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A foto de arte no mercado “prêt-à-porter”
A foto que nasce com uma outra intenção. É arte?
Tiragens ilimitadas. Serão posteres?
A foto como base para outros suportes decorativos. Será Arte?
Entre os dias 06 e 08 de junho tive o prazer de estar presente ao II Encontro Pensamento e Reflexão na Fotografia, promovido pelo MIS – Museu da Imagem e do Som de São Paulo e o Estúdio Madalena. Esse encontro veio muito a calhar para que eu pudesse dar prosseguimento aos meus dois artigos anteriores que trataram sobre a arte e a fotografia. O ultimo dia desse encontro foi excepcionalmente importante, pois contou com as palestras de dois personagens que valorizam a arte e especialmente a arte fotográfica. Essas palestras me levaram a realizar uma reflexão que ao me inquietar, levou à criação deste artigo.
O primeiro palestrante Mario Cravo Neto, filho de um fotógrafo voltado à arte e neto de um famoso e premiado escultor, nos apresentou sua trajetória de vida (não vou aqui entrar em detalhes) que mostrou toda a complexidade do caminho para alguém que pretenda seguir os passos da arte como seus ascendentes, e que se torna ainda mais complexo quando agregado ao fato de que possua o mesmo nome de ambos.
O segundo palestrante, Agnaldo Farias, fechou o encontro com a maestria de um mestre que é, e deixou a todos encantados com o seu conhecimento filosófico e antropológico sobre arte.
A inquietação de que fui tomado ao final das palestras, refere-se aos subtítulos deste artigo, nos quais eu já havia me predisposto a trabalhar meses atrás e que não foram discutidos durante as palestras, mas que intrinsecamente estiveram presentes. Então vamos ao primeiro tópico.
A foto que nasce com uma outra intenção. É arte?
Tomemos como exemplo cinco momentos diversos, que poderão ou não, resultar em fotos belas e até mesmo inquietantes:
- A foto jornalística
- A foto publicitária
- A foto de retratos
- A foto registro
- A foto abstrata
Dentro desta proposta pode-se dizer que uma fotografia especifica seja uma obra de arte, mas será que o seu executor é um artista? Por essa razão é que necessitamos conhecer o histórico do trabalho do fotógrafo, ver suas fotos anteriores e de que forma ele lida com o ambiente, a sociedade e seus conceitos pessoais.
A foto jornalística possui diversos temas, existem fotógrafos que trabalham com conflitos sociais, outros que trabalham com esportes e até mesmo o fotógrafo de coluna social e política. Mas são eles artistas? Isso irá depender da constância, qualidade e característica de seus trabalhos.
A foto publicitária possui geralmente diversos envolvidos em sua criação, desde os cabeleireiros e maquiadores até os produtores diretores de arte. É um trabalho coletivo de vários profissionais ou um trabalho individual do fotógrafo? E, por mais belo que seja o resultado final, quando poderemos dizer que é arte?
Os retratistas trabalham normalmente solitários ou no máximo com um assistente, constroem a luz e criam o melhor ambiente para a clic final do retratado. Seria o resultado final uma foto de arte? Em que situações poderemos considerar como tal?
Os registros que todos os fotógrafos, sejam eles amadores ou profissionais, realizam poderão render belíssimas imagens e até mesmo incríveis ensaios, mas a pergunta que insiste é: esse resultado é arte? Ou melhor: esse fotógrafo é um artista?
Isto posto poderemos então concluir que apenas a fotografia abstrata é arte? Não, até mesmo na fotografia abstrata existem muitos lugares comuns, muita imagem repetida, falta de técnica (proposital ou não) e principalmente a inexistência de uma proposta.
A arte inquieta e expõe algo do artista e do objeto fotografado, propõe uma discussão e algumas vezes lança um novo olhar ou um novo conceito para modificar o “status quo” daquilo que já existe. Alguns então irão questionar que nesse caso para uma obra ser considerada arte e seu executor um artista é necessário que haja um sofrimento intrínseco? Não, eu discordo, a arte não existe necessariamente em razão do sofrimento ou da angustia, precisa sim da inovação, do conhecimento e da beleza (que irá depender da história e do olhar de quem cria e de quem aprecia).
