Entrevista a Luringa
O nome verdadeiro é Lourenço Fabrino, mas o mineiro de 29 anos é conhecido mesmo por Luringa. Inserido no cenário musical, ele é verborrágico e criativo não só para capturar imagens, mas para se colocar na vida e no contexto fotográfico concorrido no qual se sobressai hoje. Agitado, Luringa graduou-se em Propaganda e Publicidade e, cada um dos conhecimentos adquiridos no decorrer de sua vida, transformou-se em conteúdo para seu trabalho. Além das conhecidas bandas Glória, NX Zero, Fresno, Restart, CPM22, Pitty ele já clicou os internacionais NOFX, Bad Religion, New Found Glory, Deftones, Millencollin, MxPx e The Used.
Fotografia DG: Como você começou na fotografia?
Luringa: Foi bem moleque ainda… Só para dar um panorama, eu sempre gostei de música e fiz parte de bandas. Queria viver da música, me identificava com isso. Só que minhas bandas nunca deram certo. Lá por 2000/ 2001 fui num show de uns amigos para ajudar a vender camisetas e nesse dia levei a minha câmera fotográfica. Foi bem no início das câmeras digitais, eu tinha uma dessas câmeras simples e não entendia nada de foto. Os caras me pediram para fotografar o show e isso acabou sendo o meu start, quase sem querer. As fotos ficaram tão legais que até eu me surpreendi. Comecei a ir a todos os shows. Nessa época não tinha quem fizesse isso no cenário underground.
Fotografia DG: E você foi se especializando depois?
Luringa: Entrei na faculdade em 2001 e tive aulas de fotografia, mas não cheguei a ter câmera analógica, já ingressei direto nesse lance digital. Fiz uns cinco shows com aquela minha câmera. Nesta altura eu já trabalhava no Jornal esportivo “O Lance”, com edição de imagens e um amigo que trabalhava comigo me emprestou uma Cannon Rebel 300D. Paralelamente ao meu trabalho no jornal, continuava fotografando bandas. Comecei a trabalhar com o Dead Fish, que era bem conhecido no meio underground. Através deles conheci o pessoal do NX Zero.
Fotografia DG: Você levava os dois trabalhos, como decidiu trabalhar somente com a fotografia?
Luringa: Fiquei quatro anos no Jornal e depois fui para o site “O Fuxico” por mais um ano e meio. Por fora fotografava as bandas, ganhava um cachezinho, mas nada muito profissional. Fui aprendendo fotografia, estudei muito por minha conta, pela internet, livros e adquiri o conhecimento básico e entendi os fundamentos da fotografia. Até que chegou num ponto que começou a valer mais a pena fazer foto do que meu emprego fixo. Em 2007 larguei o trabalho no site e fui viver só de bandas. Já tinha conhecido o pessoal do Glória, do Strike, do Fresno e passei a estar com eles direto. Já tinha conhecido os caras dessas três bandas, me identificado muito com os eles…
Fotografia DG: Você vem de um universo musical underground, se identificava com os caras… E com o som?
Luringa: Com o som nem tanto porque eu tenho um gosto musical estranho. Eles são uma galera mais nova. Gosto muito de hardcore, de rock, rap ou jazz. Todos os outros gêneros como forró, por exemplo, não rolam. Sou maloqueiro tatuado, sempre fui e não gosto dessas coisas. Mas também aprendi a respeitar. Antes de trabalhar com estas bandas eu tinha muito preconceito. Tinha meus conceitos musicais, sempre fui muito ligado em música e me considero hardcore, mas aí comecei a ver que os caras são ótimos músicos, melhores que todos os que eu já toquei na minha vida, de todas as bandas que eu já tive. A partir disso eu comecei a respeitar o trabalho de todo mundo. Não só no meio da música como da fotografia, em qualquer área. A partir do momento que eu perdi esse tipo de preconceito tudo começou a deslanchar. Foi uma projeção muito grande de uma vez na vida de todos nós.
Fotografia DG: Foi uma oportunidade ímpar para a sua carreira, não?
Luringa: Sou formado em publicidade, sempre fui um marqueteiro nato, então aproveitar este momento não foi difícil. Pensei: ‘vou aproveitar o boom da coisa e fazer meu nome’, independente de bom ou ruim, melhor ou pior. Porém, um monte de gente me critica por me ver trabalhando na noite. Dizem que eu estou aí só porque as bandas são famosas, e não vêem o esforço que faço, sabe? Os caras têm mais de 10 anos de experiência, ralaram muito para conseguir chegar aonde chegaram e eu também. Quando você está em evidência, as pessoas aproveitam para te atacar muito.
Fotografia DG: E como lida com a inveja e o assedio?
Luringa: Atualmente muito bem. Eu não fiz nada pensando em ser famoso e nem acho que eu seja famoso também. Acontece que hoje eu sou amigo dos caras, fiquei amigo por causa da fotografia, por causa do meu trabalho, e acredito que fiquei lá dentro pelo que eu sou e pelo que eu faço, tenho meu mérito.
