Viagens e Fotografia
O fascínio de conhecer e desvendar novos mundos, de poder partilhar e experienciar novas emoções, sensações e culturas está enraizado em nós portugueses, desde a nossa gloriosa época dos descobrimentos.
É algo muito nosso e foi esse fascínio pelo desconhecido que nos moveu na descoberta de quase meio mundo, sem medo de desvendar e percorrer caminhos nunca antes trilhados, levando-nos de encontro a diferentes povos e culturas, sem saber muito bem o que esperar.
Como que uma herança, esse fascínio passou de geração em geração até aos nossos dias e eu não fujo à regra e sinto essa necessidade, essa tentação, esse desejo e sempre que me é possível, ponho a mochila às costas e aí vou eu de encontro a um país, a uma cultura que seja novidade para mim.
Este artigo irá servir essencialmente para dar algumas dicas e conselhos sobre fotografia de viagem, com base na minha experiência pessoal.
Parque Nacional de Auvergne – França
Saber gerir expectativas
Recordo com saudade a minha viagem à Suíça, não só pela beleza do país, um autêntico paraíso para os fotógrafos de paisagem, onde as montanhas, os lagos, os rios e as enormes cascatas entre outras belezas naturais, fazem as delícias de qualquer fotógrafo, mas também porque foi uma das lições mais duras que tive de enfrentar até hoje no que diz respeito à fotografia.
Tudo indicava que iria ser a viagem perfeita para regressar a casa com imagens de raríssima beleza. Confesso que elevei, e muito, as minhas expectativas com base em imagens que através da internet fui visualizando de fotógrafos locais e essa possibilidade fez com que tratasse da viagem ao detalhe, não descurando o mais ínfimo pormenor.
Ao fim de alguns dias na Suíça, e não foram precisos muitos, rapidamente percebi que dificilmente iria trazer as imagens com que meses antes tinha sonhado. Em primeiro lugar era difícil, para não dizer quase impossível estar na chamada “golden hour” nos melhores locais, sobretudo por questões de logística, depois e porque ao contrário do que acontece na nossa área de residência, não poderia voltar a muitos desses locais e repetir assim, a imagem que um dia antes não tinha ficado de acordo com o pretendido. Para finalizar, a luz que eu imaginara apanhar com base em imagens que anteriormente tinha visualizado, nem sempre acontecia apenas e só porque eu estava lá!
Após regressar da Suíça, nos primeiros dias foi difícil conviver com a triste realidade que do ponto de vista fotográfico os objectivos a que me tinha proposto tinham ficado longe de ser atingidos, mas retive três ideias essenciais para o futuro:
- Não poder delinear objectivos com base em imagens de fotógrafos que estão num local o ano inteiro e que podem visitar e revisitar o mesmo local, vezes sem conta, tal e qual como eu faço por exemplo em relação ao Parque Natural Sintra Cascais;
- Sendo eu um amante confesso da fotografia de paisagem, tive de aprender a tirar partido do que as situações do dia-a-dia nos podem proporcionar não ficando única e exclusivamente “preso” à espera do nascer e do pôr-do-sol para fotografar, passando assim a incluir no meu estilo de fotografia o mero registo documental;
- Dar mais valor aos locais da minha área de residência e, ai sim, aumentar o nível de exigência em relação às imagens que obtenho.
Jaipur – Índia
O equipamento
Outra questão fundamental quando se prepara uma viagem, é o equipamento a levar na mochila.
Esta é uma questão pertinente para o fotógrafo. Ao contrário do que leio em muitos livros e revistas da especialidade, que aconselham que sejamos práticos e que levemos a nossa mochila o mais leve possível, eu levo sempre o meu material todo. É apenas uma questão de compromisso, mas prefiro ter mais peso na mochila do que me arrepender por não levar determinado equipamento.
Lista de equipamento que normalmente levo na mochila:
- Se possível, deve-se levar duas câmaras. Por dois motivos: em caso de avaria existe sempre uma alternativa e ainda permite que em cada uma das câmaras tenha objectivas com diferentes distâncias focais;
- Levar objectivas que cubram as distâncias focais mais comuns: grande angular (10-20 mm), lente intermédia (28 – 135 mm) e teleobjectiva (70 – 300mm);
- Vários cartões de memória;
- Pelo menos 2 discos portáteis para descarregar as imagens. Fazer sempre copia do mesmo cartão de memória nos 2 discos, garantindo assim que, se um dos discos portáteis avariar, existe sempre uma cópia de tudo o que foi fotografado;
- No mínimo 2 baterias por cada câmara fotográfica;
- Tripé, cabo disparador e filtros (polarizador, graduados e graduados de densidade neutra);
Guilin – China
Outras dicas
Para finalizar o artigo, deixo ainda uma pequena lista com algumas dicas que julgo úteis antes e durante a viagem.
Antes da Viagem:
- Planear a viagem de forma a conhecer o melhor possível os locais com mais potencial fotográfico. Com a ajuda da internet e do inevitável Google Earth, quase que é possível conhecer um local sem nunca lá ter estado antes;
- Analisar no Google Earth, qual a orientação do sol no nascer e pôr-do-sol;
- Ter planos sensatos durante a viagem e não querer visitar e conhecer tudo, diminui e muito a probabilidade de se vir a obter boas imagens;
Durante a Viagem:
- Não procurar fazer imagens apenas artísticas. Fazer também imagens documentais, permitindo assim ter um conjunto final de imagens bastante diversificado;
- Procurar locais pouco fotografados e não ter medo de inovar, por vezes conseguem-se boas surpresas;
- Levantar cedo e fotografar o nascer-do-sol, nunca se sabe o que realmente pode acontecer, desde que se tenha um plano prévio daquilo que se irá fotografar.
- Consoante o local, ter um plano diário de locais para fotografar o pôr-do-sol;
- Se necessário, contratar um guia / tradutor uma vez que facilita a descoberta de sítios mais recônditos e facilita também a comunicação com os locais;
- Se possível, passar vários dias na mesma área, para melhor perceber como funciona a luz no nascer e no pôr-do-sol. Permite ainda corrigir eventuais erros que surjam numa 1ª tentativa;
- Ter sempre presente que mais vale uma boa imagem de um determinado local, do que várias imagens razoáveis;
- Não ter receio de abordar os nativos no sentido de os fotografar;
Ilha de Skye – Escócia
Texto e imagens por Nuno Luís, membro da equipa FOTONATURE.
www.foto-nature.com
www.nunoluis.net