
Dicas de iluminação natural simulando estúdio
Salve, galera.
Depois de muito tempo sendo leitor do Fotografia-DG, finalmente tenho a oportunidade de contribuir com o site. Sou Icles Rodrigues, fotógrafo vivendo em Florianópolis e que ainda se proclama amador, pois não faço da fotografia minha profissão, fazendo alguns trabalhos remunerados esporádicos de acordo com a demanda. No momento, tentando se especializar em ensaios de nu, sobre os quais pretendo dissertar em breve.
E é justamente essa postura de viver na linha tênue entre o amadorismo declarado e o flerte com o profissionalismo em trabalhos que ultrapassem o escopo do hobbie que me faz acreditar que posso contribuir com o site, principalmente no que tange a dar dicas para os iniciantes e amadores (lembrando que esses termos não são necessariamente sinônimos), pois assim como muitos outros, tive uma série de limitações impostas não apenas pela falta de conhecimento adquirido, mas pela falta dos recursos para investir em equipamentos que pudessem me abrir novas perspectivas de experimentação e, consequentemente, me dar chances de praticar e executar os trabalhos a partir de novos paradigmas.
Nesse primeiro artigo para o site, pretendo seguir esta proposta e trazer algumas dicas de como simular fotos de estúdio (ou pelo menos aproximar o resultado) sem uso de flash; apenas lembrando que certas fotos de estúdio possuem um bom número de luzes que talvez não possam ser simuladas. Mas é possível conseguir bons resultados em condições relativamente simples, e tentarei exemplificar através de exemplos.
Este ensaio foi originalmente planejado para ser feito com um Speedlight SB80 DX, da Nikon, usando um Octobox de 80cm com grid, cujo tripé estaria posicionado no centro da imagem, onde a luz seria projetada de cima para baixo, dando uniformidade à iluminação e evitando muitas sombras, pois a ideia era fazer um ensaio alegre, ressaltando as cortes.
No entanto, optei por usar a luz da janela (à direita da imagem), aproveitando ser o vidro da janela opaco por ser um apartamento de térreo, enquanto o flash (lado esquerdo da imagem) seria usado para fazer luz de preenchimento na potência 1/128. Percebam que a luz do lado esquerdo da imagem é menos intensa, mas mantem uma tonalidade neutra, típica de flashes e que casa com a luz provida pela janela.
No entanto, depois de algumas fotos, o flash foi deixado de lado, sendo substituído por um rebatedor dourado em cima de uma cadeira, aproveitando que a modelo estava sentada e a altura da luz se adequaria.
A opção pelo rebatedor dourado se deu pelo fato do ensaio ter como predominância cores quentes, além da luz de tonalidade laranja/amarela combinar com a cor dos cabelos da modelo (até mesmo realçando-a em algumas imagens, se compradas com algumas das fotos onde o flash foi usado). Percebam a tonalidade amarelada da luz projetada no queixo e no pescoço da modelo principalmente.
Para a composição de ambas as imagens foi utilizada uma Nikon D5100 com uma AF-S Nikkor 35mm f/1.8G configurada com ISO-640, f/3.5 e 1/60 de velocidade (com tripé). Percebam que, pela luz natural ser a principal fonte de luz, flash e luz rebatida foram praticamente equalizados em intensidade.
O uso da luz natural está condicionado às condições do clima, que afeta desde a intensidade da luz à sua temperatura de cor. No entanto, é possível conseguir excelentes resultados com seu uso.
A janela opaca ofereceu uma luz difusa que certamente contribuiu para o resultado. Mas e se não fosse o caso?
