O que uma foto precisa ter para ser considerada uma boa foto?
Olá, meu nome é Juliano. As pessoas me conhecem como Juliano Coelho mas honestamente em minha intimidade gosto de ser chamado apenas de Ju (e me torno íntimo das pessoas bem rápido). Sou conhecido por fazer retratos femininos e através de Oficinas e palestras pela Escola de Retratos e agora tenho a honra de fazer parte de uma coluna mensal aqui no Fotografia-DG.
Em minhas aulas frequentemente pergunto aos meus alunos ´o que uma foto precisa ter para ser considerada uma boa foto´? E muitas vezes, talvez quase todas, as respostas são surpreendentes. É normal toda vez que fazemos essas perguntas ouvirmos diferentes respostas. `Composição´ – certa vez falou um aluno. Afinal a composição é o que não deixa a foto chata e a torna interessante. Outros respondem luz, direção, nitidez, qualidade de imagem, cores, uma boa edição, enfim, as respostas são inúmeras e todas elas estão certas. Porém todas elas também estão erradas, dependendo do ponto de vista. Como assim erradas?
Já parou para refletir o quanto uma opinião fotográfica está totalmente relacionado em muitos casos ao nosso gosto pessoal? Por vezes olhamos uma imagem e apenas gostamos dela e nem sabemos explicar o por quê gostamos. Quantas vezes uma foto não nos roubou o fôlego e talvez nem tivesse uma composição tão marcante? Talvez fosse somente um olhar, com um fundo limpo, neutro e uma luz suave? Mas mesmo assim teve um impacto visual tremendo em nosso âmago. Qual seria a resposta então?
Para uma fotografia ser considerada boa, em minha opinião ela tem de ter apenas uma palavra: alma.
Entendo que essa palavra resume e se refere à tudo, mas de uma maneira diferente. Geralmente pensamos em aspectos técnicos separados em uma fotografia. Porém quando entendemos que uma foto tem alma, ela vai mais além. Falando nisso, a campeã de audiência em minhas oficinas quando faço a mesma pergunta aos meus alunos é a palavra sentimento. Foto precisa ter sentimento – falam. Sério? Falar que foto precisa ter sentimento é quase o mesmo que dizer que um sorvete precisa ser gelado. Redundante. Aliás, diga-se de passagem, por apenas passar os olhos em obras de arte, imagens e fotos – algo totalmente típico de nossa geração – ficamos mais preguiçosos ao analisar imagens e tentar descobrir o por quê elas mexem ou não conosco e apenas nos enganamos a si mesmos dizendo “essa foto tem sentimento”. Confundimos o sentimento na fotografia com a estética da fotografia. Hoje vemos muitas fotos lindas em redes sociais, mas por vezes são fotos apenas ocas, vazias, sem alma. Apenas estética. Estamos muito preocupados com a estética da fotografia e muito pouco preocupados em colocar nossa alma nela.
Alma é tudo. É fazer a foto com o coração – sim, ela precisa ter sentimentos e isso não se refere apenas à um bebezinho perfeitinho recém-nascido ou um belo casal de branco andando na praia com balões de coração. Uma das fotos que mais me impactou na vida foi um retrato do Ryan Muirhead no funeral de sua sobrinha Sapphire, que faleceu com apenas 10 dias. Eu chovara como criança ao vê-lo contando a história da foto em seu workshop. Sentimentos ruins também fazem parte da alma, pois alma é vida. Alma também é fazer foto com nossa mente, usar todo nosso entendimento de criatividade e deixar uma mensagem ao mundo. Alma também é fazer foto com os olhos, enxergar o inusitado no ordinário. Alma é vida, é colocar a sua vida, seu coração, seu cérebro, seu olhar, você inteiro em sua imagem, mesmo que ela seja a mais simples e mesmo que o sentimento seja pior possível. Aliás, se sentimento fosse o principal em uma imagem, por quê não fotografamos mais funerais? Situações onde o sentimento de todos é profundo e dolorido.
Não faça fotos apenas para agradar os olhos e não meça a qualidade de sua foto apenas com técnica. Coloque sua alma em sua fotografia. Deixe-a mais orgânica, viva, extremamente convidativa, afinal uma foto é a tradução de como enxergamos nosso mundo ao nosso redor – ou pelo menos, deveria ser. Deixo uma frase que me impactou muito e essa frase é do Ryan Muirhead. Talvez ele seja o cara mais sensível que eu conheci em toda minha vida e suas fotos são cheias de alma, energia e as vezes até depressão, mas seu conselho me mudou para sempre: “use mais quem você é para fazer uma foto”.
Muitas vezes gastamos mais nossa energia e recursos para fazer fotos com o que temos nas mãos e para agradar a opinião dos outros e esquecemos de colocar nela o principal, apenas nossa alma.”
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