Descobrindo a Terceira Idade – Parte 1 de 4
Olá a todos! Meu nome é Paula, tenho 22 anos, sou natural de Goiânia, mas vivo há quatro em Bauru, interior de São Paulo. Mudar de cidade nem sempre é agradável. Ficar longe de casa, dos mimos dos pais, da comidinha da avó – e seu frango com pequi feito com primor, do carinho dos irmãos e sobrinhos. Ficar longe de casa significa muita coisa: é o tempo de crescer, de evoluir como pessoa, de traçar seus próprios caminhos. E é mais ou menos isso que vou contar aqui para vocês hoje, e como essa busca pela minha verdade resultou em um dos projetos que eu mais gosto de desenvolver atualmente.
Nesse primeiro artigo – de uma série de quatro, vou contar um pouco sobre como descobri essa paixão por lecionar e como compartilhar o conhecimento nessa faixa etária pouco percebida no cenário político e educacional atual pode fazer a diferença.
Desde adolescente, sempre me interessei por tecnologias, internet, câmeras. Lembro-me da internet discada, e das peripécias que eu fazia para me conectar à rede. Com a popularização das câmeras compactas, foi possível à minha família adquirir a primeira Cybershot. E foi a partir daí que eu entendi como eu poderia compartilhar experiências, momentos e olhares com os outros. Pude capturar um devaneio, um detalhe, os entes queridos, expressões. Enfim, foi um amor intenso e irreversível por aquele equipamento que parecia falar a mesma língua que eu.
A partir daí, a fotografia não saiu mais da minha vida. E é aí que a gente começa a falar sobre terceira idade, e como essa sensibilidade me ajudou a lecionar para os de mais idade. Eu tenho uma paixão na minha vida que se chama Maria Alice. Com seus 69 anos, ela já casou, já viuvou, criou 7 filhos e conheceu 11 netos. Dotes culinários herdados da família, tem passado de geração para geração os segredos da maciez da carne de segunda, do cheiro do feijão que atravessa a rua, e da suculência do macarrão. A avó Alice me ensinou a gostar de leite de saquinho, de pão colhido diariamente da padaria, da cebola e do alho para o tempero da comida, do amor e do carinho para o tempero da vida. E com a avó distante 800 longos km, resolvi tomar emprestado a avó dos outros: uni fotografia e terceira idade, e desenvolvi um curso específico para essa geração tão rica, sensível e experiente.
Aqui em Bauru, há uma Universidade particular que desenvolve projetos incríveis com a Terceira Idade da região. Dança, música, poesia, literatura, teatro, línguas, artesanato, pintura… menos fotografia. E foi aí, percebendo a potencialidade dessa arte e a necessidade de os idosos aprenderem a lidar com essa tecnologia, que me veio à cabeça: “e se…”. E se fosse diferente? E se os velhinhos chegassem em casa ensinando os filhos a manipular a câmera, ensinando para o que servia cada botãozinho? Seria incrível. E assim foi.
Perceber a potencialidade dessa geração, perceber que é possível, sim, passar esse conhecimento de uma maneira muito simples: com muito carinho, amor e paciência. Os filhos não têm tempo, muitas vezes moram em bairros mais afastados, cuidando de seu trabalho, filhos e famílias. Nem sempre têm paciência e didática para ensinar em que botão eles poderiam desligar o flash. Muitas vezes, o companheiro ou companheira já se foram, e o que resta são os medos, os conflitos, os anseios da idade. Estes grupos destinados à terceira idade cumprem um papel fundamental na nossa sociedade: reintegrar, acolher e cuidar desse idoso. E é lá que eles se unem para passear. Fazem novos amigos, conhecem novos lugares. Saem de casa… isso é o mais importante. Saem do silêncio apertado e da solidão que os oprime para se permitirem a novas experiências.
E isso não significa subestimar a capacidade do idoso, deixando de abordar algum assunto mais complexo por conta das limitações da idade. É claro que a idade determina a metodologia usada, como apresentar um conteúdo, com quais exemplos irei trabalhar. Mas nunca deixei de abordar temas que considero interessantes somente por esse motivo – falo até de proporção áurea durante a aula sobre composição, para explicar de onde vem a “regra dos terços”. Mas como? Aí é que está: pensando como eles!
Como este é meu primeiro texto no site, minha intenção com esse artigo foi me apresentar e falar um pouquinho sobre mim e o trabalho que desenvolvo com a terceira idade. Para quem quiser se aprofundar no assunto, me acompanhe nos próximos três artigos. Vocês terão dicas de como escrever projetos culturais, como trabalhar metodologia nessa idade e sobre como o voluntariado pode abrir muitos caminhos.
Grande abraço a todos!