A fotografia digital já morreu?
A fotografia digital já nasceu condenada. Exagero? Esse tipo de conclusão remete a busca por novas tecnologias durante a corrida espacial. A NASA, durante a guerra fria, investiu milhões de dólares numa caneta adaptada para ambiente em gravidade zero. Já os astronautas russos usavam lápis. O mesmo aconteceu com a primeira câmera digital, em 1975.
Steve Sasson em seu laboratório na Eastman Kodak Company, unindo dispositivos analógicos e digitais juntamente com uma lente de câmera Super 8, para criar o que se considera a primeira câmera digital do mundo. Mais de 3 quilos de equipamento, imagens gravadas em fita cassete, o primeiro sensor CCD levava 23 segundos para formar uma imagem de menos de 1Mb em preto e branco.
A Kodak DSC 100, primeira câmera reflex digital, montada no corpo de uma Nikon F3, foi introduzida em 1990, para o mercado de fotojornalismo, com resolução de 1.3 megapixels. Foram vendidas apenas 987 unidades. O mesmo ocorreu com o primeiro modelo da Leica, em 1923. Os modelos seguintes de DSC também tiveram a mesma repercussão. A Kodak também lançou back digitais para cameras SLRs Canon e Nikon, mas com preços altos, desestimulando o consumo na época.
A Kodak, apesar de que ter inventado o novo conceito de câmera digital, não aproveitou o impacto. Continuara a produzir filmes, mesmo diante do advento desse novo mercado. Sua quebra em 2012 já era prevista pela Bolsa de Nova York. A indústria digital, por sua vez, também está apostando que seu mercado é eterno.
A palavra crise no setor ainda não existe. A Xerox evita sua falência lançando novas impressoras domésticas. O sinônimo global em fotocópias entra em rota de colisão com a Epson, HP e outras marcas consagradas.
A Olympus, companhia japonesa abalada pelo escândalo contábil, está prestes a ser comprada pela Samgung. A idéia é aproveitar a carteira de clientes no mercado médico e dental e aumentar seu faturamento geral. Ma isto não é novidade, já vimos este filme com as fabricas de câmeras SLR japonesas. No inicio da década de 60, marcas como Ricoh, Cosina, Konica e outras foram absorvidas pelos grandes fabricantes.
Mas a fotografia, enquanto técnica surge no exato momento em que os tradicionais meios de representação visual já se encontravam superados, durante o século 19. O telégrafo, a máquina a vapor, a rotativa dos jornais e a explosão demográfica urbana, aliados à necessidade de escoar mercadorias, não poderiam mais depender dos demorados e imperfeitos processos artesanais de produzir imagens.
Walter Benjamin, filósofo alemão, citou que “com a fotografia, pela primeira vez, a mão se liberou das tarefas artísticas essenciais, no que toca à reprodução das imagens, as quais, doravante, foram reservadas ao olho fixado sobre a objetiva”
Até este momento, o valor do artista se resumia a sua destreza técnica. Quanto maior o realismo, mais privilegiado era o seu autor. O olho fotográfico passa a novos horizontes da necessidade humana e revelar questões antes desprezadas. A fotografia, neste momento, passa a ser a engrenagem mestra que iria transformar todas as manifestações artísticas.
A fotografia digital parece repetir a mesma história. Mas ao contrario da fotografia analógica ela é hibrida. A invenção do século XIX trouxe consigo o germe para o aparecimento do cinema, radiologia, televisão, radiofoto, artes gráficas, filmes para montagem de circuitos integrados, fotografia 3D, entre outras conquistas.
Já no início de 1860, uma nova febre fotográfica contagiava toda a Europa e os Estados Unidos. Finalmente as fotografias estereoscópicas causavam maior impacto de realidade. As novas câmeras possuíam duas objetivas, gerando um par de imagens, com o mesmo deslocamento da vista humana, que depois examinado por um visor de duas lentes, possibilitava a fusão de duas imagens em uma só, viabilizando o efeito espetacular da tridimensionalidade.
Mas, a estereoscópica não ficaria esquecida por muito tempo. Na década de 70, a Indústria Cinematográfica de Hollywood, lançava o cinema em três dimensões, onde os espectadores se entusiasmavam com os resultados, usando óculos especiais durante as projeções. O mercado editorial também não ficou para trás. Na mesma época, eram lançados no mercado livros de fotografia, com óculos, idênticos ao do cinema, para explorar melhor a sensação de tridimensionalidade. A biblioteca da Escola Focus ainda possui alguns exemplares. Após sucessivas quedas de venda, a Revista Playboy norte americana, lançou recentemente sua primeira edição 3D. Em outras palavras, um clássico exemplo de quando o interesse econômico se apropria de velhas técnicas.
A tecnologia da holografia, difundida nos velhos filmes Stars Wars, já havia sido desenvolvida no inicio dos anos 60, nas principais universidades americanas por meio de 3 canhões de laser, utilizado o principio do RGB para projetar imagens no ar, em ambientes mais escuros. Pelo menos, as imagens não eram tão fictícias assim. Adequando á óptica fotográfica ao sistema de feixes de lazer, obtêm a imagem tridimensional projetada no espaço ou em suportes especiais.
Ao que tudo indica a holografia já está pronta para ser produzida em alta escala. Mas, enquanto houver mercado, a indústria da fotografia digital continuará faturando alto. A idéia dos fabricantes nunca foi disponibilizar a ultima conquista da tecnologia e sim o lucro imediato. Enquanto houver interesse econômico, estaremos consumindo o velho conceito com nova roupagem. E os acionistas agradecem.
Com a queda da demanda dos filmes, a Fujifilm foi buscar mais que uma simples transição da fotografia analógica para a digital. Em vez disso, a empresa usou seu conhecimento de química para fins mais amplos, como remédios e telas de cristal líquido. Desta forma, em 2012, ela entra no concorrido mercado de beleza, com o lançamento de produtos antienvelhecimento. Batizada de Astalift, a linha promete melhorar o tom da pele e protege contra a ação de raios ultravioletas.
A fotografia, apesar de surgir na Revolução Industrial não deixa de apresentar história lenta, já que a diferença entre o primeiro automóvel de Henry Ford e a Apollo 11, missão tripulada do Programa Apollo e primeira a pousar na Lua, levou 66 anos. Será por que a indústria fotográfica quer aproveitar até o ultimo centavo, antes de apresentarem novas tecnologias?
Mas introdução de novas tecnologias no mercado, quando as fábricas assim permitem, sempre nos leva a mesma pergunta: qual será custo e a durabilidade dessas futuras conquistas?