Atrás de Canon e Nikon existe uma pessoa
Bem, vou começar pedindo desculpas por fazer um texto tão grande. Mas, confesso, não seria capaz de sintetizar tanta coisa que acredito ser importante, pois foram para mim.
Vejo em todos os fóruns pessoas, jovens basicamente, preocupadas com modelos de câmeras, megapixels, lentes claras, flashes, full frames e muito mais…
A fotografia, assim como grande parte das profissões, tem dois lados que se destacam: conhecimento e dom. E, para se ter sucesso, que é diferente de fama, tem que desenvolver os dois SEMPRE.
Hoje, fica parecendo que é muito fácil ser fotógrafo… Claro, tecnicamente você tem: view, asa (ISO) puxada até 4000/6000, pode dar um monte de clicks num só assunto, depois photoshop e lightroom e um monte de filtros e efeitos que mascaram uma foto, para, finalmente, entregá-la ao cliente… Não é demérito para quem faz, eu trabalho com essas ferramentas também… Contudo, o que falo é que falta um pouco mais de preparo e desenvolvimento no dom da fotografia. E isto eu tive por ter o “privilégio” de ser velho.
Trabalhei com câmeras mecânicas, com flashes de carga cheia e meia carga, filmes de 36 poses e, depois do evento, você tentava dormir e não conseguia, pois ficava preocupado se acertou o diafragma na hora em que a noiva beijou o noivo… Sim, você não tinha um segundo click… Trabalhava-se com três corpos de câmeras pesadas e barulhentas, se virava em vinte para não perder um momento…
Mas esses sufocos criaram uma “casca”, uma forma de ver a profissão que me dá tranquilidade de pensar antes de clicar, de antecipar o que você verá na hora do trabalho, de planejar e, claro, isto reflete no resultado final. Não sou um profissional famoso que tem somente a fotografia como sobrevivência, mas ganho minha graninha “de boa” como falam hoje… Contudo, estou sempre buscando a informação técnica e emocional para essa profissão… E o que é isto, informação emocional? É buscar referências para a formação profissional que não estão diretamente ligadas à atividade: artes plásticas, história da arte, psicologia, sociologia, tudo onde a imagem tem significado… Um tal de Rafael, da escola holandesa, já sacava de iluminação lá nos anos 1400… Leonardo da Vinci sabia composição lá nos anos 1500!!!
A atividade comercial da fotografia séria não é uma arte. É uma profissão que vem a todos os dias se aprimorando com leitura, estudo, treinos, testes e muita, muita observação do mundo… Quando vejo uma foto legal, que me interessa, pergunto para mim: ”cara, como é que ele conseguiu fazer isto?” e tento responder tecnicamente… E, até mesmo, tentando na prática fazer igual…
Fotografia tem dois aspectos que se diferenciam bem: dominar e ser dominado pelo assunto. Vou dar um exemplo simples. Pôr do sol, todo mundo faz a mesma foto, de quem tem celular até o último modelo de Hasselblad 3hd mega plus high tecnolgy plus… Agora, se, na mesma cena, o cliente pediu que tenha um casal fazendo um piquenique na contraluz, tendo que realçar uma garrafa de vinho colocado à esquerda, próxima ao primeiro plano, aí a coisa complica… E complica muito MESMO!!!
[highlight]A foto acima (a hora do tigre foi beber água) foi feita com uma contraluz, sombras duras e pele escura. Para registrar o tigre, flash direto sobre o objetivo, uma subexposição…[/highlight]
Vejo muita gente seguindo um caminho curto querendo o sucesso rápido e preocupado entre CANON e NIKON… Moçada, se pedirem para eu escolher entre uma Ferrari ou um Porsche, só saberia escolher na teoria, para mim não adianta nada, não sei dirigir…
Por trás da câmera está a ferramenta mais importante: o conhecimento humano…
Desculpem, falei demais e não ajudei a quem quer decidir entre Canon e Nikon.