de líquidos residuais sem muita desordem.
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Check-list
- 1 cavalete;
- 1 table-top (cerca de 60 x 80 cm);
- 1 chapa de acrílico preto de 4 mm de espessura, nas mesmas dimensões;
- 1 plástico fino, em dimensões pouco maiores (80 cm x 120 cm);
- 1 taça de vidro (v. modelo);
- 1 rebatedor prateado;
- 1 boa seleção de pimentões frescos
- 1 jarra com água;
- 1 balde;
- 1 fundo preto.
Algumas observações que merecem destaque:
1. A superfície de acrílico foi escolhida por ser à prova d’água. Sem essa característica, a sessão seria quase impraticável, dado o trabalho de trocar a superfície molhada a cada nova foto.
2. Também será preciso coordenar a ação com um assistente. Com a ajuda dele, experimente maneiras diferentes de provocar o fluxo desejado, acerte seu timing com o dele e ensaie antes da foto final.
3. Tente observar a ação de cima da câmera, em vez de olhar pelo visor, com o dedo preparado no disparador. Dessa maneira, você correrá menos risco de errar o timing.
Este artigo fica por aqui e, claro, seus comentários e dúvidas são sempre bem vindos! Boa sorte!
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