O rei da fotografia
2012, ano novo, ansaios renovados, novidades e mais egoísmo. E para o primeiro texto do ano nada mais justo do que pensarmos em filantropia e engajamento, já que é uma das épocas mais propícias para disseminarmos positividade e benevolência indiscriminadamente.
Mas o que a fotografia tem a ver com isso? Bem, há uma forte atribuição entre egoísmo e fotógrafos, e nem é meramente pelo individualismo presente na profissão. O aumento brusco de “profissionais”, a facilidade de se encaixar em algum nicho do mercado, a ganância, ou algum outro fator variado podem gerar esse receio, tornando os fotógrafos tão ególatras. E com isso a intenção não é repreender exclusivamente a fotografia, acontece em todas as profissões, é naturalmente “humano”, o ponto é o quão negativo isso pode ser, ou melhor: o que um pensamento mais coletivo pode proporcionar de bom.
Você não sabe tudo
É, meu caro, sinto lhe informar, mas você nunca saberá. O que por um lado é ótimo, senão não haveria aquele motivador de busca de conhecimento e tudo correria o risco de ser extremamente cansativo. A propósito, quanto você sabe? Classificar “iniciante” é mais fácil do que medir “intermediário”, “avançado” e nem deveria haver preocupação com o estágio, mas com o nível de aprendizado e possibilidades que o simples fato de DESCOBRIR pode gerar.
Um dos problemas proporcionados muitas vezes por esse egocentrismo é o de achar que ao ativar o botão ON da máquina fotográfica se absorve toda sabedoria universal e basta, mas nem no “automático” a máquina pensa por você. A parte mais difícil é reparar que você se enquadra nessa categoria.
Bagagem fotográfica
Os livros deixaram de ser a principal fonte de estudo e pesquisa, já que na internet a informação chega de qualquer parte: sites de busca, blogs segmentados, redes sociais, etc.. Mas quem produz isso? Certamente fotógrafos extremamente ricos que tem tempo de sobra e muito amor pra disseminar – recebo e-mails indicando que é exatamente esse o perfil, questionando inclusive a lucratividade de “escrever sobre fotografia” -.
Deixando a ironia de lado, mesmo com tanta bondade e gente escrevendo sobre, falta conteúdo nacional e relevante a respeito do universo fotográfico, principalmente na era do comodismo, sedentarismo, praticidade, onde informações concentradas geram mentes preguiçosas que não expandem o conhecimento absorvido em mais de uma fonte de pesquisa.
E tudo que você sabe hoje é porque alguém compartilhou, ou não?
Limitar informação é um dos mais perigosos venenos, você certamente conhece alguns “profissionais” assim: ficou legal, então tá bom. Não, não ficou! Pode ficar bem melhor se você começar a entender o que faz e tudo que pode executar ao ter consciência das inúmeras possibilidades de aperfeiçoamento. Você não se tornou melhor por ter comprado uma DSLR e sequer ter aberto o manual para entendê-la, ao menos que tenha algum dom mais do que especial.
Sempre que estagnar no quesito histórico, técnico, informativo você estará regredindo, e nesses momentos nascem preconceitos terríveis. É um fato: “não vou aderir ao processamento digital porque vai estragar meu trabalho”, quantas mil vezes isso não foi dito? As vezes é difícil digerir coisas novas, mas ao mesmo tempo fantástico aumentar os parâmetros criativos. A digitalização fotográfica pode ser tão proveitosa quanto o aprendizado desde o processo analógico, são extensões. A busca por esse equilíbrio deve ser constante.
Troque ideias
Participe ou crie encontros, organize saídas fotográficas, sabe aquela famosa “conversa de boteco”?
Fóruns, que são locais interessantes para troca de experiências, debates, dentre tantas outras atividades, concentra em maior parte do tempo dúvidas primárias, vendas e autodivulgação, intensifique debates relevantes – não do gênero “qual é a melhor câmera/marca”-.
Explore distintas manifestações artísticas, comunicacionais, aprofunde-se, inspire-se! É inevitável, quanto mais contato você tiver, mais aprenderá sobre o que fazer e principalmente o que não fazer.
Conheci diversos fotógrafos nos últimos tempos e percebi como a crítica era incomoda para alguns, você se torna um fugaz inimigo por uma simples sugestão, e fui notando que isso acontecia principalmente com os mais inertes. Aptidão para idolatrar elogios vazios e muita dificuldade para refletir sobre qualquer comentário que não envolvesse um adjetivo suficiente para massagear todo aquele ego.
A vaidade tem tornado fotógrafos leigos docentes de gerações, e me vem à mente uma parte do diálogo de “O Sobrinho de Rameau” (Diderot):
- “Se tivessem conhecimento suficiente para ensiná-las, não as ensinariam.”
- “E por quê?”
- “Porque passariam a vida a estudá-las.”
Filantropia e engajamento serão os próximos assuntos tratados, afinal, não adiantaria nada escrever sobre isso sem ao menos refletirmos sobre as ambições e importância do próprio trabalho. Você faz a diferença?
Na próxima publicação os assuntos serão apaixonantes: fotografia coletiva, voluntariado, crowdfunding e muito mais, e caso tenha algum caso legal, indique. :-)
Para começarmos a tratar desse assunto que tal treinar compartilhando algo como a sua criatividade? A ideia é bem simples, mas depende de cooperação, tem que ser cíclico, tipo aquelas correntes enviadas antigamente via e-mail (oh no!).
A diferença é que ao invés de uma palavra/frase, o que será passado adiante será um fragmento da imagem inicial. Como funciona?
Fotografia sem fio, baseada naquela conhecida e antiga brincadeira “telefone sem fio”.
Aceite o desafio e transporte um dos elementos da imagem abaixo (ou das que forem publicadas), fotografando qualquer assunto a partir do seu ponto de vista, mas mantendo o detalhe escolhido da maneira que achar conveniente. A imagem tem que expressar suficientemente a sua ideia, tal qual o componente chave, e nesse momento vamos evitar aquela edição sapeca, ok? Poupe trabalho pós-clique, mostre suas fotos puras!
A foto inicial:
Carolina Simon
Para quem não captou a ideia, exemplos:
Alexandra Boulat | Quetta/ Pakistan – 2001.
James Nachtwey | Iraq. – 2003.
Não se sinta tímido(a) e comente, exponha o que acha, mesmo que não queira participar da brincadeira!
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