Uma alternativa seria adquirir pedaços de tecidos brancos transparentes que podem ser colocados como cortina (ou mesmo colados na parede com fita adesiva, como foi feito com o fundo vermelho das fotos anteriores), suavizando a luz. Podem ser achados com facilidade em qualquer loja de tecido, e caso não conheçam uma opção para tal, recomendaria voil (ou voal, dependendo de onde você procura e cuja pronúncia é a mais adequada para o português), cuja transparência permite uma ótima entrada de luz e, dependendo da conjuntura, ainda dá certa privacidade ao ensaio em relação a transeuntes, vizinhos, entre outros, pois se dentro do ambiente ela suaviza a luz, do lado de fora reflete a maior parte dela. Isso é algo importante de se ter em mente em ensaios de nu, sejam eles sensuais ou não, já que há um mercado ativo cujas clientes não são modelos profissionais, e muitas delas nunca sequer posaram para alguém antes. Logo, a privacidade é fundamental.
Para a iluminação da imagem acima, foi utilizada apenas a luz da janela (que era indireta, pois o sol não incidia diretamente por ela em nenhum horário do dia) e um pedaço de voil/voal dobrado, aumentando a difusão da luz. No entanto, é necessário alertar ao fotógrafo que atente para a configuração adequada da câmera. Embora a luz nestas imagens tenha ficado muito satisfatória (a ponto de muitas pessoas acharem ter se tratado de um ensaio em estúdio), o resultado final apresentou fotos com pouca nitidez, diante do uso inadequado da câmera em meu primeiro ano de trabalho.
Outro ponto a respeito dessa imagem que precisa ser ressaltado é a ausência de luz de preenchimento. Nesse caso em particular, por ser um ensaio com um clima mais sombrio, optei por não usar rebatedor. Contudo, em muitos momentos ele será importante. E como o fotógrafo iniciante pode tentar suprir a necessidade de um rebatedor, caso não tenha condições de adquirir um imediatamente?
Para retratos é possível optar por protetores de sol usados nos para-brisas de carros. A área de rebatimento de luz não é tão abrangente quanto a de grandes rebatedores usados por diversos profissionais. Mas levando em conta seu preço (aproximadamente R$ 20) e o fato de ser vendido em diversas lojas de acessórios para carros, pode ser uma alternativa rápida para quem tem pouco dinheiro, ainda que ele dê apenas uma opção de rebatimento, ao contrário dos rebatedores 5 em 1 que temos no mercado.
Em casos onde a luz refletida precisa ser mais suave, é possível apostar em placas de isopor, ainda que sua durabilidade seja pouca. No caso de rebatedor preto para anular o rebatimento de luz, é possível usar qualquer tecido preto, inclusive por cima da citada placa de isopor. Já para simular rebatedores dourados, seria necessária uma busca mais abrangente. Já estudei até mesmo o uso do fundo do papel de um ovo de páscoa cuja marca não citarei, mas cujo interior era dourado. Deixe sua criatividade trabalhar nesse sentido!
Já o fundo das imagens, vai da criatividade do fotógrafo. Eu costumo optar por paredes brancas e tento manter as modelos afastadas da parede (dentro das possibilidades que o espaço físico permite) para que a projeção de sua sombra seja a mais discreta possível; se a distância permite, é possível mesmo anular as sombras.
Por fim, basta citar que os resultados obtidos nessas fotos não exigiram nenhum grande trabalho de tratamento que não fosse o uso da ferramenta de claridade do Lightroom, saturação seletiva de cor (no caso do primeiro ensaio) e diminuição da saturação na segunda, entre outros recursos de tratamento simples. No entanto, a edição das fotos passa por um processo pessoal de descobrimento, aprendizado, estabelecimento de paradigmas, entre tantas outras coisas nas quais prefiro não opinar, dada a miríade de diferenças entre o gosto dos fotógrafos, iniciantes ou não.
Por hoje é isso. Espero que estas dicas possam ser úteis para os iniciantes na fotografia com poucas condições de investir em iluminação. É sempre bom exercitar a criatividade e tentar esgotar todas as possibilidades que o ambiente lhe dá antes de dar novos passos em investimento com equipamentos, resistindo ao ímpeto de comprar material descontroladamente e, depois, acabar não sabendo usá-lo. Dê tempo ao tempo, experimente muito e explore todas as possibilidades que o momento lhe dá.
Até a próxima.