Como ter boa qualidade sonora em seus filmes
Há uma máxima na vídeo produção que diz que o espectador até suporta ver um filme com a imagem não tão bacana, alguns erros de cor, um pequeno desfoque ou imagens com pouca estabilização são alguns crimes perdoáveis, e por vezes fazem até parte da linguagem do filme, ajudando na absorção da mensagem desejada.
Porém raramente a audiência irá suportar um filme com som ruim. A baixa qualidade sonora confunde, irrita e cansa o espectador, que nestes casos tem que fazer um esforço tremendo para entender a mensagem, ficando quase impossível relaxar e se divertir com a história.
É polêmico dizer, mas acredito que a qualidade sonora é mais importante que a qualidade visual. É claro que o ideal sempre é o somatório dos dois, porém se o investimento ou as circunstâncias lhe fizerem escolher, acredito que o lado certo a seguir é preocupar-se mais com as exigências dos ouvidos.
Há uma regra que endossa este pensamento: Perca mais tempo escolhendo a trilha sonora do que as imagens. O nome já diz tudo: Trilha sonora. Ela é o trilho do seu filme, o condutor das nuances, emoções e clímax. Ela tem a capacidade de amplificar a importância de uma imagem e é claro, diminuir de outra. Ainda ajuda a compor um ambiente, trazendo para o espectador os sons de tudo que é visível em cena e daquilo que não aparece, mas entende-se, pelo som, estar presente.
O áudio de um filme pode ser dividido em partes. Temos as trilhas sonoras, ou seja, as músicas, temos os áudios de objetos, seres e ambientes e por último as falas, conversas e depoimentos que ajudam a contar as histórias.
No atual universo digital raramente você não terá acesso às músicas com altíssima qualidade, elas estão à venda em vários sites especializados na internet, há aqueles que ainda oferecem músicas de forma gratuita, pedindo apenas os créditos. O youtube, por exemplo, tem uma galeria de músicas free que podem ser baixadas e livremente utilizadas, possibilitando até a monetização do seu filme na plataforma.
https://www.youtube.com/audiolibrary/music
Esta galeria está sendo ampliada constantemente, ficando cada vez mais interessante.
Porém o problema costuma morar nos áudios captados no set de gravação. Seja um filme, um documentário, um evento ou reportagem jornalística, a gravação em campo sempre apresenta uma gama de desafios muito grandes. Nem sempre temos um set “hollywoodiano” e o gerenciamento da gravação dos áudios pode não ser tão fácil e eficiente como gostaríamos.
Além disso, não raro o orçamento é limitado e o time composto pelo operador de áudio junto com possíveis equipamentos alugados pode ser carta fora do baralho. Isso é um erro por si só, pois eles certamente valem o investimento.
Estamos na época das DSLR e suas irmãs, as aclamadas mirroless. Juntas elas formam a dupla que domina o mercado do audiovisual de baixo e até médio orçamento. O problema é que nenhumas das duas possuem um microfone que possa ser chamado de microfone. Embutido na câmera ele tem apenas a função de não deixar o filme mudo, porém pouco podemos esperar dele. O mercado oferece algumas soluções boas com preços atrativos, são microfones direcionais, (falaremos deles mais a frente) que fixados na sapata do flash podem ajudar muito, trazendo um áudio com muito mais qualidade e vários detalhes sonoros das imagens.
Já que começamos a falar de microfones, vamos viajar em alguns modelos e características:
Simplificando existem dois tipos básicos de microfones, os condensadores e os dinâmicos, e deles se derivam uma infinidade de modelos para as mais varias situações.
Grosso modo os dinâmicos não precisam de uma fonte de energia, são conectados por cabos, normalmente mais resistentes (usados no palco, durante shows musicais, por exemplo) eles tem uma qualidade inferior aos condensadores, que precisam de energia externa, seja ela por baterias ou phanton ( que é uma saída de energia da câmera ou das mesas de som para alimentar o microfone). Os condensadores são mais frágeis e possuem uma qualidade de captação de áudio superior.
Alguns modelos de microfones frequentemente usados no audiovisual
PZM (Pressure zone microfones)
Utilizados para captar o som em um ambiente homogêneo, ele tem a capacidade de equalizar a grande maioria dos áudios de um local, é muito utilizado para captar o som de uma plateia durante shows e esportes. Também é conhecido como microfone de mesa.
