Ricca Marques: paixão por escrever com a luz desde sempre
Desde que se conhece por gente é apaixonado por fotografia. Começou com amadoras e por horas fotografava o que aparecia: festas, aniversários, churrascos, encontros de família e amigos, por um único e simples motivo: paixão.
Ele nasceu em uma megalópole brasileira, aquela onde os registros de engarrafamentos batem qualquer lugar do país: São Paulo. Mais tarde foi para Jundiaí, interior do estado de São Paulo. Adora fotografar pessoas em situações reais ou produzidas. “Não importa se está vivendo de verdade aquele momento ou interpretando… é o que eu gosto de fazer. O expectador tem que sentir que está interagindo com a cena, precisa refletir sobre aquilo que está enxergando”, conta e emenda: “Vejo minha fotografia como cenas de filmes congeladas, a pessoa que está observando tem que se envolver com aquele momento, tem que ter ação, reação, contraste, movimento”.
Falamos de Ricardo Marques (ou Ricca Marques), fotógrafo de Publicidade e Moda e que tem a formação inicial de Design Gráfico. Segundo ele, o amor pela fotografia aconteceu por causa dessa outra profissão. “Já atuo na área há 10 anos e ao viver uma experiência no departamento de marketing da Federação Paulista das Uniodontos (onde era responsável pela área de criação) me identifiquei muito com a fotografia profissional por acompanhar e coordenar as produções publicitárias da empresa”, lembra.
Como iniciou a carreira como Design precocemente, a fotografia era a oportunidade de fazer algo realmente novo, que pudesse ir além dos seus limites. “Nessa mesma época tive contato com diversos fotógrafos experientes e a amizade permaneceu”, revela. Marques ainda lembra que foi atrás de alguns fotógrafos, logo após ter adquirido a primeira câmera que para ele era profissional: uma Nikon D40. “Meu maior desejo era aprender a fotografar de verdade e tive um feedback positivo. Como sempre atuei na área de publicidade e fazia muitos ‘freelas’ de design, os trabalhos foram surgindo de forma gradativa. E aí não parei mais”, conta.
Tanto não parou que hoje tem a Ousy. “É engraçado falar do nome Ousy. O nome surgiu quando eu e alguns amigos criamos um site de coberturas de balada, um bom tempo atrás! O site foi feito, mas o projeto ficou engavetado porque tínhamos outras prioridades profissionais.”, conta. Mas o fato é que desde o primeiro trabalho como designer gráfico, surgiram muitos freelas, porém não tinha tempo para atender todos e compartilhava os trabalhos com os amigos. “Surgiu daí a necessidade de criar um nome para identificar nosso trabalho, já que ficaria difícil ter uma identidade se cada um assinasse seus trabalhos, então o nome Ousy foi o aprovado pela turma e o adotamos para identificar um núcleo de trabalho. Na época da Uniodontos não paravam os trabalhos por fora, permitindo que eu largasse o emprego fixo. O projeto Ousy, então, se transformou na minha própria empresa”, relembra.
O primeiro trabalho foi, segundo as palavras do próprio fotógrafo, “Impactante e decisivo nas minhas escolhas na Fotografia e se refletiu no meu segmento de atuação. No começo, sem portfólio e ainda aprendendo o tempo todo, é muito difícil surgir trabalhos.”. Então veio a idéia: começou a convidar amigas modelos para fazer seus novos materiais na base de troca. Mas nem por isso deixava de realizar os ensaios com profissionalismo. Corria atrás de tudo: “equipe, locação, produção de moda, etc..“, lembra. Deu “sorte”: com esse portfólio inicial foi chamado para fazer um editorial de moda para o TCC de uma turma de formandos do curso Moda, na faculdade Anhembi Morumbi. “Com o apoio da turma consegui produzir um trabalho totalmente diferenciado do que vinha fazendo. A turma cuidou de toda produção com embasamento técnico e auxílio dos professores da faculdade. Muitos deles atuam no mercado da moda e são profissionais respeitados. Conseguimos um resultado satisfatório que se refletiu na nota do TCC”, conta.
