Romantismo feminino – uma resistente
Depois de uma pequena pesquisa sobre quais fotógrafas os outros fotógrafos do Brasil queriam que fosse entrevistada, nos deparamos com a catarinense, nascida em São Francisco do Sul, Lair Leoni Bernardoni, 71, casada, mãe de cinco filhos e filhas. Na bagagem, exposições internacionais em lugares como Buenos Aires (Argentina, 84), Montevideo (Uruguai. 84 e 89), Assunción (Paraguai, 84), Madrid (Espanha, 86), Roma (Itália, 86), Paris (França, em 87), Lima (Peru, em 89). Na década de 90 passou por New York e Washington (Estados Unidos), Wien (Áustria), Otawwa (Canadá) e Athina (na Grécia). Depois, em 2005, esteve com uma exposição no Chile, em Isla Negra. A fotógrafa catarinense também já teve suas obras expostas no Museu de Arte de Moderna de São Paulo (MASP).
Com fotos voltadas ao que conhecemos como Foto Arte, Lair acredita que acima de tudo, deve-se ter estilo já que a cópia não leva a lugar nenhum. Autodidata. Ela divide a seguir com os leitores do Fotografia DG um pouco do seu mundo fotográfico e revela que uma quarta obra fotográfica está a caminho.
Casa das Rosas – Joaquim Araújo
1 – Quando começou a fotografar? Por quê?
Em l982, numa cena de prova de vestido (eu tinha uma Maison de Alta Costura), mas sou filha de um pintor que à sua época teve renome no Brasil e cresci sempre envolvida com Arte.
2 – Fez algum curso de fotografia? Onde?
Não, sou autodidata- mas já fiz palestras e work-shops.
3 – O que fazia antes de trabalhar com imagens?
Tive uma Maison de Alta Costura e decorava algum canto das casas que meu marido construía.
4 – Pelas fotos (e pela logo do site) notamos a sua inclinação e paixão por Foto Arte/ Fine Art. Por que essa escolha? O que a motivou?
Eu sou assim- imagino que a mulher tenha envolta de si um romantismo, que sei, tende a desaparecer, mas eu resisto
5 – Qual o equipamento que usava quando começou sua carreira? Qual usa agora? Quais os motivos dessa escolha?
Uma Nikon FE e é ainda com ela que faço as imagens que deram à minha obra notoriedade internacional. Temos uma cumplicidade alinhando meu coração junto ao cérebro dela.
6 – Como vê o advento da fotografia digital?
Era de se esperar pela velocidade que o mundo gira. Assim como o celular, ela tornou-se peça de resistência para qualquer pessoa.
7 – Quais foram os lugares que você trabalhou? Conte-nos uma experiência marcante?
Sempre trabalhei em casa, criando meus cenários e dedicando pró renascimento do Portrait que estava como Arte quase em desuso na fotografia. Depois quando busquei a Figura na Paisagem, ainda assim busquei na figura feminina a imagem etérea, soft, poética e só mais tarde me apaixonei doloridamente pela paisagem, por Janelas e Portas, mas nunca me desviei do clima lírico.
8 – Você tem livros publicados. Qual foi a maior dificuldade enfrentada para publicá-los?
Tenho três: Girassol, Giralua, onde começa meu envolvimento com as Letras. Depois, Pinceladas de Luz, que também foi nome de exposições ainda que em outros idiomas. Esta obra transcreve os Juízos críticos de pessoas de cultura e entendimento de Arte Fotográfica. E o terceiro, Asas Azuis, Poema Alado, também bilíngue e que já faz parte do acervo de grandes Bibliotecas e Museus. Não tive dificuldade para editá-los e intenciono ainda uma quarta obra. São obras em papel couche, a cores e alguns requintes de capa, sobre-capa e por aí vai. . . Deve ter poucos remanescentes na Livraria Curitiba.
9- Como a família encara sua profissão?
São partícipes. Meu marido, mais especialmente, e minhas filhas são ainda modelos e agora já netas vem chegando mais perto do visor da Nikon.
10- Quais são suas referências fotográficas?
Referências ou admiração? No Brasil me encantava a obra de Klaus Mitteldorf, porque ele fotografava o oposto do que sei fazer. Cores muito exuberantes. Eu gosto da luz de janela e ele do sol absoluto.
11 – Quais as mensagens para os leitores do Fotografia DG?
Me encanta que cada vez mais mulheres estejam com suas câmeras a tiracolo, mas não sou feminista, não. Sou muito feminina. Mas é fundamental que criem um ESTILO. A cópia não leva a lugar nenhum. Quando a Primeira Dama do Canadá e Gina Lolobrígida, duas mulheres de renome e fama apareceram como Fotógrafas nos anos 50, 60, imagino, espertou a coragem e a retaguarda de apoio e aplausos que promoveu a entrada da mulher na fotografia da metade do século 20. No século 19 e começo o século 20, foram algumas poucas brilhantes, todas, no entanto eram dedicadas ao Portrait e compuseram obras antológicas.
A maior de todas aos meus olhos foi marcada e estigmatizada porque profissionalmente fez as imagens para a Grandeza do Terceiro Reich. Nascida em Agosto de 1902 usou como quase nenhum outro o Preto X Branco. Seu nome: Leni Riefenstahl– esta mulher criou imagens antológicas de técnica e perfeição e com os recursos parcos do ano 40- ou seja, muito limite para ser tão espetacular. Sua obra ligou-se a propaganda do Terceiro Reich e no pós guerra foi estigmatizada. Ela sequer era filiada ao partido, mas estava por demais envolvida pelas imagens que é assustador, mas espetacular! Depois da guerra saiu de cena e mais tarde aos noventa anos foi fotografar o fundo do mar- maravilhosa também.
Morreu não faz muito, aos 103 anos.
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