David Burnett e a beleza olímpica
Uma câmera antiquíssima num evento repleto de momentos únicos que não ocorre todo ano. Fiasco? Não com Burnett.
Você leitor certamente já viu em transmissões de jogos, lutas e competições em geral uma série de fotógrafos junto ao local da ação, formando por vezes — especialmente na hora do registro de uma equipe — um verdadeiro paredão de grandes câmeras e lentes. Há os que divertem-se com isso, seja imaginando quanto custaria tudo aquilo; seja examinando quais seriam as marcas ali presentes nos equipamentos (ou apenas contando quantas objetivas brancas estão ali). Outros perguntam-se a necessidade daquilo, quase como quem questiona o porquê dos supercarros — quem nunca pensou nisso ao ver imagens do set de equipamentos de alguma agência de imagens ou marca fotográfica?
Um fotógrafo, no entanto, destoa em meio ao enxame de profissionais hiperfocados em captar cada segundo, decisivo ou não, em suas moderníssimas ‘caixas escuras’: a exceção à regra chama-se David Burnett. Esse americano registra há décadas o grande evento que são as Olimpíadas, porém não da forma frenética e algo fast food de seus colegas, e sim à semelhança de um ilustrador que condensa todo um trecho de dez, quinze páginas de um livro em uma única e bela imagem. Suas fotos dos jogos olímpicos, que ele capta desde 1984, remetem não apenas à cada vez mais rara arte de clicar eventos em filme, como também à antiga filosofia de capturar a beleza do momento em detrimento da exatidão do clique no momento-chave — um modus operandi bastante utilizado pelos fotógrafos que tinham que lidar com filmes caros e limitados na época em que Burnett iniciou-se nos cliques dos atletas internacionais.
Seu trabalho mais lento e sua abordagem mais artística persistiram até os atuais tempos de demanda por agilidade máxima nas publicações, câmeras digitais, conexões sem fio. Com sua câmera Speed Graphic de filmes 4×5” e uma Holga de plástico, David Burnett entrega-nos frutos fotográficos capazes de nos fazer esquecer que hoje a disputa pode ser por milésimos de segundo à frente ou a acrobacia milimetricamente perfeita. Faz-nos pensar que, sim, o espirito da antiga cidade Olímpia ainda existe, e Burnett é seu mensageiro.