A profissão de Designer e os desafios na fotografia
Lógico que fato de ser Designer ajudou e ajuda muito ainda. “No começo costumava dizer que era muito mais designer do que fotógrafo, já que com a falta de experiência, muitos ‘erros’ são cometidos. Erros que se fizeram fundamentais para eu melhorar a qualidade do meu trabalho”, conta e segue em frente: “De qualquer forma acredito que a pós-produção digital é imprescindível para o fotógrafo atual. Antes mesmo de fotografar profissionalmente, já fazia freelances de tratamento de imagens, onde os fotógrafos enviavam seus arquivos no formato RAW, então já tinha habilidade com Lightroom, Câmera Raw e todas as compensações digitais que eram necessárias”. Outro fator que ajudou muito, segundo ele, foi a familiarização com os termos técnicos, como balanços de branco, temperatura, exposição, preenchimento e por aí em diante porque quando os amigos fotógrafos comentavam o trabalho e sugeriam mudanças, ele já sabia do que eles estavam falando.
Ricca fala que o trabalho mais difícil que para ele é sempre o último. “Recentemente fiz um catálogo de moda que foi importante para mim. No dia da produção tivemos um problema com a locação e nos vimos obrigados a repensar todo o briefing em pouquíssimo tempo. Dentro desse panorama de fácil e difícil, um fotógrafo e uma equipe de produção têm maior controle da situação dentro de um estúdio’, acredita. Mas o fotógrafo ressalta que cada trabalho propõe novos desafios, que o bom trabalho acontece naturalmente se estivermos totalmente focados e, acima de tudo, entrosados com a equipe inteira.
Se é purista na fotografia? “Nem tem como ser purista, sou designer, né? Porém tenho sempre tentado apresentar cada vez mais naturalidade nas minhas edições, preservando as características naturais do modelo ou do objeto fotografado”, descreve.
A rede e as inspirações
Marques é um fotógrafo antenado nas novidades da rede. Ele vê de maneira positiva a troca de informações: “Além de aprender muito sobre fotografia, conheci profissionais maravilhosos, além de ter feito muitas amizades. Minha busca na rede está relacionada a esclarecer dúvidas sobre equipamentos e técnicas e observar o trabalho dos profissionais que admiro”.
Para esse profissional, ligado à publicidade e à moda, o estreitamento dessa relação através do twitter, por exemplo, pode fazer chegar diretamente na fonte e descobrir como um ou outro trabalho foi realizado. Lógico que ele vê os excessos. “Principalmente em comentários positivos, dá para ver que pessoa está ali apenas para marcar presença. Procuro fazer isso de forma coerente, buscando os pontos positivos que poderão ser acrescentados na minha própria fotografia e os pontos negativos, para que o interessado possa reavaliar aquele trabalho através de outros pontos de vista”, comenta. Além disso, usa o feed back das pessoas para corrigir falhas próprias que às vezes passam despercebidas.
As referências de Ricca são, como ele mesmo reforça, magos da fotografia digital: Dave Hill e Jill Greenberg. Mantendo essa lógica, no Brasil, quem se destaca para ele é o Clicio. “Além de um excelente fotógrafo, também possui uma habilidade ímpar na pós produção”, ressalta e acrescenta mais uma lista de fazer tremer qualquer um: “Costumo dividir minhas referências entre mestres consagrados da fotografia como Irving Peen, Helmut Newton e Patrick Demarchelier e alguns não tão conhecidos por todos: Hakan Celebi e Jan Masny, e os brasileiros como Jr. Duran, Bob Wolfenson e Jacques Dequeker”.
