Fotografia em viagem, parte 4: Como fotografar
Para a próxima viagem talvez já tenha visto muitas dicas de como clicar. Mas algumas não custa lembrar (ou avisar).
Perdeu o começo da série? Chega aqui!
Não, não vou copiar o manual de sua câmera e lembrar onde fica o ajuste de abertura e etc. Minha pretensão é passar alguns macetes que aprendi em livros e treino prático. Se tiver dúvida sobre como fazer algo em sua câmera, leia o manual antes de tudo.
Essa parte aqui pode parecer bastante óbvia para quem lê livros sobre técnicas de fotografia, mas como nem todo mundo com uma câmera é um fotógrafo dedicado com tempo para pesquisar, não custa colocar aqui algumas dicas rápidas para quem está se aventurando num local desconhecido (ou quase isso). Aí vão…
Confie no fotômetro de sua câmera, mas sem exagero
Isso vale tanto para quem porta uma câmera compacta quanto para quem utiliza DSLR. Todas enganam-se ao se depararem, por exemplo, com uma cena mais escura ou um objeto escuro enchendo o quadro: a câmera vai querer clarear! (e vice-versa)
Então, na hora de escolher que câmera levar pra viagem, dê preferência a uma câmera que você já conheça os enganos que ela costuma cometer. Se isso não for possível ou não parecer boa ideia, aprenda bem o uso de EV. Que aliás, é um recurso bem útil quando se está fotografando em locais variados, com iluminação bastante diferente de um lugar para o outro.
Vale ter cuidado com o brilho do monitor também: dependendo desse brilho e da iluminação, você pode ter uma impressão errada sobre a eficácia na exposição de seu clique, ou seja, achar que uma foto que tirou com grande abertura num local ensolarado está escura ou achar muito clara uma foto tirada num local de luz fraca.
Enquadre tudo, inclusive os detalhes
Uma foto com ângulo bem aberto vai lhe dar uma perspectiva sobre o lugar; uma foto com zoom lhe dá uma visão mais detalhada, e dependendo do assunto, tanto uma como a outra podem ser muito interessantes como registro e até como expressão artística.
É mais aconselhável dar preferência a cliques mais abertos, porque se a foto tiver boa qualidade, pode-se optar por um corte. O contrário não acontece: não há como “abrir” um clique feito com zoom – o que foi clicado com zoom não pode ter visão ampliada!
Essa dica vale também para quando se vai fotografar grandes monumentos e pessoas juntos: chame as pessoas para perto e deixe o monumento mais atrás. Assim você enquadra o monumento mas também terá as pessoas aparecendo bem na foto, e não pequenas na imagem. Considerando que a maioria dos viajantes não costuma ampliar essas fotos em tamanhos grandes, é péssimo ver os viajantes irreconhecíveis como um pontinho junto à torre Eiffel, por exemplo.
Se abaixe, levante a câmera, mova-se.
Se pretende ter cliques ótimos na viagem mas não resistir à preguiça melhor nem ligar a câmera, ou muito provavelmente terá que lidar com a frustração de fotos que poderiam ser bem melhores apenas com uma mudança de plano, de ângulo. Não tenha vergonha de ficar em posições estranhas: quem ri de sua pose não vê sua foto (e com certeza também diverte-se menos por conta própria).
Temos já aqui um texto sobre o quanto a preguiça pode deixar suas fotos entediantes e difíceis de serem vendidas, vale dar uma lida.
Não quer perder tempo com foco? Use hiperfoco.
Parece algum nível de concentração para máxima produtividade, talvez até sob efeito de alguma droga para TDAH. Na verdade normalmente é algo do tipo, mas em fotografia o termo refere-se a uma técnica comum entre fotógrafos de paisagens para obter ampla nitidez numa imagem.
Evidentemente se não é o que pretende, esqueça. Em viagem, porém, saber a distância focal de seu kit — ou calcular rapidamente via site/app no celular — pode ajudá-lo bastante em várias situações frequentes entre viajantes. A técnica consiste em tirar proveito da física/óptica envolvida quanto ao foco, que abrange ⅓ atrás do ponto de foco e ⅔ à frente. Assim fazendo uso de abertura e distâncias adequadas tem-se tudo nítido numa faixa imensa da cena.
Tenha à mão, então uma anotação ou calculadora de profundidade de campo (a famosa DOF) e aproveite este macete para fotos de paisagem, nas ruas, cliques turísticos, onde quiser.
Não espere a hora ou o tempo certos: clique várias.
Você já passou por todo o processo de pensar/escolher o destino, a época da viagem, escolher como chegar lá, comprar as passagens (ou preparar seu carro), acertar sua hospedagem, preparar as malas, planejar roteiros (ou contratar sua vaga na excursão que tem os melhores).
Viajou, instalou-se, enfim está no local pretendido e… não está como esperava, não está na hora certa, e, principalmente, você não sabe se poderá voltar ali outra hora. Ou existe essa possibilidade de regresso, porém também a do tempo estar ainda pior. Você deixaria de clicar? Se sim tecnicamente você estaria adotando uma atitude contraproducente, especialmente se almeja produzir fotos para venda. Afinal tentar vender uma foto mediana — supondo que nem todas poderão ser melhoradas — é melhor que não ter nenhuma e ter a viagem perdida em um de seus objetivos (talvez até o principal).
Além do mais, o que pra você é uma foto mediana para alguém que busque uma imagem específica daquele local a sua “mediana” pode por algum motivo ser perfeita. Imagine ainda o prazer em produzir depois uma foto melhor e fazer a comparação. Aproveite, então.
Divirta-se!
Você está viajando, oras! Se não estiver fazendo sua viagem a trabalho, não há grandes motivos para estressar-se, concorda? O que contribuir para a diversão ao fotografar (lembrando: dentro do bom senso!) será válido; e quando der mais vontade de apenas viver a experiência sem preocupar-se com cliques, não há problema: viva e seja feliz!
Essas foram minhas dicas para os fotógrafos viajantes! E vocês, têm mais alguma(s)? Mandem aí nos comentários, serão bem-vindos!