Mesmo quando tinha banda eu queria que desse certo, não pra ser famoso e comer um monte de mulher. Queria ter banda para viver de música, para não ter que trabalhar e acordar cedo. Não consegui com banda, mas consegui com foto. Acho isso demais, sabe? Demais, demais, demais! E isso acabou trazendo um assédio. Quando você é amigo de um cara famoso, muitas pessoas chegam a você para chegar nele. Num período curto de tempo as pessoas passaram a me tratar de um moleque que tirava fotos para o cara que pode dar acesso ao camarim. São coisas que temos que aprender a lidar para não enlouquecer. Hoje eu encaro o assédio como reconhecimento do trabalho, mesmo sabendo que tem um monte de gente interesseira, querendo mais outras coisas do que estar na primeira proposta.
Fotografia DG: Qual área ainda não atuou, mas que gostaria de atuar?
Luringa: Várias na verdade. Acho que nunca estive em muitas outras áreas, alem de música que, querendo ou não, é 90% do meu trabalho, tanto em foto como vídeo. Atuo também com moda. Sou fotógrafo de uma marca da Wella, chamada Sebastian, de produtos profissionais para cabeleireiros. Faço fotos dos eventos deles.
Já fotografei modelo, garota, book. Já fiz até o casamento de um amigo, mas não achei tão legal. Sinceramente não tenho pretensão de fazer outra coisa, a não ser fotografar bandas. É o que consegui e o que gosto de fazer, é o meio que gosto de estar. Eu tenho um estilo de foto voltado para bandas, tenho uma linguagem pra isso. Já recebi propostas de outras coisas para fazer e até neguei.
Fotografia DG: Quais equipamentos usa?
Luringa: Estou com uma Cannon 7D, Cannon T2I, lente 70×200 Cannon, uma 24×70 Cannon, as duas são da serie L. Tenho uma 10x22mm e uma 50mm 1.8. Flash 580 EX2. Com equipamento de iluminação trabalho com três cabeças, duas de 800 e uma de 1600, são equipamentos bem magrinhos.
Fotografia DG: Como você resolve a luz em show?
Luringa: Luz de show a gente resolve tendo um bom diálogo com o iluminador. Raramente uso flash em show. Na verdade, não me ligo em regra nenhuma. Acho péssimo ficar dizendo que isso pode e isso não pode. Acredito que na situação de arte eu posso fazer o que eu quiser. Então não tem regra. Claro que tem vários conceitos da fotografia que temos que saber. Para quebrar as regras você precisa conhecê-las, mas não precisa segui-las. Quando você trabalha com uma banda profissional, que tem iluminador e toda estrutura, você aproveita a luz do cara. Se você achar que não está bom, pode trocar uma ideia com ele, assim como já fiz várias vezes, em muitas bandas que trabalhei. Estou sempre em comunicação direta com o iluminador.
Fotografia DG: Você faz videoclipes também?
Luringa: Hoje em dia 60% vídeo e 40% foto. O vídeo já toma mais tempo do que a fotografia em minha vida. Tenho uma empresa, a Pexera Produções, que acabou de completar um ano de vida e, só em 2011, fizemos 14 videoclipes. Não poderia fechar os olhos para este mercado, além de fotógrafo sou empresário e não teria porque não aproveitar este momento. Eu poderia ter tido uma projeção para outros lados da fotografia no momento em que as bandas deram uma baixada, mas escolhi o mercado musical, sou fascinado por ele, então, outra forma de sobreviver foi fazendo vídeos. Isso acabou me trazendo mais projeção e até ganhei um VMB em 2011.
Fotografia DG: Acha que a fotografia e o vídeo vão se fundir?
Luringa: Sim com certeza. Eu sou dessa vertente que usa câmeras fotográficas para filmar. Se as câmeras filmam muito bem e são boas, então vamos usá-las para fazer cinema. Acho que isso mexeu com muita gente.
Antigamente você não gravava um clipe com menos de 50 mil reais, porque o equipamento era muito caro. Eram câmeras de 5, 10, 15 mil reais a diária de aluguel. Isso encarecia demais o orçamento de um clipe. Hoje em dia se pode fazer um clipe de 10 mil reais e ainda ganhar uma grana. E estamos falando de um clipe bom, melhor que muito clipe de 100 “paus” que se fazia há cinco anos. Muita gente dessa época não aceita isso. O que quero dizer é que usar uma 5D, por exemplo, viabiliza para mais pessoas poderem pensar em fazer um vídeo clipe bom, não aquelas coisas caseiras feitas com VHS, de qualquer jeito.
Fotografia DG: Qual a dica do Luringa para quem está começando?
Luringa: Estudem bastante e saibam o que estão fazendo. Não saiam por aí dizendo que são fotógrafos se não são. Antes disso, tenham base na vida, entendam de assuntos gerais. Não fiquem o dia inteiro na internet falando mal da vida dos outros e lamentando que nada na vida rola, que não têm dinheiro. Se mexam, usem a internet para estudar e para aprender.
Conheça melhor o trabalho de Luringa, acesse www.flickr.com/photos/luringa