Crise e mercado brasileiro
Apesar de toda essa inspiração na veia, na mente e principalmente no coração, o fotógrafo paulista já teve sua crise com a fotografia. “Todo profissional, que realmente é apaixonado pelo que faz sofre, em algum momento com crises. Novos jobs trazem novas perspectivas e expectativas. E dessa forma, eu passo o tempo todo querendo me superar”. Ele conta que, geralmente, quando busca novas referências sofre crises por achar que o trabalho dos outros está melhor que o dele. “Outro dia um amigo questionou: ‘Porque a luz do outro é sempre melhor que a nossa?’”, lembra. Mas uma das maiores crises para esse profissional estava relacionada à aquisição de equipamentos. “Num determinado momento, achei que precisava cada vez mais, para que pudesse desenvolver bons trabalhos. Mas cheguei à conclusão que na verdade tenho sempre que apresentar o meu melhor, independente dos equipamentos disponíveis”, conclui.
Ricca acredita que a maior dificuldade do profissional brasileiro está ligada ligado à valorização. “O mercado e as facilidades da fotografia digital permitem que qualquer pessoa com uma câmera se intitule fotógrafo. Isso torna-se uma grande desvantagem para muitos bons profissionais que estão realmente correndo atrás de conquistar seu lugar ao sol, estudando, investindo, batalhando”. Com isso, segundo ele, fica muito difícil para o profissional que está iniciando buscar uma remuneração justa dentro do seu estilo e acabamos por ver muitos fotógrafos voltados à área de moda, por exemplo, migrando para fotografia social. “Muitos dizem que o mais importante na fotografia é o olhar, mas na fotografia comercial, claro que o dom é fundamental, porém deve estar associado à técnica, habilidade e também a um bom equipamento, já que fotografia de publicidade e moda, exige cada vez mais qualidade final.”, revela.
O fotógrafo paulista destaca ainda mais uma dificuldade: “iniciantes conquistarem um espaço no mercado comercial, onde estão as boas verbas, tendo um estilo mais autoral, pois o mercado não o absorve, tudo é visto como erro, ao contrário do que acontece fora do Brasil”, fala. Para exemplificar, ele cita os “erros” cometidos por ele e citados no começo dessa entrevista. Eles foram transformados em estilo de trabalho. “Um bom exemplo são as sombras duras e marcadas que adoro usar. Ali eu enxergo volume, dramaticidade e mais realismo. Mas até incorporar esses “erros” em estilo de trabalho, desenvolvi um trabalho ‘certinho’ para poder começar a ter espaço nesse mercado tão competitivo”. Com o know how de mercado e a credibilidade solidificada, de acordo com a fala de Marques, podemos adotar um estilo mais pessoal, que vire quase uma marca nas fotos. “Mas no início de carreira isso não funciona. Vejo fotógrafos consagrados abusando do flare e dos ruídos, variando exposição e todo mundo acha lindo. É um profissional que tem um conceito e estilos próprios. Mas se um iniciante ousar dessa mesma forma será considerado um profissional ruim”, lembra.
Para finalizar, Ricca Marques deixa um recado para os leitores do Fotografia DG e amantes de foto: “Fotógrafos amadores ou profissionais, estão cada vez mais conectados. Vejo muitos profissionais admirando trabalhos dos chamados ‘amadores’. Por isso quando vemos a fotografia como arte, cultura, evolução, temos que respeitar a todos, não só nas moderações aos comentários, mas em nossas próprias produções, indiferente às habilidades. O bom senso tem que vir em primeiro lugar. Hoje existem inúmeros canais para aperfeiçoar nossos conhecimentos, o próprio Fotografia DG tem um conteúdo incrível à disposição de todos. Se usarmos isso a favor da fotografia, no seu sentido mais amplo, indiferentes a interesses pessoais, teremos cada vez mais belas imagens para admirar e se envolver!”
Para quem quiser conhecer melhor o fotografo Ricca Marques visite o seu Flickr, Twitter e deixa-mos ainda o seu endereço de email.