
Alimento para ego ou série fotográfica?
Na contemporaneidade a quantidade de conteúdo visual é enorme, e a fotografia vem se destacando neste cenário, e consequentemente gera o surgimento de uma enxurrada de séries fotográficas. Há inúmeros temas, cachorrinhos, mulheres que fogem do padrão de beleza e de peso, pessoas segurando cartazes, denunciando preconceitos e estereótipos da sociedade contemporânea.
As séries fotográficas não tem a obrigatoriedade de serem lindas, ou apresentar um apuro técnico avançado, mas sim, ela deve ter algo para se mostrar, uma causa real, uma essência, não aquela rasa: Terminei com o meu namorado, agora vou fazer uma série de autorretratos “selfies” demonstrando a minha solteirice. Estou acima do peso, vou escrever em meu corpo que sou linda! Será que tal situação merece títulos de arte? Esta exposição banal do corpo mudará a real condição do sujeito? Pode até ganhar a mídia, mas depois de um tempo se esfacelaria no universo da internet, caindo ao esquecimento. Ao que parece “series fotográficas” mesquinhas servem para apresentar esse velho ranço pequenino do ser humano, uma vontade de ser visto, de mostrar sempre no outro o motivo de sua possível desgraça, apontar com o olhar de um carrasco e punir com o martelo de um juiz.
Sim, séries fotográficas merecem existir, os protestos devem acontecer, mas em que nível está sendo inserido? As fotos lutam realmente por uma quebra de preconceitos, paradigmas, tem um comprometimento real com a arte? Ou servem para alimentar egos, impulsionar ainda mais a autorreferência? Uma voz que clama: Sou vítima da sociedade. Tenho a enorme necessidade de ser visto.
É notável a enorme preocupação com a viralização das imagens da suposta séria fotográfica do que a sua real causa, consideravelmente os artistas merecem ter seu trabalho visto e divulgado, imagens boas merecem viralizar. O fotógrafo artista não enfrentará esforços para que isso aconteça em primeira instância, sendo que a sua intenção é fazer fotos para si mesmo, que realmente tenha um significado, o que vier depois é apenas uma consequência.
A fotografia artística não deve se render ao esquecimento, ela perpassa em gerações, em anos corridos, o formato terá que ser além do digital, principalmente pelo suporte chamado livro, prêmios e exposições. Lembrando que o registro de séries já estão sendo produzidas com a ajuda de celulares, ou seja a geração smart a geração selfie, e cabe analises futuras no material a ser produzido e na comodidade e facilidade de fotografar com um portátil. É claro que as redes sociais tem um enorme peso sobre isso.
Não cabe aqui dizer ou apontar qual história é digna de se contar, afinal isso parte de cada um, pela inquietação do impulso criador vinda do fotógrafo artista, que ao longo do tempo deixará suas mãos suadas, suas noites não tão bem dormidas, ouvir ecos hipócritas da censura e enormes dúvidas ao fazer fotográfico: O que eu fiz foi realmente necessário? Poderei mudar vidas? Eu mesmo criei algo, ou apenas registrei aquilo que já estava pronto? Estou mudando a minha vida? As perguntas são infinitas.
Tag:ego, série fotográfica