Microfone de Lapela
Largamente usado em emissoras de televisão, ele é praticamente um pingente que capta áudio. Extremamente versátil, pode ser colocado nas roupas, chapéus e até escondidos em elementos do SET de gravação. Porém por serem muito sensíveis, eles frequentemente podem gravar sons não desejáveis, como a respiração, roupas raspando na capsula, barulho de colares e joias ou até o som do vento. Se ficar perto demais da fonte o áudio pode ficar abafado, e quando instalado muito longe ele pode ficar ofuscado por ruídos. Porém quando bem utilizado o resultado surpreende.
Microfone Shotgun
Os microfones Shotgun são largamente utilizados na vídeo produção, sua fácil aplicação e versatilidade permitem que sejam simplesmente instalados nas sapatas superiores das câmeras proporcionando uma captação de som mais eficiente de forma simples e prática. São eles os aclamados “microfones direcionais” que salvam o som das DSLRs e mirroless mundo afora. Também podem ser colocados na ponta de uma vara, e nesta configuração chamam-se de “boom”, microfone operado por um profissional qualificado que tem a característica de ser apontado exatamente para a fonte de áudio (quase sempre alguém falando) e captar sons com qualidade muito elevada.
O shotgun tem como característica a captação do som que está diretamente à sua frente, ele também consegue uma captação pequena do som que está atrás. Já os sons laterais são pouco agraciados por este tipo de equipamento.
A captação está ok? Agora tem que gravar!
Quando você quebra o cofrinho e decide investir em um microfone de qualidade, a dica é você também adquirir um bom gravador de áudio. Eles possibilitam modulações, gravam arquivos com baixa compactação, permitem gravar por várias horas (isso depende muito da capacidade do cartão usado para tal) e possibilitam, por vezes, a gravação de mais de uma fonte de áudio, tendo a capacidade de mixar microfones conectados a eles com o som do seu próprio microfone interno, pois há modelos que vem com excelentes captadores embutidos, sendo mais uma confiável opção para gravar o som direto.
Eles podem inclusive ser encaixados na sapata superior da câmera e fazer às vezes do microfone direcional.
Edição do som
Assim como as imagens os áudios podem e devem passar pelo processo de edição. Muito se pode fazer por ele em softwares especializados. Equalizações, redução de ruídos, mixagens, cortes e inserção de efeitos… Os recursos são infinitos e o limite costuma ser a criatividade e conhecimento do operador.
Porém mesmo com tantos recursos de edição há alguns erros que podem ser irreversíveis. Um som alto demais, praticamente inaudível pelo excesso de ganho na gravação é com certeza uma das situações mais difíceis de corrigir na edição. Na dúvida um profissional experiente sempre irá escolher gravar o som baixo, assim ele pode posteriormente amplificar no processo de edição. Já a salvação de um áudio gravado alto demais, conhecido como “estourado” ou saturado muitas vezes é impossível.
Área de trabalho – Software de edição
Mesmo com tantos recursos à disposição, a melhor qualidade ainda vem quando o capricho e carinho são amplamente utilizados no set de gravação, ou no caso de eventos (onde muitas vezes não podemos controlar o som que está sendo gravado) a criatividade e sensibilidade de operador fazem toda a diferença.
No mercado de casamento, onde atuo, há inúmeras dificuldades para gravarmos um bom áudio. Igrejas antigas com mesas de som desreguladas e por vezes defeituosas, festas barulhentas e casais tímidos são obstáculos que exigem grande manobra para termos qualidade nas gravações. Colocar um microfone de lapela no noivo ou no padre (ou nos dois), prender um gravador de áudio na caixa de som, ligar outro gravador na mesa de som da igreja e colocar um terceiro na frente dos músicos são saídas que podem ajudar muito o produtor do filme a ter um áudio mais fiel e compatível com as belas imagens.
Não poupe esforços para ter uma boa captação, garanto que ao montar um filme com ótima qualidade sonora todo o esforço valerá a pena. É possível editar mixando duas, três, quatro trilhas de áudio, na verdade não há limites. Uma boa montagem de áudio ajuda a criar atmosferas, ambientes e personagens.
A junção da trilha sonora, sons diretos e falas podem fazer o espectador viajar na idéia proposta pelo criador. Mesmo em situações que a imagem não tenha tanta força, a eficiência do áudio com certeza irá surpreender!
Este artigo foi escrito pelo professor Romulo Rosa.
Facebook | Instagram