Criatividade: ainda é possível?
A internet mudou tudo. A forma como temos acesso a conteúdo de todo tipo mudou radicalmente. Somos bombardeados constantemente por um mundo – ou mundos – de mais e mais informação, e para nós, fotógrafos, informação visual é o que não falta. O que acontece é que, por muitas vezes, no meio dessa enxurrada, algumas coisas caem na graça popular e com isso começam a ser reproduzidas de maneira indiscriminada.
Não estou falando qualquer novidade. O assunto é mais que recorrente. De tempos em tempos aparece uma avalanche de fotos da moda. Na fotografia de casamento, nicho de mercado no qual estou mais inserido, as modinhas são muitas: são os splashes e as fogueiras nas alianças, os lightpaintings e as exposições duplas, múltiplas… O problema não está nestas linguagens em si, mas no fato de que, de um modo geral, não vemos criações ou releituras, mas meras repetições de imagens famosas.
Todos sabem que a linha que separa a inspiração e o plágio é extremamente tênue. O que difere o criador? Ele se nega a se repetir, mesmo quando está sendo repetido pelos demais. Está sempre se reinventando, mesmo quando parece ter atingido seu ápice criativo. Então me parece óbvio: a melhor forma de seguir os passos de um grande criador não é copiando sua obra, mas usando-a como orientação para definirmos nossos próprios caminhos. Aliás, o mesmo acesso à informação que cria as modas, deveria servir também para estimular a experimentação.
Cada fotógrafo, mesmo que de um determinado mercado, pode buscar referências em outros nichos da fotografia e mesmo em outros suportes de mídia ou artes, como o cinema e a pintura. Tá bem, eu sei: tem aquela fotografia que deu uma vontade louca de fazer igual. Então redirecione sua energia! Experimente não tentar reproduzi-la, mas estudá-la, entendê-la, compreender seus fundamentos técnicos, experimentar e enumerar as sensações que ela te passa. Depois, pense em como reproduzir estas experiências e não a imagem em si. Substitua elementos, mude a composição, repense a luz e crie uma releitura única. Isso é se inspirar, não imitar.
Se você experimentou e chegou num resultado parecidíssimo com aquela foto famosa, seja honesto com você e com os outros e não finja que é sua criação. Aproveite e use este conhecimento para repetir de muitas outras maneiras até chegar a novos resultados. Lembre-se que você não precisa ser o outro. A inspiração genuína é aquela que te torna cada vez mais você.
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