Fotografia e Arquitetura – Parte 1 de 2
Certo dia encontrei o seguinte bilhete na minha mesa: reserve o sábado para uma sessão de fichamentos arquitetônicos da Prefeitura. Fiquei animada até notar que nunca havia feito isso, e que precisava fazer da melhor forma. Tive dois dias para estudar o assunto, um pouco tranquila porque a Carol, minha sócia, além de fotógrafa é estudante e quase formada em arquitetura. O básico, como todo fotógrafo, eu já sabia (melhor objetiva, ângulos, distorção, panorâmicas), mas nada especialmente aprofundado no tema, e por isso o artigo de hoje tratará deste assunto: arquitetura e fotografia. Mas fica o prévio aviso: não há fórmula mágica, receita, mas as dicas podem auxiliar bastante.
A melhor forma de saber o que engloba a fotografia de arquitetura é começar analisando o sentido literário da palavra:
(latim: architectura)
s. f.
1 Arte de projetar e construir prédios, edifícios ou outras estruturas;
2 Constituição do edifício;
3 Projeto, plano;
4 Contextura;
Fig. Forma, estrutura.
Sendo assim, tudo que se adequar pode ser representado nessa categoria. Como Nelson Kon – um dos mais renomados fotógrafos de arquitetura cita: “um equipamento bem utilizado sempre terá um bom resultado”. A sensibilidade e a qualidade principal devem partir do fotógrafo, portanto, equipamentos e acessórios são ferramentas para viabilizar ideais, e não os responsáveis diretos por um bom registro.
Foto tirada com uma Pentax K1000 | Carolina Simon
Antes de tratar sobre as principais objetivas utilizadas em fotos arquitetônicas é importante conhecer o fator de corte (crop factor), que é um fator de multiplicação da distância focal baseado no padrão 35 mm. As máquinas antigas (filme) costumavam ter uma área para película de 35 mm – 36×24 mm -, nas digitais (DSLR) os sensores são menores (1,3x, 1,5x, 1,6x), já que integrar um equivalente a película de 35 mm, chamado de Full Frame (FF) – Aprendi com o Léo Luz que é chamado erroneamente assim, o correto seria Full Size -, ainda é muito caro.
Imagem retirada do site www.masochismtango.com
O cálculo é simples, levando em consideração um sensor de 23,6 x 15,8 mm basta dividir 36mm (padrão) por 23,6 mm, arredondando fica 1,5, que é o fator de corte do sensor em questão. Para ter o ângulo de visão das objetivas o cálculo é feito com base na DF – distância focal -, uma 18 mm terá aspecto de 27 mm (1.5 x 18 mm). Isso é benéfico no caso das teleobjetivas, já que potencializa o efeito, mas no caso de grande-angulares o ângulo é bem reduzido.
A Nikon trabalha com as nomenclaturas DX, para as APS – pequeno formato – e FX para grande formato. Na Canon as siglas são respectivamente EFS e EF, lembrando que as objetivas com essa designação são distintas no encaixe traseiro, o que gera incompatibilidade com algumas câmeras divergentes no formato do sensor.
Alguns recursos
A grande-angular (GA) – é uma das objetivas mais relacionadas à fotografia arquitetônica, possibilitando um enquadramento amplo (curta distância focal) já que muitas vezes é impossível captar a extensão ou se distanciar do assunto. Quanto mais curta a DF, maior o ângulo e mais intensas serão as distorções. Exemplos de GA: 8 mm (Fisheye), 24 mm, 28 mm, 35 mm. Não se esqueça de avaliar qual é a profundidade de campo adequada.
Imagem retirada do site www.masochismtango.com
Para notar melhor a diferença e sentir o efeito do campo de visão das objetivas explore esse simulador online de lentes da Nikon: NIKKOR Lenses Simulator.
Existem objetivas descentráveis especiais para esse tipo de fotografia, capazes de controlar a perspectiva. Essas objetivas são inclináveis (tilt) e lateralmente deslocáveis (shift), bem conhecidas – técnica tiltshift – pelo uso exagerado da inclinação em fotos que transformam o contexto numa miniatura, pela redução da profundidade focal.
No caso de um prédio alto onde há linhas convergentes o problema é resolvido, já que não é a máquina que é descentralizada ou inclinada, mas a objetiva.
Outra opção é a Bicam, da Silvestri ou a Arca Swiss (câmera de fole), que pode ser utilizada com digital back.
Há ainda opções mais baratas, mas com significativa perda de qualidade:
– Lens in a cap, da Loreo -PC. No Flickr tem até um grupo dedicado a fotos feitas com ela, clique aqui para ver.
O tripé e o nivelador são úteis tanto para fotos externas quanto internas. Nas externas a nivelação é importante para neutralizar as linhas convergentes e distorção de projeção. Nas internas velocidades altas são utilizadas com frequência e para manter tanto a iluminação natural quanto a imagem nítida – principalmente quando não se usa o tripé –, é bom lembrar da regra na qual a velocidade mínima deve ser igual a distância focal equivalente:
28mm – 1/30’
200mm – 1/200’
Note as linhas convergentes verticais. /\ Imagens tiradas de baixo
pra cima costumam alargar a parte inferior e reduzir a superior.
Criar panorâmicas também fica mais fácil com o tripé, já que os cliques devem ser feitos com as mesmas configurações, mantendo o eixo e sequência. Um ótimo exemplo é o trabalho do fotógrafo Ayrton Camargo, que cria de forma impecável panorâmicas de 360º em diversas categorias fotográficas. As máquinas mais modernas estabelecem quadros para criação da sequência da imagem, o que facilita o trabalho, mas os programas de edição atuais substituem com êxito a criação destas imagens, desde que sejam clicadas de forma correta, mantendo uma sobreposição a cada foto.
Seria impossível resumir o assunto, então para quem realmente se interessa por essa área indico um aprofundamento contínuo desde já em livros, cursos, buscas minuciosas, etc., conforme leitura dos tópicos deste artigo. A continuação abordará diversos outros pontos, como panorâmicas e Photomerge, importância do formato RAW, dicas e referências (fotógrafos).