Tiragens ilimitadas. Serão posteres?
Chego à conclusão de que sim, são pôsteres. Por mais bela que seja a imagem e por mais reconhecido que seja o fotógrafo, uma tiragem ilimitada de uma fotografia (independentemente da mídia empregada em sua impressão) sempre terá o status de pôster. Mas isso, em meu entender, não tira o prestigio ou a qualidade do autor e sua obra. Apenas faz com que essa obra e sua mídia especifica não tenha valor para um colecionador ou uma galeria. Uma fotografia, assim como uma pintura pode ter uma tiragem ilimitada ou ser transformada em pôster, mas apenas o original terá valor para o mercado de arte.
A foto como base para outros suportes decorativos. Será Arte?
A extraordinária palestra proferida pelo professor Agnaldo Farias fez com que eu tivesse a curiosidade de conhecer mais sobre seu pensamento sobre a arte em geral, e em minhas buscas na internet encontrei uma afirmação de sua lavra que me deixou intrigado e que pretendo aqui reproduzir e tentar entender (vejam que escrevo entender e não criticar, pois não me considero com conhecimento suficiente sobre arte para realizar tal critica). Seguem dois fragmentos de textos que encontrei na internet (os textos com seu inteiro teor serão encontrados em seus respectivos links):
– Em entrevista à revista CULT sobre a Bienal de São Paulo da qual foi curador: “Por exemplo, não traria nunca Romero Britto, porque não é artista, é outra coisa”.
– Na revista Continente On-Line: “A crítica brasileira, entretanto, não concorda com a qualidade do pintor. Para Agnaldo Farias, o que Romero Britto faz não é arte, porque não provoca inquietação. O crítico considera-o mais um ilustrador publicitário que um artista de fato”.
A obra do artista Romero Brito, em meu entender, é uma mistura de arte naïf (chamada primitiva no Brasil), com cubismo e arte pop. Mas, como disse não é minha intenção demonstrar minha apreciação sobre o artista ou sobre a opinião do professor Agnaldo Farias, apenas pego emprestado sua critica para ter como um ponto de apoio para aquilo que pretendo comentar, ou seja: se a fotografia com base em outros suportes decorativos é arte?
É sabido que as obras do pintor Romero Brito, independentemente da opinião de alguns críticos de arte, possui grande aceitação no Brasil e no exterior e que seus quadros alcançam cifras astronômicas no mercado de arte. É sabido também que suas obras encontram-se fixadas em diversas outras mídias e objetos, como por exemplo: pôsteres, cadernos, agendas, canecas, tecidos, etc. Essas pinturas inseridas em tais mídias e objetos podem ser consideradas arte?
Façamos então uma analogia com a fotografia. Se o fotógrafo inserir suas fotos em agendas, capas de cadernos, pôsteres, camisetas, imãs de geladeira, etc. Seu trabalho será desprestigiado no mercado de arte? Terão suas obras originais um decréscimo em seu valor de mercado? Obviamente as diversas mídias nas quais a imagem estará transposta não terão identidade como arte. Mas e o artista? Terá sua imagem maculada ao permitir tal liberalidade com sua obra? Isso sem questionar-se aquilo que venha a ser cópia ou pirataria.
Essa é mais uma duvida, diante das tantas sugeridas.
Este artigo não pretendeu dar a palavra final a nenhum dos tópicos apresentados, haja visto a quantidade de pontos de interrogação contidos no texto. O que pretendi foi a criação de uma reflexão sobre o que podemos considerar arte na fotografia. Criticas e opiniões são bem-vindas.
- http://revistacult.uol.com.br/home/2010/09/so-a-arte-salva/
- http://www.revistacontinente.com.br/index.php/component/content/article/1116.html
- http://www.isabellices.com/romero-britto-nao-e-arte/
- http://veja.abril.com.br/160102/entrevista.html
- Imagens de arte Naïf
- Imagens de Romero Brito
Tag:arte, foto de arte, mercado, prêt-à-porter