Pormenores para mais tarde recordar
Com apenas 17 anos, Marta Filipa já não passa um dia sem fotografar. A sua máquina, fiel companheira de todas as horas, está sempre na sua mala, pronta a ser usada. Como sabe que “nada é para sempre”, Marta prefere guardar tudo, e tem a fotografia como uma “ajudante da minha memória”.
A foto em questão, sem título, foi tirada num descampado perto da casa de uma das amigas que a acompanharam neste dia: “Foi divertido. Nesse dia estava a ser filmada por uma amiga e, ao rever o vídeo, lembro-me essencialmente que foi divertido”. Mas a diversão não a impediu de obter esta fotografia que, explica, capta uma personagem perdida no seu mundo, que pode não estar assim tão afastado do nosso: “ela encarnou um pouco um ser meio mulher, meio criança, meio selvagem, que foi fotografada no seu mais profundo sono”. Sem usar nenhuma técnica em especial, Marta usou a sua Sony a200 – lente: 18-70mm, e assume ter feito “apenas uma brincadeira no contraste e na luz”.
Sempre atenta aos pormenores, esta estudante do 12.º segundo ano de Artes Visuais, que começou a fotografar com 14 anos, conta-nos que costuma ser acusada de ser perfeccionista (o que nega peremptoriamente) por dar tanta importância ao que, aos olhos dos outros, é geralmente ignorado: “prendem-me pequenas coisas, como um cabelo fora no lugar, uma mão pousada num colo, as páginas de um livro que tanto gosto me está a dar ler, uma pestana, ou a pontinha de sol no meu lençol de manhã quando acordo”.
São também estas as situações que se habituou a fotografar, porque acha que todos nós somos feitos de pormenores e que é neles que vê os seus defeitos e a sua evolução. Apesar disso, goste de apreciar todo o tipo de fotografias, e confessa que passa horas perdida na internet a ver fotos de anónimos, e todos os dias vai vendo novas fotografias, acabando por ser “apaixonar por novas pessoas e novas maneiras de fotografar”.
Para além da componente sentimental, Marta põe na fotografia finalidade prática: ter sempre garantido que pode recordar o que viveu, especialmente a parte boa. As pessoas com quem se cruza e os sítios por onde deambula ficam assim eternizados, como se ficassem guardados num álbum que poderá abrir quando quiser: “o que mais inspira (mais do que luzes, pessoas, objectos, músicas e rotinas) é o medo de me esquecer, é isso que faz com que ande sempre com a máquina na mala. Este estúpido (e maravilhoso – na verdade) medo de esquecer”.
Cautelosa, tem noção que nada dura muito tempo e, aos 17 anos, conta já com fotografias que têm tanto de inquietantes como de sublimes. Esperemos que nunca lhe faltem pormenores para fotografar porque nós ficamos, curiosos, à espera de mais.
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