Alterações emocionais na gravidez e suas implicações no ensaio de gestante
Nos dois primeiros artigos dessa série, vimos algumas mudanças estéticas que interferem na autoestima das gestantes e as mudanças fisiológicas que devem ser levadas em consideração durante o ensaio fotográfico.
Agora, chegamos ao fim dessa série falando um pouco mais sobre o turbilhão de emoções, com enfoque nas mais negativas, que estão envolvidas na gestação e como o fotógrafo deve lidar com isso antes, durante e após o ensaio.
A gravidez é considerada como o acontecimento que gera mais alterações no corpo humano durante toda a vida, sejam elas físicas, fisiológicas, psicológicas ou até mesmo sociais. Todas essas alterações interferem em como a mulher se relaciona com o mundo exterior.
Medo, ansiedade, angústia e dúvidas sobre a capacidade de ser mãe e o futuro do bebê fazem parte da rotina da maioria das gestantes, especialmente as de “primeira viagem”, em maior ou menor grau. Não obstante, toda a questão emocional é exacerbada por uma enxurrada de hormônios produzidos e liberados pelo corpo durante o período gestacional, causando irritabilidade, maior sensibilidade e instabilidade emocional.
O principal hormônio associado à gestação e que também altera as emoções da futura mamãe é a progesterona, mas também existem outros hormônios envolvidos: o hCG, o hPL, o estrogênio, a prolactina, a relaxina e a ocitocina. É importante ressaltar que esses hormônios atuam mais fortemente em momentos diferentes da gravidez, por isso, as fases psicológicas são divididas em trimestres.
Primeiro trimestre: um acontecimento, muitas emoções
O primeiro trimestre da gravidez é marcado por uma grande carga emocional. Ao descobrir-se grávida, a mulher pode passar por muitas alterações em seu psiquismo. A necessidade de aceitação no caso de uma gravidez não planejada, a transformação da filha em mãe e as expectativas com o bebê, na primeira gestação ou todos os medos e dúvidas com o futuro tomam conta da mente neste período. Além disso, a ação aumentada da progesterona leva à fadiga, irritabilidade, oscilações de humor e sonolência.
Nesse período, algumas gestantes – em especial as mais ansiosas – já começam a se preocupar com o ensaio fotográfico e a entrar em contato com os fotógrafos. Como é um momento bastante instável para a mãe em formação, demonstrar interesse por sua gestação é uma forma de conquistar sua confiança. Ao mesmo tempo, evite forçar o fechamento do contrato, já que nesse período a identidade materna ainda não está formada e é possível que a cliente fuja de você.
Segundo trimestre: a relação com o corpo e com o outro
Nesta fase, o organismo já está mais adaptado às mudanças hormonais que atingem diretamente as emoções. Porém, é no segundo trimestre que a mulher começa a notar as mudanças físicas em seu corpo, que pode gerar insegurança quanto a si própria e ao seu relacionamento. Em um nível mais profundo, principalmente na primeira gestação, surge o temor de não voltar a ser quem era antes. Por isso, ao conversar com a futura cliente, o fotógrafo deve entender que, nesse momento, a parturiente pode estar muito sensível, exigindo um cuidado especial no que se fala e uma atenção maior. Muitas vezes, essa mulher vê no profissional uma espécie de psicólogo, onde pode conversar sobre as frustrações com o seu corpo. É importante estar atento às suas inseguranças, de preferência anotando aquilo que está incomodando em sua aparência, para que esses aspectos sejam levados em conta durante o ensaio.
Terceiro trimestre: ansiedade e insegurança pela chegada do novo membro à família
No terceiro trimestre a gestante chega à reta final da gravidez. O corpo atua em seu limite, dando prioridade ao desenvolvimento do bebê e trazendo cansaço, inchaços, dores e deformação corporal para a mãe. Com a autoestima quase sempre diminuída, é justamente nesse período em que ocorre o ensaio fotográfico. A relação entre estética e auto estima foi tratada no primeiro artigo, portanto, não será enfatizada nesse texto.
Para além das mudanças físicas, os hormônios atingem seu pico e voltam a exacerbar sentimentos de medo, insegurança e ansiedade, como no primeiro trimestre. A ansiedade, em particular, é o sentimento que dominará todo o processo fotográfico. Por isso, é imprescindível manter a cliente calma. Para que isso aconteça, deve-se deixar claro, desde o princípio, sua forma de trabalhar e suas regras. De preferência, agrupar todas as informações mais importantes no material de orçamento e no contrato. Também enviar, com antecedência, recomendações para o ensaio e tirar todas as dúvidas da gestante antes do ensaio. Por último, reforçar as datas de entrega das fotos, até porque, nesta fase, a futura mãe também pode ter lapsos de memória.
Outro fator que poderá gerar implicações no ensaio fotográfico diz respeito ao relacionamento entre o casal, que frequentemente sofre alterações, seja por todas as mudanças que ocorrem com a mulher, pela dificuldade de entendimento e falta de preparação psicológica do homem, pela mudança nos papeis (de enamorados para pai e mãe) e na dinâmica da relação do casal ou até mesmo pelos medos e inseguranças de ambos com o futuro. Dessa forma, esteja preparado para passar por situações de desentendimento entre os pais, mantendo-se sereno e, dentro do possível, buscando solução para os conflitos que possam surgir, desde que relacionados ao ensaio. Cuidado para não se intrometer ou opinar sobre os problemas do casal nem fazer graça em momentos tensos. Por outro lado, não aceite violência psicológica ou física entre o casal ou contra você. Posicione-se e, se preciso, cancele o ensaio por justa causa.
Depressão: um problema sério
Por fim, precisamos falar sobre a depressão, um problema sério que pode ocorrer durante a gestação e que, muitas vezes, você não conseguirá interpretar os sinais no pequeno espaço de tempo que conviverá com a grávida. Como fotógrafo, fique atento aos sentimentos de apatia, tristeza, passividade, depreciação e negatividade. Caso identifique algum indício de depressão, tente elevar seu ânimo com elogios e palavras positivas durante toda a sessão. Conte histórias otimistas pessoais ou de outras fotografadas sobre a maternidade. Sua responsabilidade é não deixar que a depressão prejudique a sessão, mas você também estará contribuindo para o bem estar geral da cliente.